CAPÍTULO CINCO

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                       NARA SHIVA

    De fato, já tinha passado muito da hora em que ela costumava dormir, a lua no meio do céu avisava que já passava da meia-noite. Nos próximos dias todas as guerreiras participariam de um treinamento intensivo para se preparar para a escolha das próprias armas. Mas a julgar pelo desempenho com o verme de Middengard, muitas delas tinham passado pelo teste.

― Filha, vamos para casa, já está muito tarde. Deixa a conversa para daqui a pouco. ― Nalum olhou rapidamente para mim antes de se voltar novamente para a mãe e se despedir em voz baixa.

― Nara, já recebeu resposta da esgrimista campeã do mundo? Ela virá testar a capacidade das meninas? ― Esther perguntou, antes de chamar a atenção de seu filho caçula que sobrevoava o fosso onde o Middengard rugia enfraquecido. Antes do final da próxima tarde ele estaria morto.

― A secretaria da Ezra Scarlet adiantou que amanhã, ou melhor, hoje às onze e meia me daria uma resposta. Parece que a campeã está em competição em outro país. ― Respondi, apertando levemente a tipoia onde meu braço descansava, sob o olhar atento da minha beta. Por nossa ligação de juramento, ela sentia minha dor física como um desconforto no mesmo local onde para mim a dor era intensa, apesar de já estar cicatrizando, como o esperado para minha genética.

― Espero que ela venha. Pelo relatório que Anael me mandou, ela é a melhor do mundo, ninguém conquistou mais prêmios e medalha.
No outro dia, acordei com o sol entrando e se espalhando pela cama cujo lençol e travesseiros já tinham ido parar no chão. Depois que fui mãe, meu sono ficou tumultuado, me mexo muito. É como se dormindo todas as minhas aflições e medos fossem liberados e circulassem no quarto me assustando durante o sono.
Ainda tonta com a preguiça matinal, fui fechar a cortina e me assustei com o sol queimando minha pele. Será que eu tinha dormido demais? Olhei para o relógio de parede à minha frente. Eram apenas sete da manhã. Caralho, o sol de sete horas queimava igual ao do meio-dia. Os humanos estavam mesmo alterando tanto a natureza que ela enlouqueceu.
Tomei um banho gelado, me lavando mais de uma vez para me livrar da sensação de sujeira que ficou depois da noite passada, e passei um creme hidratante no corpo inteiro.
― Bom dia, Bela Adormecida, como está o braço? ― Nalum falou da cozinha, onde deveria estar passando um bife para o café se cheiro bom espalhado na casa fosse alguma pista. Mas o cheiro que atiçava meu nariz não era o da refeição, era um conhecido pelas minhas células. O cheiro da Nyxs. Se ela tinha passado por aqui, então estava bem, da mesma forma que meu braço estava bem, como se nunca tivesse quebrado.

― Bom dia, amor. Estou ótima, mas vou passar na Ananya para ela dar uma olhada no meu braço. Você caiu da cama? Comendo carne a essa hora… ― Cheguei perto para beijar sua cabeça, aproveitando para espiar na frigideira dois pedaços generosos de carne quase crua. Na mesa havia três pratos. Alguém já tinha se servido, deixando um copo de suco pela metade com o líquido ainda oscilando, como se tivesse saído às pressas. Nos outros pratos havia alface, cebola, pimentão, pepino, chia, pão de forma e frutas.

― Estou em fase de crescimento, preciso de muita proteína. ― Justificou, tirando do fogo uma panela cheia de ovos cozidos
― Eu tenho medo dessa fase, quando passei por ela minha barriga parecia que era cheia de solitárias de tanta fome que eu sentia. E olha que só cheguei a um metro e noventa, e isso depois que passei pelo multiverso. Agora você já está quase do meu tamanho e ainda vai fazer catorze, quão alta vai ficar? ― Peguei um prato fundo para pôr os ovos descascados enquanto fazia um exame rápido na minha garotinha.

― O papai disse que vou ser a mais alta da família. ― Nalum chamava meu pai Ziam de pai. Ele ficava todo derretido, o que causava briga com minha irmã Calíope, que era muito ciumenta.

🏳️‍🌈Bruxas e Guerreiras vol.03Onde histórias criam vida. Descubra agora