CAPÍTULO QUARENTA E SEIS

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                     NARA SHIVA
        A ilha estava mais completo silêncio. A noite de lua e fogueira tinha se esticado até às 4 da tarde como vinha acontecendo nos últimos dias. Os rapazes do Darius extravasavam nas orgias sem pensar no amanhã. Ninguém tinha o menor  interesse em saber o que estava acontecendo ou de onde vinha a carne que consumiam. Até mesmo Darius se recusava a amadurecer e colocar um pouco de juízo na mente dos lobos. Só pensavam em bebidas, drogas e sexo sem compromisso. Por isso a ilha estava sendo alvo de assassinatos e sabe-se a oque mais vinha acontecendo à luz do dia. 

        Meu maior receio era saber que  Amkaly estava ciente das artimanhas das amigas e mesmo assim não dizia nada. As três tornaram-se inseparáveis durante esse tempo que estivemos na ilha. Ela só tinha interesse em se divertir, nunca procurou saber como estavam as buscas. Era como se estivesse tirando as férias que não conseguia na reserva.

       Na casa sede a porta estava totalmente aberta, Darius nunca a trancava. Eu ouvia nitidamente a respiração lenta de cinco pessoas. Três fêmeas e dois machos. Já estava abrindo a boca para chamar quando ouvi passos sutis do lado de dentro. Fiquei inerte, ouvindo as batidas do coração do invasor. Não estava tão acelerado quanto deveria caso estivesse ali para cometer um crime.

 .      O vento do fim de tarde arrastava folhas amareladas pelo chão e o sol deslizava com preguiça até cair dentro do mar. Estava na dúvida entre entrar, bater ou ir embora, mas acabei optando por esperar na praia.

       Já estava a uma boa distância da casa quando ouvi o som de pés muito pequenos ao meu lado. Uma menina corria diretamente para o mar. Fiquei pasma, a garota não deveria ter mais do que seis anos. Seu tom de pele acinzentado e sem brilho era anormal para uma criança. Seus cabelos longos e pretos estavam cheios de nós, há muito não eram penteados, e suas costelas saltadas para fora do corpinho indicavam que estava sendo privada de alimentos, o que contradizia a força que ela exibia ao correr. Crianças desnutridas não têm forças nem para abrir os olhos, mas aquela parecia um foguete. Pelas Deusas, o que estava acontecendo na casa de Darius?

       Caminhei rápido para me aproximar da garota, que tinha velocidade anormal para uma criança. Em poucos segundos, ela cobriu toda a enseada, uma imensa faixa de terra misturada com pequenas pedras e algumas pequenas lagoas. Sentei-me na areia próximo à maré e a esperei sair. A garota já estava dentro do mar, nadando despreocupadamente enquanto o dia terminava e a noite começava. Era um horário singular para uma criança tomar banho. Em dado momento, ela mergulhou e emergiu muito mais adiante, onde peixes grandes aparecem com frequência. Talvez não soubesse que dias atrás, nesta mesma praia, apareceram tubarões.

        Pensando no tamanho da criança e em sua segurança, entrei na água com grandes braçadas. A maré estava muito alta, uma criança não aguentaria nadar muito tempo. E se ela estivesse se afogando? Girei em todas as direções, procurando onde ela poderia estar ou, na pior das hipóteses, um corpo infantil boiando na água. Não consegui avistar a garota e retornei à terra firme, esperando que a maré devolvesse o corpo. Estava tão concentrada em observar o mar que me assustei ao ouvir a voz.

— Está me esperando, lobinha? Além disso, toda molhadinha assim, aí eu não resisto. — Amkaly sentou-se ao meu lado, limpando as mãos para tirar o excesso de areia dos dedos, que grudou quando ela se apoiou na terra ao sentar. Seu sorriso estava estranho. Não sabia explicar, mas ela parecia muito diferente. Como se tivesse acabado de acordar ou algo mais. Um desencanto ou desconfiança, além de todas as noites acordadas. Soube que ela vivia em festas e orgias e havia voltado a usar drogas pesadas, talvez fosse isso.

— Na verdade, eu vim falar com o Darius e agora estou esperando por uma lobinha que passou por mim e entrou no mar. Não a vejo sair, tenho medo que ela tenha se afogado. — Falei, sem dar importância ao fato de ser chamada pelo apelido carinhoso que ela costumava usar. Antigamente, eu me sentia acariciada, mas é incrível como as coisas mudam. Agora, ao ouvir esse nome, ouço apenas provocação.

🏳️‍🌈Bruxas e Guerreiras vol.03Onde histórias criam vida. Descubra agora