Capitulo 2: Parte 1: Sozinha entre tantos

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Para este capítulo, parte 1 recomendamos a música Ride - HYSB. Esperamos que gostem. 

Freen

Segundas-feiras são tão monótonas, parece que vou definhar no escritório. Muitos papéis para ler e assuntos para tratar. Passo o dia entre uma reunião e outra. Sem um momento para descanso, sou obrigada a almoçar na minha sala e eu odeio isso. Gosto de comer ao ar livre, mas infelizmente você passa sua vida atrás de dinheiro e quando o alcança é preciso trabalhar mais para não perdê-lo, acabando por não aproveitar as boas coisas da vida.

A senhora Mirtes vem a minha sala no fim do expediente, traz a minha agenda todos os dias, ela sempre está sorrindo e sabe sempre o que dizer, não importa a situação, não é a toa que ela recepciona os melhores clientes. Na lista duas reuniões pela manhã, uma entrevista para a revista "Quest" e almoço com acionistas. A tarde visita ao museu contemporâneo, reunião novamente e à noite jantar com um cliente importante. Outro dia chato.

As terças não são muito diferentes, no entanto, estou angustiada para amanhã. Teremos a primeira reunião com o advogado do grupo Armstrong, estou ansiosa para conhecê-lo, tenho certeza da capacidade argumentativa e do poder midiático que eles podem oferecer. É disso que eu preciso, uma defesa completa e bem equipada para o meu caso.

Mirtes sai da minha sala, aproveito para fazer algumas ligações. Hoje, exclusivamente, não tenho nada marcado para a noite, geralmente as segundas são assim, melancólicas também no fim do dia. Eu até acho importante ter um tempo sozinha, dialogar com seus demônios internos. Mas hoje, vou descansar, tomar um vinho e pode ser que ligue para minha mãe. Ouço alguém bater à porta, já que a pessoa não foi anunciada, creio que deve ser minha amiga Phimlak, as únicas pessoas que não são anunciadas são ela e minha mãe.

Não preciso pedir que ela entre, antes que eu diga qualquer coisa, Phimlak já está dentro da minha sala com seu sorriso enorme e seus dois cachorros, ela tira os dois do carrinho e os solta na minha sala. Eu simplesmente amo esses cachorros, acho que minha amizade com Phimlak jamais teria ocorrido se ela não fosse mãe dessas duas fofuras.

Eu corro na direção dos dois e os abraço, Phimlak para de sorrir e me olha, ela diz séria:

- Você sempre gostou mais destes cachorros do que de mim, não sei porque ainda me estranho porque sempre corre para eles e não para mim.

Eu olho para cima, para encará-la nos olhos, estou no chão sobre o carpete abraçada aos dois.

- São cães, você não pode concorrer com eles.

- Eu sei.

Ela responde e se senta sobre o sofá, um dos cachorros corre se balançando todo até ela. Pego o outro no colo e me sento junto deles. Enquanto os cachorros aproveitam o carinho. Eu olho para Phimlak, ela para de sorrir novamente e pergunta:

- Freen, você sabe que eu adoro você, mas você tem certeza sobre o que iniciará amanhã?

Sei do que ela está falando, sinto meu estômago revirar.

- Absoluta certeza.

- Ainda dá tempo de voltar atrás e tentar outra alternativa.

- Phim, não há outra alternativa. O que está iniciado é o único jeito. Não posso voltar atrás agora. Não posso perder tudo que conquistei.

- Mas Freen...

Não a deixo terminar, apesar de esperar que ela insista.

- Não há mais, nem menos. É o que é. E ponto.

- Está bem. Espero que você esteja certa sobre isso. Sobre tudo.

- Vai dar certo. Tem que dar.

Finalizo e Phimlak me olha, seus olhos parecem tristes. Gostaria que ela me dissesse o que está pensando. Depois que você tem dinheiro as pessoas ficam com medo de falar com você. Apesar de sermos amigas há muito tempo, ela não confia que suas palavras me atingirão, ela não insiste. Se eu fosse a mesma mulher de antes, tenho certeza que seria diferente.

As pessoas dizem que o dinheiro não muda os outros, mas a realidade é que tudo muda. Não dá para sermos os mesmos. As pessoas à sua volta também já não são as mesmas. Isso pode ser bom, mas também pode ser muito ruim. Como agora, antes Phimlak brigaria comigo e tentaria me convencer de que estou errada. Mas agora, ela simplesmente aceita o que sou. Parece ter perdido a razão pela qual nos tornamos amigas. Não que eu fosse ouvi-la, mas ela deveria ter tentado, para continuarmos nós mesmos.

Ficamos ali mais um tempo, brinco com os cachorros, troco palavras sobre coisas aleatórias, depois ela se despede. Olho no relógio e já está na hora de partir. Desligo o computador, pego minha bolsa e saio da sala. Passo por Mirtes, ela me entrega a agenda para que eu analise quando chegar em casa. Vou até o elevador e desço direto até o estacionamento. Entro no carro e dou a partida, vou para casa.

...........

Entro em meu apartamento, assim que abro a porta as luzes se acendem, uma música começa a tocar baixo. Programei o sistema de inteligência para me receber desta forma. Coloco minha bolsa sobre o sofá e sigo em direção ao banheiro, a água já está caindo na banheira, tiro minha roupa, e já entro, mesmo que ela não esteja completa, estou cansada, o escritório me deixa exausta.

Fico por um tempo sentada, deixando o cheiro do vaporizador de ervas entrar em minhas narinas, apesar do banheiro estar dentro do quarto, consigo ouvir perfeitamente a música que vem lá de fora. O som vai invadindo meus ouvidos, entrando na minha mente e eu relaxo completamente agora. Fico um tempo ainda ali, sentada, sentindo tudo à minha volta.

Depois coloco alguns sais de banho na água, aproveito para esfregar meu corpo com o sabonete líquido floral. A espuma espalha-se formando uma camada densa flutuando sob a água. Imagino um lugar de areias brancas, mar azul, onde eu possa me deliciar com o gosto salgado da água. Agora sim, posso sair daqui. Me levanto, coloco o roupão e vou até a sala.

Meu celular ainda está em minha bolsa, abro-a e retiro ele de lá, dou uma olhada em minhas redes sociais, muitas pessoas me adicionaram, bom, quanto mais, melhor. Dou uma conferida em marcações, reposto o que acho importante. Leio algumas notícias da noite, nada muito interessante, desligo a tela do celular e ligo a tv, começo a assistir uma série qualquer. Vou até minha pequena adega e retiro uma taça e um Chenin Blanc, sirvo e começo a tomar.

As coisas vão passando na tela, como se eu não estivesse assistindo, diversas vezes me sinto assim, desconectada de tudo, como se algo não estivesse presente. Pego o celular e ligo para minha mãe.

"- Olá, mãe. Como a senhora está?"

"- Freen? Que bom ouvir sua voz, estou bem e você?"

"- Bem, também."

Ficamos conversando por quase uma hora, em seguida eu me despeço e desligo, estou com sono. Fascinante como ficar em casa me deixa bem, que tenho até vontade de dormir cedo. Se fosse uma escolha, eu dormiria cedo todos os dias. Mas não posso me dar esse luxo, tenho ainda que conquistar o principal. Ir a jantares, festas e encontrar pessoas em geral, vão me ajudar a ter esse objetivo.

Meu telefone está sempre tocando, isso me irrita bastante, desligo-o. Peço para que a inteligência me acorde no horário habitual. Vou para a cama, faço minhas orações e adormeço. Eu sonho, todas as noites, "há um grande lago, coberto de neve, estou correndo sobre ele, com meu vestido branco, meus cabelos sacodem, porque venta. Está difícil continuar correndo, o vento está contra mim. Estou cansada, preciso parar, mas eu não desisto, persisto e continuo a correr. Quando alcanço o outro lado o gelo quebra, faltando apenas um passo.

Eu começo a afundar lentamente, como se a água estivesse se transformado em uma gosma azul, eu vou afundando devagar, pouco a pouco, antes mesmo que eu chegue ao fundo, ela aparece. Sei que é mulher pelo formato de seu corpo, seus cabelos estão balançando. Eu não consigo ver o seu rosto, mas sei dentro de mim que ela sorri. E então ela segura minha mão quando estou já nas profundezas do lago, quando vamos sair e ela pode me ver", eu acordo. Está começando um novo dia. 

The laws of loveOnde histórias criam vida. Descubra agora