CAPÍTULO DEZ

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                              NYXS

       Eu sabia que minha mãe queria recusar, por isso levantei rápido e tomei a iniciativa.

― Ainda bem, esse engraçadinho aqui ― Apontei sem educação para o lobo. ― fica o tempo todo na minha frente, eu quase não vejo nada. ― Acusei e já fui descendo, sem dar chance da minha mãe Lilith dizer não e parecer grosseira na frente da mãe da alfa.
Não sei se foi impressão minha, mas percebi dona Nádia sorrindo. De soslaio, olhei para as minhas mães. Só uma me fuzilava com os olhos, mas ficar perto de Nara valia o risco. Fomos até as cadeiras reservadas à família da alfa, sempre acompanhadas de perto por um par de olhos cuja dona não gostava nada do que via. Amkaly parecia querer me esganar. Ela teria que entrar na fila
Dona Nádia me convidou para sentar entre ela e sua filha, o que muito me alegrou. Sua mão apoiada próxima à minha no braço da cadeira era como um toque fantasma.

― Acho aquela espada que a Nalum escolheu muito pesada para o manuseio numa competição desse tipo. ― Ziam comentou, chamando a atenção da filha.
A espada era uma réplica da Excalibur, com 115cm de comprimento e pesando quase 2 quilos. No cabo de madeira estavam incrustadas inúmeras pedras semipreciosas das mais variadas cores. Por mais que sua filha fosse capaz e treinada para a luta, ela ia disputar com a melhor do mundo, a mulher que primeiro estudava seus adversários e suas fraquezas para, em seguida, derrotá-los da forma mais humilhante para um lutador. Ao perceber a preocupação da família, Nyxs se manifestou antes que fizessem algo.

― Senhor Ziam e Nara, com todo respeito, a Nana está acostumada com essa espada. Treinamos juntas todas as noites, antes de você voltar da academia. ― Ela se esforçou para demonstrar confiança, mesmo que nada do que disse fosse verdade.

― Há quanto tempo vocês vêm treinando sem que eu saiba? ― Nara questionou, sem erguer a voz ou parecer rude, deixando Nyxs confortável para contar a verdade.

― Desde que ganhei o direito de ter o meu arco e flecha e, por vontade própria, escolhi junto o direito a uma espada. Eu ensinei a Nana tudo que sei sobre arco e flecha, a atirar sentindo a música do vento e de olhos vendados. Ela me ensinou a esgrima.
― Explicou. ― No começo, só o básico. Mas no último ano lutamos de olhos vendados. Somos ótimas nas duas modalidades, eu juro. ― Estava começando a ficar nervosa com a alfa a examinando sem dizer uma palavra.

― Quem mais sabe usar uma arma que não foi escolhida como a sua, forjada no mundo paralelo? ― Nara a olhava de um modo que Nyxs interpretou como descrença.

― Todas nós sabemos usar todas as armas. Até mesmo lutamos de olhos vendados. ― A sua chance de conquistar a alfa agora tinha ido para o ralo. Isso era uma desobediência clara às suas ordens, cada guerreira só podia utilizar as armas mediante a orientação de um adulto.

― E onde e quando vocês treinam? Por que nunca vimos ou ouvimos nada? ― Ziam perguntou.

― Toda noite, quando os treinos encerram e nossas mães vão para o conselho praticar suas defesas, nós vamos para a gruta da Pedra Furada com todas as armas. Formamos duplas e eu crio uma bolha de ar para impedir o som de viajar. Iara ensinou as corujas a nos alertar caso uma das mães volte antes do programado. Nesse caso, Manon abre um portal e chegamos em casa antes que percebam.

― Quem teve a ideia? E por que não nos contou? ― Nara questionou, disfarçando um sorriso.

― Eu tive a ideia, depois de tanto ouvir sobre a luta para salvar Irasfil. Conversei com as meninas e elas concordaram comigo. Tentamos falar com as instrutoras, mas elas não quiseram ouvir, então fomos treinar escondidas. ― Justificou, começando a ficar nervosa. ― Não podemos ser boas só com uma arma, eu quero ser capaz de defender a vida do meu povo o que tiver disponível e ser boa no que faço. Por isso, lutamos de olhos vendados. Nós fizemos um juramento de sangue na gruta: quando não pudermos usar magia, usaremos armas. Quando estas não forem o suficiente, daremos nossa vida pela liberdade do nosso povo.
Pronto, agora era questão de tempo até que fosse punida por sua insubordinação e por colocar a sua vida e das meninas em risco. Mas o que mais doía era saber que Nara associaria sua traição à de Amkaly. Por isso, abaixou a cabeça e não falou mais nada. Nem mesmo percebeu o olhar de cumplicidade que Nara e seus pais trocaram em silêncio. Decidiu então voltar sua atenção a Nahemah, que ditava as regras da disputa.

🏳️‍🌈Bruxas e Guerreiras vol.03Onde histórias criam vida. Descubra agora