Capítulo 9

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Após um tempo usufruindo da energia do rio, Karol saiu da água se sentando a margem, deixando as pernas e pés expostos ao sol para secarem.
Em sua mente muitos devaneios, até ela perceber que estava pensando nele novamente, ela seguia sem entender porque o amava tanto e porque parecia que o sentimento vinha de tão dentro, era como se aquele amor fosse parte de quem ela é, como se ela não existisse sem ele. Esse pensamento era tão complexo para ela, que preferiu vestir os tênis e prestar a atenção em outras coisas, já que de tudo em sua vida, essa questão era a única que ela não conseguia decifrar, somente sentir, ainda é um sentir que ela não controla, mas é controlada por ele.
Caminhando de volta até a fonte, sentou a beira da estrutura, ficou olhando a placa e decidindo para onde iria, quando se lembrou do almoço porque seu estômago roncava pela primeira vez em muitos dias. Se levantou em um salto e apressada subiu a trilha rumo ao hotel. Entrando no salão do restaurante avistou sua mãe sentada olhando a agenda, Karol deu uma corridinha e se sentou de frente para sua mãe perguntando:
- E Ale?
- Bom dia pra você também filha! - disse Carolina sem tirar os olhos da agenda.
- Desculpe, bom dia Mamá! - arrumou Karol.
- Ale estava tomando um banho porque escorregou e se sujou de lama na trilha das hortências. E o que aconteceu com você que acordou cedo? - contou e questionou Carolina.
- Eu acordei e não tive mais sono então saí, fui até o rio... - sente o cheiro da comida - Nossa que fome... - exteriorizou Karol.
- Finalmente! Achei que não iria te ver mais filha! - explanou Carolina.
- É a primeira vez que sinto fome eu sei, Mamá nem eu sei o que estava acontecendo comigo, mas hoje me sinto bem e com fome. - disse Karol.
- Era seu emocional minha linda! - exclamou Alejandro se juntando a elas.
- Escorregou? - perguntou Karol olhando para ele com certo ar de deboche, mas preocupada.
- Sim, mas só me sujei e passei vergonha. Não me machuquei nem esfolei nada - respondeu Alejandro.
- Desculpem preciso comer, antes que meu estômago comece a digerir o intestino. - disse Karol se levantando e indo pro buffet.
Alejandro e Carolina se olharam.
- Pelo menos o apetite dela voltou... - disse Carolina.
- E graças a Deus ela não esta mais tão pálida, do contrário iria ter que usar o aerógrafo amanhã pra entrevista da noite e eu sei que ficaria muito falso, além disso ver ela animada significa que ela está melhor por dentro. - disse Alejandro.
- Melhor por dentro... - pensou alto - ... Até quando ele vai mexer com ela assim... sempre está com uma namorada e mesmo assim a faz reviver seus sentimentos... - pensou alto Carolina.
- O problema aqui Caro é a reciprocidade do Ruggero, ele ama a sua filha, mas não sei porque ele se distancia, a questão de tudo está nesse porque. - disse Alejandro.
- Ela esta voltando melhor mudarmos de assunto... - concluiu Carolina.
Karol voltou para a mesa, com um prato bem diversificado, mas foi prudente nas quantidades, o que fez Alejandro a dizer:
- Isso aí, nada de exagero e come devagar hein!
Karol concordou com a cabeça, no entanto depois que passou a comer, percebeu sua mãe concentrada na agenda e a perguntou:
- Mamá  - mastiga - não vai comer?
- Ja vou, estou terminando de organizar a agenda da semana, tenho que dar alguns telefonemas daqui a pouco para ajustar tudo de amanhã a noite... - explicou Carolina.
- Amanhã a noite? - indagou Karol.
- Sim filha, amanhã você tem entrevista na televisa pro programa noturno. - seguiu Carolina.
- Amanhã? - questionou Karol com estranheza.
- Sim filha, amanhã de manhã saímos daqui de volta a Cidade do México, já com a agenda cheia. - respondeu Carolina.
- Por isso você tem que aproveitar esse lugar bastante hoje... - sugeriu Alejandro.
- Mas... eu precisava bem de uns 10 dias ... - exteriorizou Karol mudando completamente de feição.
- Quando tiver folga na agenda outra vez, fazemos outra viagem, prometo, mas você sabia que com a música nova iria precisar se submeter a centos de entrevistas. - lembrou Carolina.
Karol suspirou, se concentrou em seu prato e na mastigação pra ficar vivendo o mais possível no presente.
Nitidamente ela ficou introspectiva, ela adorava seu trabalho, a música o contato com os fãs, gostava das entrevistas, mas naquele momento ela só queria um pouco de paz e uns dias de sossego.
Terminou de comer, avisou que os encontraria para o jantar, se levantou e saiu rumo às trilhas. Tentou conter mas o choro veio, sem entender o porquê, suas emoções pareciam tão a flor da pele, tão pouco ela conseguia defini-las ou identificá-las. Da fonte correu pro estábulo, se eram seus últimos momentos ali, ela queria passar com o Capitão passeando por aqueles campos e assim o fez por toda a tarde até o por do sol.
No jantar, comeu basicamente o mesmo que no almoço e estava feliz por não ter mais passado mal. Ainda que tivesse passado a tarde pelos campos se interiorizando decifrando seus sentimentos, permanecia introspectiva e por isso muito quieta.
- Filha eu já te falei isso antes, se você não quiser mais... - começou  Carolina nitidamente preocupada com sua filha.
- Mamá estou bem, só triste pelo tempo ter passado rápido. Mas já já coloco pilhas e sigo com meu trabalho. - interrompeu Karol.
- Você queria apenas poder ser só a Karol por mais uns dias... - complementou Alejandro.
- Vou ter tempo pra ser a Karol depois que terminar a divulgação de "Miedo de sentir". - concluiu Karol.
- Essa é minha filha! - vibrou baixinho Carolina.
Do jantar foram direto por suas higienes e posteriormente para as camas, teriam que acordar cedo no dia seguinte para retornarem a Cidade do México.
Perto das 4:30 da manhã, Karol acordou de sobressalto devido a um pesadelo, com um corredor cheio de portas, onde cada uma delas a levava para um futuro diferente, em um deles ela via Ruggero e Camila zombando dela e quando ela olhou pra si estava sangrando muito, o susto a fez acordar. " Foi um pesadelo, só isso...", ela repetiu para si mesma um par de vezes, ao mesmo tempo que se localizava. Preferiu se deitar novamente, mas ao fechar os olhos a visão dela sangrando invadiu sua mente, foi quando ela resolveu se levantar e cuidando para não fazer muito ruído, organizou suas coisas, trocou de roupa e saiu. Era a última vez que ela andava por aquelas trilhas, a primeira que ela andava em plena aurora, o que dava mais sensação de mundo de fadas para os caminhos, os paralelepípedos até a lembraram da Dorothy em o Mágico de Oz. Instintivamente, sem pensar muito, seu corpo, enquanto sua mente lidava com o pesadelo e todas as emoções que ela estava sentindo, o levou para o estábulo, por sorte o senhor responsável estava com os cavalos todos para fora os escovando, quando a viu a perguntou:
- O que faz aqui tão cedo menina, está bem?
- Estou sim, é que vou embora daqui a pouco e queria me despedir do capitão. - respondeu Karol.
- Levou sorte, hoje é o dia de escova-los, por isso estão todos aqui, do contrário eu só viria para cá as 6 da manhã.- disse o homem.
- Não sei se é sorte, ou se teria que ser assim, mas de qualquer forma fico agradecida por ser dia de escovar esses pelos tão bonitos. - disse Karol.
Capitão logo se aproximou dela, que o abraçou imediatamente, não era preciso dizer nada, pois de alguma forma o cavalo sabia que ela estava indo embora, em poucos dias ficou claro que Capitão a conhecia melhor do que muita gente.
- Um dia eu volto aqui pra te ver... - disse Karol ao cavalo.
Capitão relinchou baixinho e a fez carinho nas costas em meio ao abraço.
- Se cuide e obrigado por tudo. - agradeceu Karol soltando o animal.
Ela olhou aqueles olhos uma última vez, se despediu do senhor e saiu do estábulo olhando o cavalo até perde-lo de vista. Sem dúvida a estadia foi muito significativa para Karol, a ajudou a compreender muitas coisas, a desafogar um pouco seus sentimentos, ainda que sinta tantos outros desconexos, mas como teve clareza de uns, certamente encontraria o mesmo para os outros.
Sem demora voltou ao hotel, o sol já estava bem presente, ao entrar no saguão deu de cara com sua mãe perguntando por ela na recepção, ao vê-la Carolina a perguntou:
- Onde você estava??
- Me despedindo do capitão. - respondeu Karol sinceramente.
- Bom tudo bem, mas podia ter avisado, enfim, vamos tomar café da manhã e pegar a estrada em seguida. - orientou Carolina.
Tomaram um café reforçado,  Karol se manteve mais comedida, porque sabía que se comesse muito enjoaria com o movimento do carro, mas comeu tudo que quis sem muito medo. Para tranquilidade de Carolina, sua filha parecia bem centrada e tranquila.
No trajeto para a Cidade do México, Karol olhava a estrada, enumerando seus sonhos e os classificando mentalmente, ela não dormiu, parecia estar com a energia plena novamente. Por um segundo se lembrou de Ruggero, mas dessa vez sem sentir nada que a tirasse de eixo, a viagem realmente havia sido muito importante para que ela se reencontrasse, ainda que por dentro o que ela sentia por ele parecesse ser intocável, mas justamente por isso mais dominável.
Chegaram na Cidade em 2 horas, foi uma viagem tranquila, sem muitos problemas na estrada. Em casa descarregaram as malas, Alejandro foi organizando as coisas para fazer a maquiagem de Karol mais tarde, Carolina verificava o que teria pro almoço, enquanto Karol foi incumbida de escolher a roupa para a entrevista, e pela prévia escrita do programa precisava ver como estavam seus patins. Tocar neles depois de tanto tempo era como se eles fossem uma chave de portal para um lago de memórias, das quais Karol tratou de filtrar somente as boas para não dar margem para gatilhos. Com os patins organizados, separou um conjunto todo preto e uma bota, desceu as escadas com os itens, encontrando sua mãe abrindo os pacotes do delivery.
- E voltamos pra comida pronta... - exteriorizou Karol.
- Eu adoraria que mantivessemos a alimentação da fazenda, mas com o tempo todo engendrado não dá filha.- retrucou Carolina.
- A propósito Mamá, obrigado. - agradeceu Karol.
- Pelo que? - questionou Carolina.
- Pela viagem, foi muito boa! - respondeu Karol.
Após almoçarem, Karol e Alejandro ficaram decidindo como seria a maquiagem para combinar com o look todo, quando em meio a conversa Alejandro a perguntou:
- Vai deixar seu celular em off por quanto tempo ainda? Te mandei um monte coisas legais, inclusive fotos.
- Daqui a pouco eu vejo ... - disse Karol concentrada vendo as cores da paleta de sombras.
- Vai continuar fugindo... - explanou Alejandro.
- Já disse que depois eu vejo, e não estou fugindo de nada. - brandou Karol.
- Só do Ruggero - sussurrou Alejandro.
Karol preferiu fazer que não ouviu, havia demorado dias pra se refazer do "reencontro", preferia manter as coisas no lugar delas que era no passado e seguir em frente, se o destino tinha alguma vontade de mudar o faria e ela seguiria o fluxo, por hora o fluxo a dizia pra se concentrar em seu trabalho e em si mesma.

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