Capítulo 2

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Ruggero desceu os dois lances de escada com Karol pedindo para ele a colocar no chão, mas ele estava decidido a levá-la dali. Chegando no térreo, saiu pela porta de emergência diretamente no estacionamento, abriu seu carro alugado, a porta do passageiro, com cuidado a colocou sentada no banco, fechou a porta, contornou o carro rapidamente antes que ela saísse, se sentou no banco do motorista e travou as portas.
Karol o olhava fixamente com a feição cerrada, antes que ela pudesse dizer alguma coisa ele a pediu:
- Coloca o cinto por favor.
- Ruggero eu não vou colocar nada!! - respondeu ela grosseiramente.
Ele se esticou sobre ela, puxou o cinto o predendo, se endiretou no seu banco, ela diretamente foi soltar o engate, mas ele segurou a mão dela e a disse:
- Eu já te falei você vai comigo!
- Pra onde? E porque?? Não temos nada para conversar! - questionou esbravejou Karol.
Ele a olhou fixo, seguiu protegendo o cinto, em uma fração de segundo ele ligou o carro e saiu, mudava as marchas e voltava a segurar o engate do cinto de segurança.
Karol acabou aceitando a situação, se encostou no banco, ficou olhando para fora, tentando controlar sua respiração e seus nervos, mexendo as mãos sem parar, ou mordendo um dos lados internos da bochecha.
Alguns minutos mais tarde no centro da cidade perto da Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, Ruggero diminuiu a velocidade, fez uma conversão a direita e entrou na garagem de um grande hotel, parou em frente ao vallet e a disse soltando o próprio cinto:
- Agora você pode soltar seu cinto.
Ela estava possessa, soltou o cinto, quando foi abrir a porta do veículo, Ruggero a abriu primeiro, segurando uma das mãos dela a ajudando a sair.
- Onde nós vamos? - indagou Karol objetivamente.
- Lá pra cima. - respondeu ele a conduzindo.
Atravessaram a entrada de estacionamento do hotel, começaram a atravessar o saguão, Karol viu a porta principal do local aberta, fez menção de correr para lá, mas Ruggero a segurou firme e a disse baixinho:
- Entenda que você vai comigo.
Ela teve uma vontade subita de bater nele para se soltar, mas antes que pudesse os dois já estavam dentro do elevador subindo. Era como se o corpo dela estivesse com um delay entre pensamento e ação.
No 16° andar o elevador parou, Ruggero a conduziu para fora do equipamento e seguiu até o quarto 164 onde ele estava instalado. Ele a soltou a fazendo entrar na frente ficando as costas dela trancando a porta e mexendo no celular em seguida, Karol caminhou pelo quarto com o braços cruzados. Na tentativa de conter os nervos, ela passou a observar o quarto, era minimalista, com paleta de cores em uma combinação de azul petróleo, cinza e amadeirado. A cama era imensa, com travesseiros, lençóis e cobertas todos brancos, tudo dobrado e organizado impecavélmente, a cabeceira de ponta a ponta na parede era amadeirada, com luminárias nas laterais da cama e tomadas. No outro lado um armário cinza sem puxadores do chão ao teto e uma espécie de barzinho com marcenaria azul petróleo, onde ficavam o frigobar, uma estação de café e a teve na parte superior. A porta janela era do tamanho da largura do quarto e levava a uma sacada enorme com mesa, cadeiras e uma fonte de água, além da vista panorâmica para o centro da cidade.
- Bonita vista não? - perguntou ele se aproximando dela perto da janela e colocando o celular junto da maquina de café.
Por um segundo ela esqueceu o que estava acontecendo, mas assim que se localizou respondeu:
- É a Cidade do México a vista é sempre bonita, pena que eu estou sem bolsa, sem celular e não tenho como avisar a minha mãe que você me sequestrou!
- Tranquila, acabei de mandar mensagem pra sua mãe avisando. - contou ele.
- Avisando o que? Que você me sequestrou? - questionou Karol brava.
- Não... primeiro não te sequestrei, segundo a disse pra não se preocupar porque você está comigo. - respondeu ele a olhando fixo.
Aquele olhar era tão invasivo, tanto que ela não conseguia reagir, era como se o tempo voltasse e todo o ruim ainda não tivesse acontecido, era até certo ponto nostálgico. Ela desviou o olhar rapidamente e o perguntou tomando distância:
- Bom e o que vamos fazer aqui e quando você vai me deixar ir?
Ele não a responde, continua a olhando fixamente, ela fica aguardando uma resposta se encostando na parede, cruzando os braços, e desviando o olhar, em um rompante ele vai até ela, a puxa pela cintura juntando os dois a fazendo olhar pra ele que seguia a olhando com intensidade.
Ela sabia o que iria acontecer, sua mente lutava pensando em uma escapatória, mas seu corpo parecia ter vontade própria porque não respeitava sua cabeça. Em meio ao desespero da mente de Karol, Ruggero a beijou, mas não como na escada, foi suave e delicado, voltou a olha-la em seguida, sem solta-la, mas não a apertava. Ela o olhava em retribuição, havia algo no ar, um sentimento forte, uma conexão, era como se o tempo não tivesse passado, em segundos os olhos dele começaram a encher de água, o coração dele batia meio descompassado, ela podia sentir, estranhamente o dela batia igual, era como se eles estivessem na mesma frequência. Derepente ela sentiu um calor dentro de si, aqueles corações batendo iguais, era como se ele morasse dentro dela e ela dentro dele, o tempo parecia ter parado, não existia nada ao redor, somente eles. Não havia motivo para ela fugir, fugir do amor dele, a ânsia pela conexão da alma era intrinsecamente forte. Ele mergulhado naqueles olhos verdes a dizia com o olhar que eles poderiam se afastar um do outro, mil vezes, poderiam negar o que sentiam, mas quando os corações se conectavam, não havia como separarem duas partes de uma mesma alma.
Uma lágrima escorreu pelo rosto dele, ela a enxugou, naquele momento ela tinha certeza de que aquele homem a sua frente era o seu Ruggero, o que ela conhecia muito bem, que tinham momentos tão lindos guardados em um gaveteiro dentro do espaço mental. Em um súbito sutil movimento ela se esticou e o beijou com todo o amor que ela sentia por ele, sendo retribuida.
Se beijavam com intensidade, até ele se soltar dos lábios dela, entrelaçar suas mãos as dela com os braços estendidos ao longo do corpo, a dar mais um selinho e encostar a testa na dela e ali permanecer por mais alguns segundos, até ele a dizer baixinho:
- Eu te amo.
- Eu também te amo... - retribuiu Karol em mesmo tom.
Ela não podia abstrair o que ele a fazia sentir, a pele parecia ser composta por milhares de borboletas que não apenas voavam mas dançavam por seu corpo, ao ponto de faze-la sentir além das trama do tecido de suas vestes, o pulsar energético que circulava entre eles. Ela moveu a cabeça e voltou a beija-lo, em um movimento rápido ele abriu o casaco dela a abraçando pela cintura, aquele toque a fez arrepiar dos pés a cabeça. A mente dela ainda tentava formular uma saída, mas ela já havia a abandonado e assim como ele se entregou ao fluxo dos acontecimentos posteriores.

Perto das 6 da manhã, o sol entrou pela janela iluminando cada micro espaço do quarto, ainda que meia folha da cortina estivesse fechada, a luz chegou ao rosto dela, ainda que meio coberto pelo fofo endredon. Com a luz, ela passou a contrair os olhos, mas acabou os semicerrando, olhando pro ambiente ela se localizou, passou a perceber seu corpo, ao sentir que alguém estava abraçado a ela, além de não se sentir vestida, sua mente imediatamente após a sensação a levou para tudo que havia acontecido durante a noite. Ela abriu os olhos se acostumando com a luz, enquanto sentia aquele abraço, aquele corpo atrás dela, aquele ar quente que por vezes chegava em sua orelha e pescoço, proveniente de uma respiração dele que dormia profundamente.
Com muito custo, jeito e sutileza, ela conseguiu se soltar dele e sair da cama, foi a banheiro, se olhou no espelho, lavou o rosto, passou uma água da boca,  respirou, se observou minusiosamente procurando alguma mancha em seu corpo que tivesse ficado evidente para pensar em uma explicação, mas não havia, ele havia sido muito gentil e delicado com ela como nunca antes, nem na primeira vez ele havia sido tão benevolente. Contudo a hora estava passando, ela saiu do banheiro e por sorte ele seguia dormindo, ela se vestiu, pegou as sandálias, destrancou e abriu a porta com muito cuidado, saiu, tentando fechar a porta do mesmo jeito que abriu, mas a mesma precisava ser batida para fechar, sem opção ela bateu a porta do jeito que menos fizesse barulho e foi chamar o elevador.
No quarto ele ouviu a batida da porta, percebeu que ela não estava com ele, acordou em um rompante de sentando na cama, segurando com força o lençol onde ela estava, olhou por todo o quarto rápidamente e sem encontrar a roupa dela ou os sapatos, se levantou, colocou uma camiseta um calça de moletom, os chinelos e saiu voando pela porta. No corredor ele viu o elevador descendo, destinadamente o outro equipamento também estava descendo mas a dois andares acima, ele apertou o botão freneticamente como se isso fizesse o elevador andar mais rápido. Já descendo, estava nervoso, tinha esperanças que ela ainda não tivesse ido, ele queria falar com ela, ou pelo menos se despedir, pensava alto.
Chegou no térreo saiu correndo pro saguão a viu parada perto da porta, correu até ela.
- Karol!! - a chamou.
Ela olhou pra ele, estava triste, mas ao mesmo tempo segura e o respondeu.
- Eu já solicitei transporte por aplicativo, já vai chegar.
Ele não a disse nada, somente a beijou, ela não se esquivou, nem tentou, deixou ele decidir quando era hora de parar, o que ele fez em seguida, mas grudou a testa na dela novamente e com o olhos fechados a disse:
- Se cuide por favor.
Foi ele dizer um carro parou na área de embarque e desembarque e buzinou, ele a soltou mas não de sua mão, ela foi em direção a porta, saiu, ele se adiantou sem soltar da mão dela, abriu a porta, ela entrou e somente aí ele se soltou completamente dela. Ele fechou a porta sem desviar o olhar do dela, ele a queria dizer tantas coisas, mas não conseguia expressar-se, o carro partiu e ele não tirou o olhos dela até perde-la de vista e talvez perde-la mais uma vez, por própria covardia, ainda que aquilo doesse nele a ponto de lhe dar sensação de que seu coração se partira bem ao meio.

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