Karol sentia o calor pulsando no seu corpo, de baixo pra cima, de dentro pra fora, tentava controlar a respiração, e ao raciocionar o que ele havia dito brandou:
- Ruggero!!
- Não Ka... - ficou irredutível.
- Quem é você? - questionou - O Ruggero que eu conheço aproveitaria qualquer oportunidade! - exclamou ela no automático, já que estava tentando entender as sensações em seu corpo.
Ele solta novamente o legume na bancada, vira pra ela a fitando e contrapõe:
- Não tinha bebê antes, agora tem e eu não quero machucar você! - reagiu ele.
Ela franze a testa e diz se aproximando contendo o ímpeto que brotava de seu interior:
- Ah claro, machucar... desde quando? Na primeira vez tudo bem, você sentir medo de acontecer isso, mas pelo amor, já fizemos isso centenas de vezes, e não por nada - quase cola o rosto no dele - mas a gente se encaixa de um jeito...
Ruggero ficou consideravelmente vermelho, se concentrou nos cortes dos legumes, Karol percebeu que aquilo estava sendo incômodo não só pra ele como pra ela também, porque o que estava sentindo estava fazendo ela dizer coisas sem pensar.
Ela se afastou um pouco e pigarregando mudou de assunto o perguntando:
- Bom, afinal o que você quer fazer?
- Eu acabei de dizer que não quero fazer. - respondeu ele concentrado descascando legumes.
Ela contraiu os olhos, suspirou e retornou:
- Eu estou falando do almoço o que você quer fazer pra comermos?
- Ah... me desculpe, soufle de legumes... o assunto anterior me tirou um pouco o senso... - compreendeu e justificou ele.
- E o que eu posso fazer pra ajudar? - perguntou ela com uma cascata de perguntas abrindo em várias abas em sua mente.
- Os legumes precisam ser cortados em cubinhos bem pequenos, acha que consegue? - retornou ele.
- Como pro caldo do seu pai presumo, consigo sim. - respondeu ela sem titubear.
Ruggero surpreso com a resposta dela, passou os legumes que já havia descascado para uma tigela, a pousando no balcão perto de Karol, adicionando uma tábua e uma faca a alertando:
- Tome cuidado sim.
Ela assentiu com a cabeça, passou a cortar os legumes, mas sua cabeça continuava abrindo cada vez mais abas de perguntas, de tantas ela resolveu começar a fazê-las.
- O assunto anterior te tirou o senso você disse, mas me parece que você não teve muito senso com algumas músicas suas. - largou de uma vez ela.
- De que está falando agora? - perguntou ele quebrando ovos em uma tigela.
- De "Usame"... - respondeu ela.
- Que que tem? - indagou inocentemente ele rindo.
- Ah... o que que tem... claro... - ela vira de frente pra ele com a faca na mão a usando como acessório comunicativo - Primeiro você fez o clip baseado no que aconteceu no hotel em Málaga, além disso o vício de procurar moças que sejam parecidas comigo... e... - leva a outra mão a cintura, possessa - "te comi com Nutella"... RUGGERO!! - despejou algo que estava ali preso na garganta há algum tempo.
- Primeiro senhorita, baixe a faca, segundo sim, admito sobre sempre buscar moças parecidas contigo, por referência... - começou ele.
- Referência?? Pra que referência? - interrompeu atônita ela.
- Terceiro - seguiu - rimava com a letra e bom aconteceu mesmo. Referência sim, porque escrever nossa história com as músicas me ajudou a sair do buraco que você mesma me jogou no último show. - concluiu com o raciocínio da resposta, sem tirar os olhos da tigela de ovos, como se buscasse seu reflexo nas claras pra olhar pra si mesmo e não sentir que havia sido muito duro com sua fala.
Ela apoiou os pulsos no balcão olhando pra tábua, mordiscou algumas vezes a parte interna da bochecha e disse em tom áspero:
- É... temos muita coisa pra conversar...
- É temos... - suspirou - Me dá licença eu preciso ir ao banheiro... - informou ele indo para o corredor.
Karol ficou ali, se ela tivesse força teria rompido a bancada de pedra com os punhos de tanto pressioná-la, ela sabia que uma hora ou outra eles teriam que conversar sobre algumas coisas, pra resolver questões que haviam ficado pendentes.
Minutos depois, Ruggero veio como um raio pelo corredor, ofegante, com a mão em seu peito, a segurou pelo pulso a puxando para olhar pra ele o mais delicado que conseguiu ser e pôs pra fora:
- Porque você faz isso, porque age como se eu não tivesse sofrido também??
Ela se retraiu indo para trás sem mover os pés, estupefata com a pergunta, não conseguiu reagir e ele continuou:
- Você acha que foi fácil? ACHA? - se conteve respirando devagar - Acha que eu consegui superar... superar você saindo pela coxia sem olhar pra trás, sendo que eu repeti pra você muitas vezes aquele dia inteiro o quanto eu te amava!
Karol estava estática, apenas suas pupilas se mexiam olhando fixamente nos olhos dele, enquanto ele a segurava pelos punhos tentando transmitir tudo que queria além da fala.
- Eu disse pra você, coloquei em uma música isso, se preciso diga a eles que a CULPA FOI MINHA... - o ar começava a escapar tão rápido de seu pulmão que quase nem parecia entrar - A culpa... - engole saliva pra tentar desubistruir a glote permitindo o ar entrar - A culpa foi minha, eu quis proteger você, eu não queria... eu não queria te peder... mas... Mas você também tem culpa, porque nunca me deixou conversar e eu fui, eu fui atrás de você ... VOCÊ NÃO QUERIA FALAR COMIGO! - continuou Ruggero, seu coração estava batendo tão acelerado que Karol podia sentir pelos dedos dele que seguravam seus pulsos.
Antonella veio correndo pelo corredor,
Se aproximou deles e questionou muito preocupada:
- Vocês estão brigando??
Karol fez um movimento brusco com as mãos soltando os pulsos das mãos dele e respondeu:
- Não Nella...
Ela olhou pra ele alguns segundos mais, ambos estavam à ponto de deixarem as lágrimas caírem. Karol acenou com a cabeça contraindo os lábios, passou por ele e Antonella e correu para o jardim.
- O que você falou pra ela Ruggero? - questionou Antonella em tom bravio.
Ruggero que estava de costas pra sua mãe virou de lado se encostando no balcão, a olhou com uma lágrima deslizando por seu semblante e a respondeu levando uma das mãos ao peito:
- As vezes ela acha que só ela sofreu... e eu sou sempre o mau da história... mas não foi assim...
- E porque resolveram falar disso, porque não deixaram as coisas pra trás, agora as coisas são diferentes... - tentou argumentar Antonella.
Os lábios de Ruggero estavam arroxeando, ele tinha uma dificuldade tremenda de respirar e muito ofegante pediu:
- Mamma... m-meus remédios...
Antonella segurou o rosto do filho um instante vendo a cor dos lábios do menino, correu pelos medicamentos e um copo de água. O induziu a sentar, a se acalmar primeiro para poder tomar a medicação.