Foi ali em um momento de atenção plena, de deslumbramento pela vista, de apreciação do presente, que Karol percebeu que o acaso não era bem ao acaso, o fato do cavalo se chamar Capitão, a fez relembrar que ela mesma era Capitã do seu barco, ela havia esquecido que ela é quem toma a direção, emoções poderiam ir e vir, mas a escolha de retroceder ou seguir eram dela, ela poderia se estagnar no passado, ou poderia junto com as coisas boas dele seguir em frente, bastava apenas uma decisão, um ajuste de velas, precisão no timão e nada a impediria de continuar em busca de seus sonhos.
Karol não sabia definir o que aquele cavalo tinha, mas que ele era mágico disso ela teve certeza.
- Você é incrível Capitão! - disse Karol abraçando o cavalo.
De uma certa forma Karol sempre se conectou com os animais, mas este cavalo lhe proporcionou uma conexão única, ela se sentía mais viva, mais comungada com a natureza e sua força como nunca antes. Definitivamente essa viagem era muito necessária e parecia ser um momento chave em sua vida.
Ela cavalgou pelos campos leste até próximo do almoço, o cavalo a conduziu até o estábulo, lá com ajuda do responsável ela desceu do animal dizendo ao senhor:
- Eu só vou almoçar eu volto já já para andar mais com ele.
- Okay senhorita, vou deixar ele mais reservado então. Bom almoço - disse o senhor gentilmente.
Ela caminhou pelas trilhas até chegar no hotel, rapidamente se direcionou ao ambiente do restaurante que estava deveras cheio, mas conseguiu encontrar sua mãe e Alejandro a esperando em uma das mesas.
- Uhh cheguei! - anunciou ela se sentando.
- Onde estava? - perguntou Carolina.
- Andando a cavalo por aí! - respondeu Karol animada.
- Que bom te ver assim filha. Vamos comer então? - retornou Carolina.
- Vamos... - respondeu Karol, ainda que tivesse receio.
Ela montou um prato bem ameno, com mais verduras e legumes em poucas quantidades, quando retornaram a mesa, Carolina ao perceber o conteúdo do prato da filha a diz:
- Você podia pegar o que quisesse filha, não precisa ficar só no saudável.
- Na verdade estou sem fome e prefiro coisas leves Mamá. - explicou Karol.
- Cansaço, banho, comida saudável... hummm - pensou alto Carolina.
- Faltou a senhora dizer, agenda lotada, corre, corre, comida pronta, tempo curto para descanso... - retrucou Karol.
- Okay, Okay, não vou comentar mais. - concluiu Carolina.
Depois de almoçar Karol pediu licença, e avisou que voltaria ao estábulo, que provavelmente andaría a cavalo toda a tarde, mas que os encontraria para o jantar ali no restaurante.
Após Karol sair, Alejandro olhou para Carolina que o disse:
- Meu sexto sentido de mãe está me dizendo que tem algo acontecendo com ela Ale.
- E emocional Caro, de tempo pra ela - sugeriu Alejandro.
- Acha que ela ainda sente algo por ele? - perguntou Carolina.
- Ele quem? - retornou Alejandro distraído.
- Ruggero. - respondeu Carolina.
- Eu acho que ela nunca deixou de sentir algo por ele... - disse Alejandro.
- Sendo assim a sua colocação de que é emocional faz muito sentido. - pensou alto Carolina.
- Ela vai se sentir melhor com o passar o tempo você vai ver... - concluiu Alejandro.
Na trilha até o estábulo Karol caminhava pacatamente, aproveitando da natureza exuberante do percurso, contudo assim que passou pela fonte, sentiu uma contração abdominal e sua boca passou a encher de água, ela desejou por um instante que o almoço não voltasse, mas no passo seguinte ela só teve tempo de se inclinar sobre o guarda-corpo e tudo saiu. Quando as movimentações internas diminuíram ela se ergueu, levou uma das mãos a testa enquanto seu corpo se estabilizava. Mais estável voltou a caminhar, chegando no estábulo o responsável quando a viu a perguntou:
- A senhorita está bem, está muito pálida?
- Estou sim, só por favor me ajude a subir no Capitão. - respondeu Karol indo em direção ao cavalo.
O senhor a ajudou a subir, mas parecia bem preocupado com ela, o que a fez dizer:
- Estou bem, não se preocupe!
Saindo do estábulo ela se abraçou ao cavalo e o disse:
- Me leve pra onde eu possa pensar...
O cavalo passou a seguir um rumo diferente do que havia a levado no dia anterior e pela manhã. Quando ela percebeu eles já estavam em uma floresta mais fechada e escura, o que gerou calafrios em Karol, mas antes que ela pudesse se render ao medo, chegaram a uma clareira circular, onde Capitão foi até o centro e ali ficou parado, muito quieto, o que fez Karol perceber o silêncio. O silêncio é sempre poderoso quando precisamos pensar e reorganizar memórias e idéias. Ela voltou a deitar abraçada sobre o cavalo que permaneceu muito quieto, a dando margem para ouvir o que sua mente tinha a lhe dizer. Aquela velha mistura de emoções a invadiu, amor e ódio, dentro se si ela sentia tanto amor, era como se seu coração seguisse um caminho, diferente de sua mente que alimentava o ódio por todas as coisas ruins que haviam acontecido. Devagar ela foi analisando uma a uma, boa e ruim, até compreender que o que ela precisava era juntar ambas as emoções, se deixar senti-las ao máximo, afinal toda a emoção tem um lado positivo e um negativo, o que ela precisava era identificar esses momentos e aprender a trabalha-los para melhora-los dentro de si, equilibrando a fantasia das situações.
Karol acabou pegando no sono, em meio a calmaria do local. Mais tarde Capitão passou a bufar para acorda-la e conseguiu, assim que ela se localizou ele passou a caminhar novamente através da floresta. Ainda um pouco sonolenta, tratou de se manter bem grudada ao cavalo enquanto passavam pela floresta mais densa novamente. Ela não sabia quanto tempo havia dormido, pois quando chegaram em campo aberto ela percebeu que o sol já estava em fase de poente. Capitão a levou diretamente ao estábulo, lá o responsável novamente a ajudou a descer, mas ela abraçou o cavalo firmemente e o agradeceu muito por tudo o soltando em seguida. Porém o senhor antes que ela pegasse a trilha a perguntou:
- Senhorita ainda está pálida, tem certeza de que está bem?
- Estou sim...mas obrigado por se preocupar... até amanhã. - respondeu Karol.
Ela seguiu a trilha, passou pela fonte e foi direto ao restaurante do hotel, viu que sua mãe e Alejandro a estavam esperando, ela se aproximou, pegou um prato e disse que iria ao buffet.
Em frente aquela bancada cheia de comida, ela teve ânsia, o cheiro a incomodava, mesmo assim pegou 4 coisas dispondo no prato estrategicamente para parecer bem cheio, voltou a mesa se sentando, sua mãe mais do que rápido a perguntou:
- Filha, tudo bem?
- Sim Mamá... - respondeu ela tentando lidar com seu corpo com zero afinidade para comida.
- Está um pouco pálida, aconteceu algo no passeio? - insistiu Carolina.
- Estou bem e o passeio foi ótimo, deve ser só meu corpo mandando o cansaço embora. - respondeu Karol.
Carolina aceitou a resposta e se levantou para ir ao buffet. Assim que Carolina saiu, Alejandro olhou bem para Karol que o percebeu e a questionou:
- Vomitou outra vez?
Ela respondeu que sim gestualmente.
- Então vai com calma agora, porque você realmente está bem pálida. - sugeriu e expôs Alejandro.
- Ale... - começou Karol.
- Diga. - disse Alejandro.
- Eu não sei o que está acontecendo comigo... - exteriorizou Karol.
- É emocional Karol, é só isso, quer queira quer não o reencontro te tirou da linha que você vinha firme, mas tenha calma, logo você se estabiliza. - explicou Alejandro.
Ela se contentou com a possibilidade, fazia sentido, afinal tudo ocorreu rápido e sua mente e corpo se degladiaram muito naquela noite, mesmo que o corpo e coração tenham vencido aquela batalha.
Karol comeu metade do que havia no prato, mastigando muito bem e se mantendo positiva de que a ânsia não viria novamente e muito menos o vomito.
Depois de jantarem, não tinham nenhum pouco de sono, foram até o salão de jogos que era enorme e tinha de tudo um pouco. Os três foram para uma mesa de sinuca que estava liberada e jogaram um bom tempo, depois trocaram de jogo conforme foram sendo liberados. Sem perceberem haviam passado 4 horas, era bem tarde. No caminho para o quarto, Karol percebeu que não havia passado mal, o que foi muito reconfortante e a fez ir dormir tranquila.
Na manhã seguinte, Karol acordou cedo, mais do que Alejandro e sua mãe, trocou de roupa, desceu até o restaurante, comeu uma tigela de cereal, mantendo o pensamento de que ela não passaria mal, foi até a recepção deixar um aviso para sua mãe e saiu trilhas a fora. Decidida a pegar uma trilha diferente dessa vez, ela escolheu o caminho para o rio, que era mais longo, tinha aproximadamente 1.5km, seria uma boa caminhada, mas ela estava disposta a aproveitar toda a jornada. Caminhava desfrutando do sol que batia entre as árvores e as vezes chegava em seu rosto, do dançar dos pássaros, borboletas e abelhas gordinhas e felpudas muito fofas, o vento soprava leve trazendo o aroma do orvalho da manhã, ela se sentía conectando-se com os elementais, não sentiu a necessidade de ir a cavalo, dessa vez ela precisava ir por ela mesma em muitos sentidos.
No entanto em meio a caminhada um cheiro especifico de algum animal a fez ter ânsia novamente, aquilo a chateava porque o cereal estava tão bom. Passado um momento, a sensação alíviou, ela seguiu o caminho, pensando em si mesma, em seus projetos, sonhos, sem seus sentimentos e emoções, era como se cada passo a levasse para um lugar dentro dela mesma para que se reconhecece, fizesse limpezas em seus ambientes internos, eliminando o que já não servia mais, compreendendo que a Karol, a Karol Sevilla e seus personagens eram seres distintos, mas que faziam parte um do outro, mas nesse momento o que ela mais precisava era se conectar profundamente somente com a Karol, pessoa comum, simples, sonhadora, que tinha uma história de vida carregada de situações mescladas, que foram superadas ainda que naquele tempo ela achasse que não, porém tudo passou, ela cresceu e agora estava aprendendo a evoluir.
Embuida em seu interior enquanto seus olhos estimavam o caminho, seu corpo foi dando sinais de que o rio estava próximo, ela sentia a vibração da correnteza da água, sem demora chegou a margem, era um rio de água transparente, deveria ter uns 3 metros de largura, tinha uma correnteza não muito forte mas incessante. Ela se abaixou para sentir água que era surpreendentemente morna, o que a fez tirar os sapatos, erguer as calças até o joelho e entrar no rio, caminhando na parte raza, sentindo a correnteza.
Era muiti energizante, como se a correnteza carregasse energia pura que a estavam recarregando, o calor sutil da água a fazia se sentir acolhida, abraçada, a incentivando a fazer isso internamente, abraçar sua criança interior, sua adolescente, ambas a faziam ser a jovem adulta que ela estava se tornando.