Chegando no aeroporto Karol agradeceu ao motorista pela corrida, pagou e saiu do veículo. Entrou no aeroporto cobrindo a cabeça com a touca da blusa, caminhou até os guiches para compra de passagens, olhou todos os destinos, contou valores, sem ideia de onde ir, foi procurar um caixa eletrônico para sacar dinheiro, para não registrar no cartão o destino da passagem. Após efetuar a transação, separou o dinheiro, deixando um extra par caso precisasse fazer câmbio. Dali foi ao banheiro, em seguida foi para a frente dos guiches, olhou os painéis que mostravam destinos, um deles era Bueno Aires, por momento ela pensou em ir atrás dele e lhe contar, mas ela sabia que seria o primeiro lugar que sua mãe a procuraria e ela queria distância, ainda que fosse muito estranho esse sentimento, porque nunca o havia sentido sobre sua mãe. Se distraiu um pouco com seus pensamentos mas logo voltou a olhar pro painel, havia um voo na próxima hora para Milão praticamente vaziu, alguma coisa dentro dela a impulsionava para ir para essa cidade, sem pensar muito, ela foi até o guiche da aerolinha indicada, comprou a passagem, a segurou firme e foi rumo ao setor de embarque e apresentação de documentos.
Depois de passar pela aduana, foi para a sala de espera aguardar chamarem para o embarque. Ela sentou em uma das cadeiras, conteve o choro, respirou fundo, repensava tudo, se estava fazendo o certo, afinal a partir do momento que o avião levantasse vôo, ela deixaria para trás sua carreira, sua família, pensou em sua avó Berta, o que diria, mas foi pensar nela e foi quase como se ela a ouvisse falando "Você tomou a decisão certa, não tenha medo.", de certa forma aquilo a confortava, no fim das contas ela não estaria sozinha, sabia que sua avó estaria com ela a ajudando.
Quase uma hora depois, começam a chamar para o embarque, Karol estava quase dormindo, quando ouviu o chamado, se levantou e foi rumo ao local para o embarcar. Entrou no avião, procurou sua poltrona na janela e se sentou, sabia que não iria ninguém na poltrona ao lado, então deixou suas coisas ali, minutos mais tarde o avião passou a taxiar, eram os últimos momentos dela em seu país. Ao mesmo tempo que ela sentia um pesar por estar indo embora, quando o avião decolou ela se sentiu aliviada, sabia que por hora estava segura. O vôo foi muito tranquilo, como havia deixado seu celular para trás por segurança, ela assistiu filmes, se alimentou, leu revistas, e se rendeu a cansaço, acabou dormindo nas últimas 4 horas de viagem. Cerca de 13 horas depois, a comissária informou que pousariam em 30 minutos, ao ouvir Karol se espreguiçou, olhou para o lado e viu o banco vaziu, por um minuto ela havia esquecido de tudo, mas as circunstâncias a fizeram voltar para a realidade. Após o avião pousar, e o desembarque ser liberado, a passagem pela aduana ser tranquila, Karol se viu novamente em um saguão, foi impossível não lembrar dele, ela olhava para os lados alimentando uma esperança infundada de que ele aparecesse, mas era apenas uma fantasia de sua mente. Andou até achar um banco para se sentar em frente ao painel de vôos, ela sabia muito pouco de italiano, não sabia o que fazer, olhou para o painel fixo por um tempo, desejando que ele indicasse o caminho. Quando o painel virou para mostrar os próximos voos ela viu "Pescara", novamente aquele impulso interno veio, como se indicasse que era esse o caminho, novamente respeitou o que sentia e foi comprar a passagem. Com a compra realizada, foi até o câmbio trocar moeda, enquanto realizada o movimento financeiro, ouviu a primeira chamada do vôo, indo posteriosmente direto a ala de espera indicada. Ali sentada mexendo as pernas ciclicamente, sua mente estava em branco, seu olhar parado, até ela ter um estalo, " Os pais do Rugge", pensou alto, era uma possibilidade procura-los, parecia que sua intuição a estava ajudando muito, obviamente porque ela se permitiu ouvir.
Em 1h40, chegou ao aeroporto de Pescara, ainda se lembrava um pouco do lugar, desembarcou, caminhou direto para o saguão, era um local muito moderno, muito limpo, o teto curvo de vidro confería um ar muito especial e futuristico ao lugar. Karol observava tudo enquanto cruzava sentido a saída. Do lado de fora, ela tentava fazer um esforço em sua mente para lembrar o caminho até a oficina ou a casa dos pais de Ruggero, ao recordar uma parte do trajeto, pegou um dos taxis disponíveis, já dentro do veículo, tentou explicar no melhor italiano que ela tinha onde queria ir, e para sua surpresa o homem a perguntou:
- Você quer ir para a oficina ou a casa dos Pasquarelli?
- Para a casa, como o senhor sabe que é pra la que quero ir? - respondeu e retornou Karol.
- Porque pelas ruas que você descreveu e como era a fachada, deduzi que fosse, faço esse trajeto as vezes com o filho mais velho deles, quando ele vem visita-los. - contou o homem.
Ela sorriu contidamente, certamente ele estava falando de Ruggero. Enquanto o motorista começava a corrida, Karol percebeu que passou meses, anos sem conseguir dizer o nome dele sem que mexesse com ela, mas dessa vez, lhe conferiu certa paz, algo que fazia tempo que ela não sentia.
Aproximadamente 30 minutos depois o motorista estacionou em frente a casa dos pais de Ruggero, estava exatamente como ela se lembrava, sem delongas agradeceu ao motorista, pagou a corrida e desceu.
O portão para pedestres estava sem cadeado, ela o abriu devagar, entrou o encostando novamente, caminhou até a marquise que cobria a porta de entrada lateral, respirou fundo, admirou a porta por alguns instantes, pensamentos a mil, "será que tem alguém em casa? Será que vão me receber, vão me entender?" Pensava ela, mas ela já estava ali, havia sido uma viagem longa, o sol estava começando a se por, ela estava cansada, respirou fundo outra vez e bateu 3 vezes seguidas na porta.
Um pouco ofegante, tentando lidar com suas emoções, ela ouviu alguém vindo, girando a chave e em seguida abrindo a porta e ao vê-la indagando:
- Karol?
Ela sorriu tentando administrar o choro sem sucesso.
- O que faz aqui? - perguntou Antonella em espanhol para surpresa de Karol.
- Eu... - tenta responder mas se entrega ao choro indo abraçar Antonella que a retribuiu mesmo sem entender.
Karol chorou segurando firme a roupa de Antonella, ela estava se contendo desde que saiu de sua casa no México. Passados uns bons minutos, Antonella a disse a orientando para entrar na casa:
- Vem vamos entrar, você precisa se acalmar.
Karol se soltou um pouco de Antonella, pegou sua mala e entrou na casa, ainda chorando bastante. Antonella fechou a porta, a conduziu até uma cadeira da mesa de jantar e a disse pegando a mala:
- Deixa isso comigo.
Colocou a mala perto do corredor que dava para os quartos, retornou a sala, passou para a cozinha que era em conceito aberto, pegou um copo de água, levou até Karol, se sentando a frente dela e segurando uma de suas mãos a disse:
- Tome um pouco de água, e quando se sentir pronta quero que me conte porque está aqui e nessas condições.
Karol tomou uns 3 goles de água, tratou de controlar sua respiração, Antonella segurava sua outra mão como se a dissesse, está tudo bem, vai no seu tempo. Ela respirou fundo e começou:
- Em 14 de fevereiro eu e...
- Você e Rugge se encontraram... - Interrompeu Antonella.
Karol balançou a cabeça em confirmação, aspirou ar e continuou:
- Fomos jantar com um grupo, eu fui ao banheiro e quando saí ele me encontrou e me levou do lugar, para o hotel onde estava e passamos a noite juntos. - suspira - Eu não queria, eu repeti várias vezes, mas meu corpo não me respeitava e eu... eu sentia muita falta dele e me... me entreguei. Fui para casa de manhã e disse para a minha mãe que ficamos jogando videogame ficou tarde e eu dormi, eu não queria que ela me fizesse muitas perguntas, eu estava cansada e queria apenas dormir. - aspira profundamente para se concentrar, olhava para Antonella que a observava com muita atenção desde que havia dito que haviam passado a noite juntos - Eu tratei de sustentar essa versão por mais de mês, mas comecei a ficar muito cansada, Enjoada, ter ânsia, alguns dias tinha muita fome, outros não tinha fome quase que nenhuma, na última semana que não me aguentava em pé e já não suportava mais a agenda, minha mãe marcou de eu ir ao médico ver o que estava acontecendo. Meus exames estavam bons, mas um item estava alterado - seguia contando Karol segurando o choro.
- Karol? - Interrompeu ligando os pontos - Você está grávida? - perguntou Antonella.
Karol confirmou gestualmente, deixando as lágrimas deslizarem pelo rosto novamente.
- Ah menina ... - manifestou Antonella.
- Quando minha mãe percebeu a verdade ficou sem falar comigo até chegarmos em casa e discutimos... meu irmão tentou amenizar, mas tudo que minha mãe disse foi que eu deveria ir dormir porque no dia seguinte iriamos para Miami para eu... - soluça - t-tir... - continuou explicando até não conseguir dizer a palavra.
- Não. - leva a mão a boca atônita - Mas sua mãe sempre foi tão cuidadosa contigo... como pode... - exteriorizou Antonella.
- Minha única reação foi fugir, fugir o mais longe possível, saí de casa sem saber onde ir, pensei em buscar a Rugge, mas seria o primeiro lugar que minha mãe me procuraria e... e ele está com sua namorada... fui pro aeroporto e algo me fez chegar aqui... - terminou de contar Karol chorando volumosamente novamente.
Antonella chorou junto com ela a segurando as mãos, a abraçando em seguida.
- Não sei porque sua mãe optou por algo tão grotesco quanto levar a própria filha para ... santo Deus, não consigo dizer... - tentou se expressar Antonella abalada.
- E a única coisa que vou ter do seu filho... - exteriorizou Karol.
Antonella a solta, a olha nos olhos, faz carinho em seu rosto, volta a segurar suas mãos e a diz:
- Você veio ao lugar certo, não se preocupe mais, aqui está segura, vamos cuidar de você, cuidar desse bebê, vai ficar tudo bem menina.
Ouvir aquelas palavras deu um alívio tão grande em Karol, ela era muito grata por ter ouvido sua intuição e por ter chego ali, ainda que ela soubesse que havia dedo de sua avó nisso.