CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

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                        NARA SHIVA

       Aparecemos no meio da sala, abraçadas e assustadas. Levou uns segundos para voltar a respirar. Nyxs olhava com uma expressão apavorada. Não sabia o que ela tinha visto que eu não via.

— Abaixem as armas, meninas, somos nós — Pedi para acalmar Inaê antes que ela nos atacasse.

— Onde estão a Nana, Iara e Manom? Por que não estão aqui com vocês?

Nyxs estava realmente muito nervosa, procurando as garotas com o olhar.

— Saíram com a mamãe. Qual o problema de vocês?

— O que você viu, Nyxs? Por que nos tirou da praia invisível?

       Nyxs, mais calma, sentou-se e eu me sentei à sua frente. As meninas, inclusive minha irmã, que parecia muito assustada, sentaram-se mais distantes.

— Acabamos de ver Amkaly e Camille caminhando na praia, e a outra mulher se parecia muito com a Sandra, a beta que foi apresentada quando chegamos juntou a elas. Mas o que me deixou arrepiada é que ela  tem uma cobra enrolada no pescoço como adorno. E não é qualquer cobra, é uma taipam adulta.

       O susto foi geral, inclusive o meu, que quase caí da cadeira onde estava sentada. Isso era impossível. Calíope, com sua inocência e falta de conhecimento, falou:

— Então, problema resolvido. Não vejo motivo para tanto. A Nyxs e minha sobrinha não têm controle sobre as cobras?

       Seus olhos azuis, como os meus, brilhavam excitados com a adrenalina. Iara olhou docemente para ela, e antes que alguém respondesse. Iara mesma respondeu, nos surpreendendo mais uma vez. ela nunca gostou de falar, muito menos de demonstrar sentimentos, nem mesmo por sua gêmea.

— A taipan é uma das poucas serpentes que rastejam sobre a terra desde que a grande Deusa criou este mundo em que vivemos. Uma mordida dela mata em menos de trinta minutos e a toxina liberada no veneno é capaz de matar cem homens. É mais venenosa do que a mamba negra. Onde há uma taipan, outras espécies desaparecem.

       O silêncio foi geral. Para nós, que estudamos venenos e suas causas, isso não era novidade. Mas Calíope, com seu olhar evitando o meu, confirmava minhas suspeitas de que aquelas três na praia sabiam mais do que estavam falando.

— Quando o vento passou por mim e por Nara, a serpente sentiu e estava nos procurando. Foi quando nos tornamos invisíveis. — Disse Nyxs de uma vez só. Para minha surpresa, minha irmã se levantou e olhou para Iara, que também se ergueu para bloquear sua passagem e tapou a porta com seu corpo.

— Não se preocupe. O perigo será se a cobra encontrar minha mãe. Ela é louca por couro original de cobra. E se duvidar arranca até o couro da dona da cobra.

       As meninas riram e Calíope pareceu constrangida. Como estava sentada mais próxima da porta, puxei-a de volta, obrigando-a a se sentar no meu colo como se fosse uma lobinha pequena. Beijei seus cabelos e apertei sua cintura para que não saísse do abraço, deixando-a constrangida com essa demonstração de carinho em público.

— Eu sei o que está pensando. Como minha filha tem esse dom com as cobras, ela também pode estar em perigo. Mas Esther cuida dela com a própria vida, e elas estão com Manom. Fique tranquila.

       Iara observava de longe como Calíope resistia à minha demonstração de carinho. Ela não disse nada, não foi preciso. Iara jamais demonstrou qualquer sentimento além de sorrisos debochados ou raiva pouco contida, até o dia em que Calíope alucinou e explodiu em chamas. Iara explodiu em água, de todas as formas, para conter o fogo. Foi aí que percebi que algo havia derretido na loba, que agora disfarçadamente fingia não dar importância ao fato de minha irmã estar sentada no meu colo. No fundo, ela queria estar no meu lugar. Quando percebeu que eu havia notado, fez um gesto obsceno com o dedo e saiu do chalé, ficando na varanda. Observei minha irmã seguir com o olhar para onde a loba caminhava.

🏳️‍🌈Bruxas e Guerreiras vol.03Onde histórias criam vida. Descubra agora