Nyxs
Paralisei quando ouvi o pedido. E se ela sentisse o mesmo desejo de transar que eu senti? Porque, quando Nara tocou minhas asas e a ponta dos seus dedos acariciaram de leve minhas penas, a vibração reverberou por todo meu corpo. Como se estivesse fazendo carinho com os dedos bem no meio das minhas pernas. Seu corpo macio encostado ao meu era como um convite para acasalar, como os animais de penas fazem com as fêmeas durante a cópula, e minha excitação aumentou.
Estávamos invisíveis para todos menos meu círculo de guerreiras, que ergueram junto comigo a barreira para nos manter fora da vista, sem perguntar o porquê.As asas idênticas às minhas, porém muito maiores, se espalhavam para fora da cavidade como se o local não pudesse comportar seu tamanho. Nas extremidades, as penas estavam dispostas de forma não alinhada, com intervalos entre elas que formavam chanfraduras parecidas com minúsculos dentes. Isso permitia que na hora do vôo, mesmo com vento forte, o deslocamento fosse silencioso e a presa não percebesse que seria atacada.
Não consegui conter a felicidade que me invadiu quando entendi. Nós duas. Um casal de gavião-rei. Macho e fêmea. Até mesmo quando nos transformássemos em aves seríamos parceiras.
O desejo de acasalar voltou, e tenho certeza que Nara sentia o mesmo. Me aproximei, as mãos trêmulas com nervosismo, e acariciei seus ombros. Desci a mão devagarinho, indo em direção ao início das asas. O calor da sua pele nua pulsava sob meus dedos e o meu coração pulsava de volta no mesmo ritmo. Aproximei o rosto para sentir seu cheiro. Nuvem e chuva e raios.
Seus músculos tencionaram sob meu toque e a respiração ficou mais rápida, quase ofegante. Continuei traçando sua pele, os músculos, os apêndices membranosos que circulavam ar pelas asas e quase nada de sangue... Não sei bem onde encostei, mas senti o vento no rosto e o som estrondoso das asas abrindo repentinamente em todo o seu esplendor. Senti meu rosto arder e algo quente escorrendo, mas não me importei. Abracei a alfapor trás, a segurando pela cintura e ajudando a sustentar parte do seu peso. Dava para sentir o cheiro do meu sangue e sei que Nara também sentiu.
― O que foi? Está machucada? Senti o cheiro do teu sangue. ― Ela tentou olhar por cima da asa, mas era grande demais.
― Não foi nada. Estou bem, fique quieta. ― Minha voz saiu esganiçada, aguda como o miado de um gato, de tão nervosa que estava.
Continuei com a exploração. As penas eram lindas, cobertas até a ponta com uma cera natural que as deixava com um brilho incrível. A envergadura enorme com certeza pesava muito, mais de dois metros de asas puxavam pele e músculos para baixo.
Passei o dedo pela parte de dentro da asa. Nara fez um som estranho, como se estivesse guinchando baixinho ou arrulhando. Minha libido despertou com choque. Tudo o que eu queria era perder a virgindade, naquele exato momento e lugar. Passei a língua nos lábios e estava pronta para dizer alguma coisa, não tenho certeza do quê, quando as asas sumiram do nada e Nara se desvencilhou de mim. Cambaleei, confusa, vendo ela se vestir apressada. Seus movimentos eram rígidos e contidos.
― Suas costas doem muito. ― Ela só balançou a cabeça afirmativamente sem me encarar.
Eu sabia como estava sua libido, podia sentir o cheiro de sua excitação. Mas o fato de querer esconder, ou não se sentir à vontade com seu corpo, me deixava na defensiva. Me senti na obrigação de respeitar esse momento dela e apenas sentei ao seu lado, esperando.― Me desculpe, Nyxs, eu não tinha noção de que isso poderia acontecer. Estou morta de vergonha.
― Que besteira? Do que está falando? Se for o fato de ter ficada excitada, não vejo isso como uma besteira e sim como uma reação natural da espécie. Quando tocou nas minhas asas eu me senti da mesma forma, e nem por isso estou pirando. Parece que somos um casal de gaviões e, pelo que percebi, é só nossa natureza se reconhecendo. Não tem nada do que se envergonhar, mas acho que precisamos de informação de alguém que saiba mais do que nós.
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🏳️🌈Bruxas e Guerreiras vol.03
General FictionSINOPSE Com seu povo e suas tradições, Nara Shiva aprendeu desde que nasceu, que a morte nada mais é que a metamorfose do organismo vivo, do corpo da carcaça, as lobas não são e nunca foram nunca foram humanas. O espirito de uma loba espera anos...