Depois de se perderem por um tempo um dentro do outro, Ruggero retornou para a realidade. A fazendo carinho no rosto, foi aos poucos trazendo ela de volta, quando ela começou a piscar, tirou a mangueira de água de suas mãos e a desligou soltando o equipamento no chão cochichando:
- Acho que agora as plantas estão começando a ficar de ressaca.
Ela riu, em seguida quis saber:
- Onde estávamos?
- Passeando dentro um do outro. Vem comigo, quero te mostrar uma coisa. - respondeu e propôs ele a conduzindo.
- Onde vamos? - perguntou Karol curiosa contornando a casa junto a ele.
- Já vamos chegar! - respondeu ele.
Mais a frente na área mais estreita entre a casa e o muro, havia um recuo na parede, nele uma porta pequena de madeira, de maçaneta redonda adornada em cobre envelhecido. Ruggero limpou as teias de aranha no contorno da porta, girou a maçaneta, tentando abri-la, mas estava empenada, o que dificultava um pouco, porém sem impossibilitar a abertura. Ele se abaixou entrou, derepente o cômodo se iluminou com uma luz encandecente amarelo ocre, trazendo certa sensação de conforto. Ruggero voltou até a porta segurou Karol pelas mãos a direcionando para entrar. Ela se abaixou e passou pela porta. O ambiente ali era muito aconchegante, ao fundo haviam almofadas de capas de corino marrons, sobre um tapete tecido em linho verde musgo, notoriamente feito a mão, a esquerda algumas prateleiras com bonequinhos, alguns livros e objetos distintos, abaixo um pequeno violão, a princípio ela achou que fosse um ukulele, mas ao se aproximar percebeu se tratar de um violão infantil. A direita uma escrivaninha de ébano com veios dourados, abrigava uma cadeira feita do mesmo material, sobre ela cadernos, potes com lápis e canetas, um cubo mágico solucionado, dois potes com colheres, provavelmente de cereal, mas estavam ali há anos, alguns papéis de balas e embalagens. Na parede alguns cartazes de times de futebol e um papel contendo o que parecia uma lista de sonhos a serem cumpridos. No teto alguns tecidos pesados como brim em diversos tons de verde, adornavam o local enfatizando ainda mais a sensação de conforto e acolhimento. Tinha um aroma misto no ar, do corino, da madeira, um sutil cheiro de local fechado e um aroma que ela conhecia muito bem. Deslumbrada observando cada detalhe ela o perguntou:
- Aqui era o seu "lugar secreto" quando criança não é?
- Era meu espaço de fazer planos, estudar, desenhar, tocar, escrever... escrevi minha primeira música aqui. - contou ele.
- Faz muito tempo que você não vem aqui? - retornou ela ainda desbravando o local visualmente.
- Faz por volta de 15 anos... nunca trouxe ninguém aqui, nem mesmo Léo sabe da existência desse lugar, somente meus pais o sabem porque me ajudaram a montá-lo. - respondeu Ruggero recordando de muitas coisas vividas ali.
- Me sinto honrada de ser a primeira pessoa estranha a vir aqui... - Confessou Karol.
- Primeiro você não é estranha, segundo, eu vou arrumar esse lugar, quero que você me ajude a deixá-lo bem bonito. - pediu ele se aproximando dela novamente.
- Pra mim parece um lugar encantado, não sei porque mudar... - argumentou Karol.
- Porque está muito masculino e quero deixa-lo um pouco mais feminino... - esclareceu ele.
- Feminino? Se for por mim não precisa, eu me sinto bem aqui estando como está. - contextou Karol.
Ruggero a olhou nos olhos lhe arrumando o cabelo, levou uma das mãos ao seu lunar e lhe contou, conseguindo dizer:
- Pra ela... pra ... Nossa garotinha.
Karol o sorriu com ternura inclinando levemente a cabeça para a direita, emotiva segurou no rosto dele e o disse:
- Eu te ajudo, mas quero conservar o máximo da sua história aqui pra gente poder contar pra ela.
Ele concordou gestualmente lhe dando mais um selinho em seguida.
Ela tirou a atenção dele um instante para olhar ao redor, notando o que faltava e aclarou:
- Falta uma janela aqui, assim não precisa usar tanta luz de dia...
- Hunf... porque nunca pensei nisso... você é incrível... - elogiou ele a puxando suavemente pela cintura a deixando mais próxima.
- Hei, tem um neném aqui... - o lembrou ela.
- Eu sei, só quero ficar - encosta a testa na dela - assim, pertinho... fiquei sem você muito tempo... só me deixa ficar grudado em você um pouquinho. - pediu ele.
- Como um coala... - completou ela.
- É como um coala... - concluiu ele.