CAPÍTULO CINQUENTA E SETE

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                              Nara             

      Um frio gelado arrepiou minha pele, me fazendo esfregar uma mão na outra em busca de calor. Caminhei lentamente dentro do salão vazio, esfregando os braços. Mais adiante, uma moça saiu de uma das várias cabines espalhadas ao redor do grande salão. Ao perceber que eu estava com frio, pegou um controle que estava esquecido no bolso de sua calça jeans e aumentou a temperatura. Fez um sinal de joinha, exibindo um sorriso lindo, e pronunciou lentamente um pedido desculpas pelo ar gelado. Respondi com um sorriso e um sinal de ok.

      Só então pude perceber o entra e sai dos funcionários nas cabines, organizando e limpando tudo para deixar o ambiente confortável para mais tarde, à noite, quando os casais se exibiriam nas cenas de poder e submissão para os espectadores.

      Fiquei de boca aberta com o luxo e requinte das cabines espalhadas ao longo do dancing, que tinham para todos os gostos e tipos de conta bancária. Da mais simples à mais sofisticada, na parte de cima todas as cabines tinham janelas de vidro fumê, proporcionando uma visão privilegiada para quem estava dentro. Como o clube foi projetado com o formato de um estádio de futebol, em qualquer uma das cabines o espectador tinha uma excelente visão de todo o palco e de quem circulava na pista de dança, mantendo-se no anonimato.

      No balcão, uma jovem organizava copos, taças e garrafas ao som da música eletrônica tocada em algum lugar. As caixas de som espalhadas por todo o clube reproduziam a mesma batida, em um volume suportável. A música "Hear Me Now" do Alok reverberava nas paredes. Lembrei das meninas treinando com espadas ao som dessa mesma música. Sem perceber, meu corpo respondeu às batidas dos instrumentos eletrônicos.

— Estou vendo que gostou da música.

      Camile apareceu por uma das portas com os braços cheios de toalhas. Ela era linda e cheia de curvas, chegando quase na altura do meu ombro. Seus cabelos sedosos e cor de ouro eram feitos para serem adorados. Eu entendia por que homens e mulheres pagavam um valor alto para passar um tempo ao lado da loira. Ela passou rapidamente e depositou as toalhas em um cesto imenso onde já se viam várias outras.

— Eu não sabia que você fazia trabalho braçal. Pensei que seu negócio fosse administrar os lucros e gastar com prazeres exóticos.

       Camile me olhou de cima a baixo, passou a língua nos lábios e sorriu, mas dessa vez percebi que estava brincando, sem malícia.

— Tipo dar um banho com o mel mais raro em uma certa alfa e depois lamber de baixo para cima? Esse é um dos meus planos que se perderam no passado, quando soube que essa alfa está transando com a neta de sua beta, e a coisa parece séria.

Não confirmei nem neguei. Minha vida não era da conta de ninguém.

— Não sabia que havia tantas cabines neste clube. Como você mantém essa ilha no anonimato com tanto espaço para clientes? Esse era o meu maior medo, os humanos descobrirem a raça que habita a ilha. Já tivemos problemas antes e eu não queria enfrentar outros.

— Uma das exigências quando vendemos o pacote é que quem compra o passe deve vir vendado, seja de helicóptero ou de barco. Eles não vêem o caminho. E, até agora, não tive problemas com isso.

Camile ainda em pé me observava, tentando adivinhar o motivo da minha visita.

— Estou procurando Amkaly. Você sabe dela? A viu por aí?

     Ela não pareceu dar muita importância à pergunta. Caminhou para a próxima cabine, entrando sem olhar se eu a seguia ou se eu ainda estava parada lá atrás. Fui junto e me apoiei na porta aberta enquanto a observava retirar as fronhas das almofadas espalhadas nas cadeiras.

🏳️‍🌈Bruxas e Guerreiras vol.03Onde histórias criam vida. Descubra agora