Capítulo 3: parte 2: A vida tem gosto de ferro

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O relógio estava marcando dezoito horas, me levantei e fui até o espelho para olhar meus olhos, estavam inchados, seria impossível não notar que chorei o dia todo. O jantar seria em trinta minutos. Eu iria estar pronta até lá. Tomei um banho, penteei os cabelos. Sei como deve ser na casa das outras pessoas, um jantar não deve ser tão formal, mas no meu caso, jantar com meus pais era assustador.

Quando meu pai convida para um jantar, todos da casa ficam apreensivos, desde os funcionários até os animais. É uma coisa surreal. Há faxina pela casa, há pessoas correndo para lá e para cá. Parecemos a realeza. Mas é somente ele sendo exigente. O bom dos jantares, é que vejo minha mãe. Ela geralmente está viajando, mas sempre aparece quando ele está.

Minha mãe é o tipo de pessoa que já passou por tanto ao lado dele, que simplesmente não sabe o que fazer agora. Então ela só deixa acontecer, entre uma viagem e outra, uma compra e outra, ela parece estar vivendo, suas redes sociais são vívidas, mas ela está morta. Ela morreu faz um tempo. Não sei, quando parei de vê-la sorrir, eu não estava prestando atenção. Mas um dia ela estava aqui, no outro não.

Quando eu decidi estudar, foi a única vez que vi ela se manifestar, quando eu me formei, ela foi veemente em dizer que eu merecia um lugar na empresa, graças a ela e Richie, meu pai me aceitou, após vociferar com minha mãe no quarto. Lembro de ouvir ela dizer: "Eu nunca te pedi nada depois daquilo, então eu invoco meu poder de pedir algo agora. Você sabe do que estou falando, não preciso sair deste escritório e contar a ninguém".

Depois disso, houve silêncio, as portas se abriram, papai saiu e me disse que eu poderia trabalhar como advogada na empresa. Eu ainda não sei do que se trata, mas acho que pode ter havido uma traição, somente isso explicaria a mudança de mamãe. Papai é muito reto, em tudo que faz, ele não se perdoaria por uma traição. Sei disso. Apesar de ele ter uma visão esquisita sobre mulheres, ele é conservador a ponto de achar que um homem é o arrimo da família, um homem tem que ser correto nos seus princípios. Ok, talvez não seja uma traição. Mas não consigo pensar em mais nada. Já indaguei minha mãe a respeito, mas ela não me disse nada, chorou e me abraçou. Somente.

Estou terminando de me arrumar, coloco os brincos de esmeralda, finalizo a maquiagem, estou pronta, no relógio já está na hora. Saio do quarto seguindo pelo corredor, como se tivéssemos marcado, Richie também sai do seu quarto, descemos os dois lado a lado, em silêncio, quando chegamos lá, mamãe já está, sentada em uma ponta da mesa, me sento ao seu lado, Richie se senta ao lado da cadeira de papai, que fica na outra ponta.

Papai se atrasa, o que não é muito comum, os funcionários estão em pé, aguardando para começar servir, mamãe está calada, eu quero dizer que senti falta dela, mas nada sai da minha boca, Richie está com o garfo na mão rodando sobre o prato. Quinze minutos depois, papai chega:

- Boa noite, família.

Ele diz, vai até a mamãe e beija a sua testa. Mamãe levanta a cabeça e sorri. Não é verdadeiro. Mas ela permanece assim por um tempo, até que ele dê a volta na mesa de vinte cadeiras e vai se sentar na outra ponta. Um funcionário puxa a cadeira para ele, ele se senta. Eles começam a servir. Apenas ouço o estrepitoso som das louças e garfos. O silêncio é tão alto que chega assustar.

Alguns minutos se passam, já estamos terminando, uma funcionária vem servir a sobremesa, papai pede a ela que comece por mim. Eu sorrio, mas já sei qual sua intenção. Após todos serem servidos, ele me olha e começa seu discurso:

- Rebecca, você já deve saber o motivo de eu ter convocado esse jantar. Sua mãe veio da Itália para ter conosco, sabe que é importante. Richie já deve ter anunciado a razão. Então não vou me delongar.

Todos param de comer e olham para ele. Ele não parece nervoso ou ansioso para dizer qualquer coisa, os funcionários começam a recolher tudo sobre a mesa. Papai se levanta, acho estranho, geralmente os anúncios são feitos à mesa. Então ele olha para trás, estamos todos ainda sentados, olhando uns para os outros, sem entender. Como se fosse a coisa mais natural, ele diz:

The laws of loveOnde histórias criam vida. Descubra agora