CAPÍTULO CINQUENTA E UM

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                              NYXS

        Se eu estava feliz? Claro que sim, os últimos dias têm sido os melhores. Estar com a mãe da minha filha era tudo o que eu sempre quis.

        O mais incrível de tudo eram os sonhos que eu tinha cada vez que fazíamos amor — um vislumbre da outra vida, que ainda vou viver ao lado dela, vinha como um filme. Sei que vamos ficar juntas em um mundo que desconheço e lutaremos lado a lado em guerras. Já cheguei a ver as "tias" ordenando que eu fizesse algo, mas não consigo lembrar o quê, enquanto a Nara dorme ao meu lado.

       Quando os sonhos começaram, contei para as "tias". Elas sempre diziam sonhar a mesma coisa ou algo parecido, então temos certeza que são visões do futuro.

        O vento mudou de direção e eu permiti que levasse meus pensamentos embora. O mau cheiro que veio junto me alcançou, fedor de podridão, de carniça. Meu estômago embrulhou e cuspi tudo que comi no almoço. Tapei o nariz com a mão em concha e mergulhei na corrente de ar que trazia consigo o fedor de corpos em decomposição. À medida que me entrava na floresta, ficava cada vez mais forte.

        Eu sabia que algo estava errado naquele lugar. O terreno passava de sólido para lama muito rápido e minhas asas ameaçavam abrir.

—Nara está me ouvindo?

—Sempre! Sua voz grossa e inconfundível fez festa em meu corpo.

—Tem coisas estranhas acontecendo por aqui.

—Tipo o quê? Já estou indo ao seu encontro.

       O local onde estou agora era um terreno sólido e de repente mudou para um pântano com lama podre. Se eu der um passo para trás, estou de volta ao terreno sólido. Tudo aqui tem um fedor dos infernos de cadáver, não existe vida, até mesmo a vegetação é retorcida. Quanto mais eu me aproximo do que pode ser o responsável pelo mau cheiro, mais a lama aumenta. A impressão que tenho é que o pântano quer me prender.

       Volte para o local onde começou a entrar no pântano. Volte sempre de costas, sem pressa. Estou chegando.

        A ligação foi interrompida, apenas um vazio silencioso ficou em seu lugar. Tentei puxar o pé da lama e voltar lentamente, seguindo os conselhos da Nara. Mãos esqueléticas prenderam meus tornozelos. Tentei mais uma vez, mas meus pés pareciam estar colados na lama, e a mão que segurava não cedia. Que falta fazia meu arco e flecha…

        Abaixei com dificuldade e soltei os dedos sem peles que prendiam minha perna um a um. Assim que me vi livre, tirei a mão de dentro da lama e a joguei mais à frente. Se eu estivesse usando um casaco da Esther ou da Helô, poderia guardá-lo e levar para análise, mas com minhas roupas, e prestes a me transformar, era impossível. A mão de ossos encontrou a lama e afundou rapidamente. Algo me dizia que aquele local não estava nesse mundo.

       Meus pés não atendiam ao comando do cérebro, por mais que eu puxasse minhas pernas, elas não saíam do lugar. Aquele pântano estava me segurando. Dei um passo à frente e caminhei sem dificuldade. Mais um passo e, outra vez, estava normal. Voltei um passo para trás e fiquei presa na lama. Que porra era essa? Se tentasse andar para frente, eu conseguia de boa, mas se tentasse voltar, era impossível.

       Para completar a desgraça, minhas asas cismaram de abrir. Com o peso, elas estavam enfiadas na lama até a metade do comprimento e me puxavam para baixo. Comecei a ficar com medo.

/—Nara, apresse o passo, a coisa está piorando! Berrei pelo laço, já em desespero.

—Calma, estou correndo o máximo que posso. Não dá para me teletransportar porque não tenho certeza do local, e o vento não ajuda.

🏳️‍🌈Bruxas e Guerreiras vol.03Onde histórias criam vida. Descubra agora