Visita íntima

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Íris

Ele ficou quieto olhando pra mim. 

Íris: Eu fiz o que estava em meu alcance, Perigo. - limpei as lágrimas e continuei estancando o sangramento - Eu nunca quis te trair, ou até mesmo o J2...na verdade eu não trai nenhum de vocês, tenta me entender. - implorei - A vida é mais complicada do que vocês pensam, não tem como tudo envolver o comando, Perigo...por favor, a única coisa que eu peço é me escuta...escuta o meu lado. 

Perigo: Já estou escutando, íris. - disse sério - Manda o papo, não que isso vai mudar muita coisa. 

Íris: Eu fui abandonada pela minha mãe, perdi meu pai com treze anos, minha irmã se envolveu nas drogas e eu tive que resolver tudo sozinha...a minha vida inteira eu tive que resolver tudo, nunca tive ninguém ao meu lado...nunca tive carinho ou afeto depois que o meu pai morreu. - tirei a blusa e olhei o tanto de sangue, coloquei de volta - Eu nunca quis que ninguém se intrometesse na minha vida, porque não quero em momento algum incomodar...é difícil de entender, eu sei. 

Ele se levantou e foi até a porta, ficou me observando de lá. 

Íris: A minha única família é ela, Perigo...eu não posso perde-la. 

Perigo: Tu não encontrou ela ainda? - neguei - Pois eu encontrei. - tentei me levantar e cai no chão novamente com dor - Mesmo tu indo atrás dos alemão, eu mandei procurarem por ela. 

Íris: Pelo amor de Deus...faz o que tu quiser comigo, mas não machuca ela, Perigo! - implorei 

Ele negou e se aproximou. 

Perigo: Encontraram ela morta, íris. - disse sério parado na minha frente - Ela morreu de overdose. 

Meu coração acelerou, minha respiração ficou ofegante, minhas mãos estava suando frio, meu estomago doendo muito, meu peito estava queimando.
Ouvi um barulho alto no ouvido e me encolhi no chão. 

Tudo estava acabado...
A minha vida tinha acabado. 

Comecei a chorar desesperadamente. 
Eu só queria que tudo isso fosse mentira, mas no fundo eu já sabia que era verdade. 

Íris: Deus...não, não, não. - falei baixinho - Porque, senhor? Porque...porque tu permitiu isso? - falei com a voz rouca - Ela era a única...a única pessoa que eu tinha, Deus...e agora? Eu não tenho mais ninguém. - passei a mão no rosto - Eu...eu não quero ser sozinha! - gritei 

Todas as coisas que eu fiz, só para ver ela bem, não valeu de nada!,

Eu não sei como me sentir, mas um dia talvez eu saiba...um dia talvez eu saiba.

...
Perigo

J2 encontrou o corpo dela dois dias depois, em um lugar que é comum ter bastante moradores de rua e usuários.

Eu não deixei ele ir atrás dela para contar.
Paguei para enterrar ela, não teve cerimonia, nem nada parecido. 

Eu nunca imaginei que a Íris voltaria, nunca poderia imaginar que ela teria essa coragem. 
Estava cheio de ódio da filha da puta, mas ver ela nessa situação toda mexeu comigo. 

Papo reto, nem sei o que está acontecendo comigo, porque eu nunca tive piedade por ninguém. 
Por isso que nas ruas da CDD e de muitas favelas, falam sobre mim.