CAPÍTULO SETE

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                                             3077 palavras.


                    NARA SHIVA

       Minha  mãe entrou no quarto sem bater. Ela nunca batia, nem mesmo quando eu passei a morar com Amkaly. Se eu falasse qualquer coisa, começava um falatório de não ter nada que ela nunca tenha visto, que limpou meu bumbum e que eu devia parar de frescura… Era melhor não dizer nada, só ouvir.

― Continua assim, minha filha! Seu pai está uma pilha de nervos. Já a neta parece não dar a mínima importância para os acontecimentos do dia. ― Dona Nádia tentava disfarçar, mas também estava inquieta, as mãos não paravam, toda hora alisando o vestido floral impecável. Me aproximei, de costas para que fechasse os últimos botões da minha blusa.

― Credo, filha, está mais alta do que seu pai. Aliás, você e as guerreiras todas estão acima da média de altura. Você tem o que, dois metros? 

 ― Não sei... Não tenho tempo para me medir. Mas com a quantidade de exercícios que eu e as lobas praticamos diariamente, tinha que dar nisso: lobas enormes.

― A Nalum só tem catorze anos e está mais alta do que eu, quase da altura do Ziam. ― Tagarelou, passando a mão nas duas asas disfarçadas em tatuagem nas minhas costas, herança da minha parceira quando completei o laço. ― Suas asas são tão lindas. Se parecem muito com as da Nalum e da Nyxs, a cor é a mesma. São asas de quê? Gavião?

― A Aldra acha que são de águia.

― Sua companheira também tinha asas? Ainda lembra muito dela? ― Dona Nádia é dessas mães que fazem muitas perguntas de uma vez só e te fazem dizer o que não deve.

― Eu nunca falo porque de nada adianta, mas isso não quer dizer que não pense nela a cada segundo. ― Durante o dia, eu não tinha tempo para pensar, devido aos treinos intensos, mas à noite, quando tudo se acalmava, a dor queimava no peito, a saudade me afogando. Nos últimos dias, essa saudade vinha diminuindo. Nyxs aparecia a todo momento e me distraía, seu cheiro diminuía minha saudade. Nos dias em que não a vejo, é Nalum que me derruba no cansaço. Mesmo cansada, eu acabava indo treinar mais umas ou duas horas. A garota estava ficando melhor do que eu com a espada. Seus ataques eram precisos, quando chegasse na fase adulta seria absolutamente letal.

― Narinha, filha, eu estou falando com você. ― Minha mãe bateu no meu braço de leve, chamando minha atenção.

― Eu sei, mamãe. Estava tentando lembrar. Não lembro de ter visto ou tocado em asas antes. Mas como eu recebi essas na hora do ritual, acredito que ela tenha de nascença ou ganhou de presente junto comigo, assim como as alianças que ganhamos após nossa filha nascer na prisão.

― Esse anel lindo que você tem no dedo é uma aliança de compromisso? ― Desta vez mamãe parou de respirar, segurando minha mão com delicadeza e girando a aliança de ródio negro, ouro e prata. No centro, havia a letra N e uma data. ― É linda, nunca achei que fosse de união, é bem diferente dos anéis que conhecemos. Sua companheira também tem uma?

― Sim, eu trouxe comigo. Deixo sempre no cofre, no dia em que Nyxs lembrar da nossa história eu devolvo a aliança dela. Ela ainda tem a marca em seu dedo, bem fina, não sei se sabe a história.

       Nalum nunca viu. Tenho medo que ela se lembre de que, na hora que estava sendo forjada, ela tinha acabado de nascer e estava mamando, recebendo vida através do leite da mãe e junto recebendo as informações no DNA. As lembranças. Quando ela olha a minha aliança no dedão, acha intrigante e fascinante. Por isso, permanece trancada.

🏳️‍🌈Bruxas e Guerreiras vol.03Onde histórias criam vida. Descubra agora