Capítulo 3: Parte 1: Família

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Para esse capítulo inteiro, parte um e dois recomendamos a música Clocks - ColdPlay, pedimos desculpas pela demora na postagem, mas tivemos alguns contratempos. Não desistam de nós, falem o que estão achando, gostamos de saber. 


Becky

Faz dois dias desde que me encontrei com Sarocha, se eu pudesse falar sobre um sentimento que está no meu coração desde então seria: ódio. Eu não sei o que foi exatamente, eu já lidei com pessoas arrogantes outras vezes. Mas Sarocha despertou em mim, algo que eu não via há muito tempo, um ódio profundo e uma vontade louca de brigar com ela, de xingar ela.

Estou neste exato momento olhando para o espelho, tentando me acalmar, não pode ser que este sentimento irá ficar dentro de mim para sempre. Eu preciso me livrar dele. Há anos estou trabalhando para ser uma pessoa melhor. Sarocha não é ninguém, não pode abalar minha paz de espírito e não vai. Ouço alguém bater na porta, peço que entre, é Richie, meu irmão.

- Olá, princesa.

Richie é hoje minha maior referência do mundo, se eu pudesse dizer que tenho um amigo, é ele. Ele cuida de mim, me apoia, me mantém longe das minhas loucuras adolescentes, me mantém a salvo de alguns sentimentos que me brotam quando meu pai me atinge com suas palavras duras. Richie entra e já me abraça, sinto seus braços em torno do meu pescoço, seus braços são firmes, apesar de ele ser magro.

Geralmente não costumo retribuir abraços, sei que isso não é muito certo, mas se você quer alcançar algum objetivo na vida, você precisa focar e esquecer seus sentimentos, sua liberdade e focar. É o que eu tenho feito há algum tempo. Tem funcionando, estou firme em meu propósito. Richie, obviamente reclama.

- Isso não é um abraço. - Eu sorrio. - Vamos Becky. Me abrace. - Levanto os braços, coloco sobre seus ombros. Ouço-o gargalhar. - Becky, vamos, aperte. Abraço é aperto, aconchego.

Eu aperto ele, sinto certo conforto, ele me segura firme, me dá um beijo na cabeça.

- Qual o propósito dessa sua visita?

Eu pergunto para que ele vá direto ao assunto, Richie faz isso, ele gosta de me "amaciar" para dizer algo. Acredito que pela cara que ele faz ao se afastar de mim, seja relacionado a meu pai.

- Por que você acha que tenho um propósito?

Eu sei que ele tem, se não tivesse, ele estaria rindo diferente. Eu o conheço.

- Diga.

- Ok. Papai quer um jantar hoje, em família. Ele disse que a presença de todos é fundamental, ele tem uma notícia para dar.

- Do que se trata?

- Você sabe como o papai é.

Ele olha para o chão enquanto fala, está sentado na minha cama. Eu ainda estou na cadeira, em frente a penteadeira.

- Richie.

- Becky, acho melhor você saber por ele.

- Não, eu não quero saber da boca dele. Quero saber da sua.

- Você não sabe o que é para tomar essa decisão.

- É tão grave assim?

- Não é, bem, não é grave. Ele só esta sendo ele novamente. Então, ele quer... bem ele está...

- Richie?

Falo um pouco mais alto agora, estou agoniada.

- Ele disse que está na hora de você arrumar um pretendente ele falou que após o caso da Bit Company ele acha que você precisará se casar e que você já tem idade essas coisas.

Richie fala tudo tão rápido e sem pausa, que eu perco o ar. Ele me olha agora, seu olhar está triste. O primeiro pensamento que me vem é de que meu pai só pode estar louco. Que século ele acha que vivemos? De onde ele tirou essas ideias?

- Papai só pode estar louco, Richie. Não faz sentindo algum. Não posso me casar apenas porque ele quer. E o que tem haver o fim do caso Chankimha com isso?

- Olha, Becky. Eu realmente não sei sobre isso. Mas ele está irredutível, disse que uma mulher como você que está tão focada na carreira...

Eu o interrompo, sei que papai não disse desta forma.

- Ele disse "focada na carreira"?

Falo, levantando os dedos para produzir aspas.

- Bem, não foi exatamente isso. Mas foi o que ele quis dizer, sabe?

- Diga como ele disse, não precisa esconder nada, eu já sou adulta, posso lidar com tudo isso. Não sou mais uma criança, Richie. Você não precisa cuidar de mim.

Ele sorri ternamente, aponta a mão para a cama pedindo que eu me aproxime, eu vou até ele, me sento ao seu lado, ele retoma a fala:

- É estranho ver que você não é mais um menininha Becky. Não me fale isso. Me sinto estranho com essa informação. Eu sei que ela é verdadeira. Mas olhe para você, é uma mulher linda, inteligente, sabe o que quer, corre atrás. E o papai, bem, o papai é o papai.

Estou sorrindo, mas logo paro. Olho para ele, Richie está triste. Fico pensando na nossa infância, no quanto nos divertíamos. Lembro que na adolescência, ele sempre estava lá, para cuidar de mim. Todas as vezes. Assumiu a culpa de diversas coisas erradas que eu fiz, na escola, em casa. Eu pensava que Richie era um adolescente esquisito, duro demais com ele e com as pessoas. Com papai. Mas na realidade, Richie nunca deixou nenhum mal me atingir, até que eu cresci e entendi tudo. Cada coisa que ele precisou vivenciar para me livrar de tudo de ruim que a vida oferecia.

As vezes eu acredito que faço tudo isso para provar ao papai alguma coisa, fico nessa dúvida. Porém, outras vezes sei que é para recompensar o esforço de Richie. Tudo que ele fez por mim. Eu não posso ser mais aquela garota irresponsável, nem por papai, nem por Richie, nem por mim. Não quero Richie sofrendo as consequências de tudo. Olho para ele, suas sobrancelhas estão baixas, no centro da testa uma ruga, seus lábios imóveis, suas mãos nervosas. Ele não quer me dizer, mas preciso ouvir.

- Richie, pode me dizer, como você disse, sou uma mulher, sou adulta, eu aguento.

- Papai disse que vai permitir que você brinque de advogada nesse caso sem fundamento, que depois que você conseguir a atenção que merece, será melhor formar uma família, ocupando o posto de uma mulher Armstrong.

Meus olhos se enchem de lágrimas, não permito que elas caiam, Richie vem mais próximo de mim. Tenta me abraçar, eu o afasto.

- Obrigada Richie. - Eu digo tentando respirar e não chorar. - Mas agora eu preciso estudar um pouco mais sobre meu novo brinquedinho. Depois nos falamos.

Me levanto da cama, caminho até a porta, a abro e olho para Richie. Ele fica um tempo olhando para o chão, depois abre a boca para falar algo. Se levanta, dá dois passos, para, me olha, caminha mais um pouco. Agora ele está de frente para mim. Se aproxima de mim, segura meus braços com as suas mãos. Beija o topo da minha cabeça, me olha nos olhos e se vai. Antes mesmo que eu feche a porta Richie, sinto as lágrimas escorrendo.

Na minha mente ecoa "brincar de advogada" "brincar de advogada". Que diabos é isso? Eu tenho um ótimo currículo, tirei ótimas notas, estudo, me esforço, como eu, posso "brincar de ser advogada". Tranco a porta do quarto e me deito na minha cama. Permito que as lágrimas caiam, ninguém pode ver como me sinto. Eu sinto. 

The laws of loveOnde histórias criam vida. Descubra agora