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Uma semana depois...

Perigo

O J2 estacionou o carro em frente a boca e eu sai todo sorridente. 
Alguns envolvidos ficaram confusos, a maioria não sabia da minha fuga. 

Graças a Deus ocorreu da forma que planejamos. 
Apenas o Dom foi baleado, mas ele está bem. 

A minha fuga foi a dois dias atrás, me escondi no Vidgal para a poeira abaixar. 

Menor: Caralho, Perigo. - se aproximou sorrindo - Quanto tempo! - fez toque comigo 

Perigo: Maior tempão mermo, quase quatro anos. - ele concordou 

Gordo saiu da boca e eu fechei a cara. 
Descobri todas as pilantragens dele. 

Gordo: Porra, irmão. - forçou um sorriso e se aproximou - Tu saiu mesmo, achei que era zoeira, porra. - estendeu a mão e eu fiquei olhando pra cara dele sério - Colfoi, Perigo? Vai falar comigo não? 

Perigo: Agora eu não tenho nada pra falar com tu, mas depois tu vai se foder. - falei com o dedo apontado no rosto dele - To ligado da tuas pilantragem, Gordo! 

Gordo: Pilantragem? Que pilantragem, Perigo? - deu um passo para trás - To segurando a barra pra tu já faz três anos, pra agora tu virar e falar que eu estou de pilantragem contigo? - falou alto e cruzou os braços no altura do peito - Tá me tirando, bandido? 

Perigo: Meu papo com tu não é agora não, parceiro. - falei sério e ele assentiu - Podem levar ele pro forninho! - falei para dois envolvidos - Deixem amarrado nas correntes e não é pra dar comida e muito menos água. 

Gordo: Forninho é pra traidor, Perigo. - se aproximou me peitando - Tá querendo dizer que eu te trai, porra? 

Perigo: Eu sei bem mais do que tu imagina, Gordo! - fiz sinal para os caras levarem ele 

Ele foi arrastado pelos meninos e gritou algumas coisas que eu nem dei atenção. 

J2: Bora que hoje é dia de comemoração. - gritou e eu olhei pra ele rindo 

Perigo: Bora, mete o pé. - gritei - Quero os bagulho pronto até oito horas. - dois entraram para a boca e dois foi subindo a favela - J2, papo serin. - ele se aproximou - Agora tu é meu braço direito, tá ligado. - bati no ombro dele - Fechou fechando comigo lá dentro e agora tu vai ficar fortão. - ele assentiu com um sorrisão no rosto - A responsabilidade de manter o gordo lá dentro é tua. - dei dois tapinhas no ombro dele e entrei pra boca 

Ele veio atrás. 

J2: Estou fechadão contigo, Perigo. - disse todo feliz - Agradeço por reconhecer tudo o que eu fiz pra tu, mas tá ligado, não fiz na intenção de ganhar algo, foi de coração mermo, porque sou fiel a tu. 

Perigo: To ligado parceiro. - sentei na minha cadeira - Agora chega com esse papo que tu tá parecendo viado. - ele riu - Vai lá conferir se tá tudo certo com o Gordo e garanta que ele não irá sair de lá! - ele assentiu e saiu da sala, ainda feliz 

Tenho que reconhecer quando a pessoa faz por onde. 
Desde quando a mina lá me falou dele, ele fechou comigo.

Era a qualquer hora e qualquer momento, inclusive quase morreu. 
Ele estava sendo meus olhos e ouvidos lá dentro, por isso tenho que reconhecer todo o esforço. 

Quero uma festa de três dias. 
Com muita bebida, churrasco, droga e mulher. 

...
Íris 

Fiquei sabendo que o Perigo conseguiu fugir do presidio. 
Fiquei feliz por ele sair daquele lugar podre, mas ao mesmo tempo com medo dele vir atrás. 

Ele fez uma promessa e acredito que não vai descumprir. 
Por mais que lá no fundo eu queria que a gente desse certo, eu tenho a plena consciência que perto ele me machuca. 

Não quero viver assim pra sempre, então melhor continuar seguindo a minha vida. 

Me sentei na cama e liguei a televisão. 

Estou trabalhando para a Bruna. 
Cuida das crianças de segunda á sábado, das 06 ás 17h. 

Muito tranquilo, porque as crianças já me conhecem e me respeitam. 
Óbvio que as vezes Miguel e Liz se atracam na porrada, mas estou sabendo lidar com isso. 

Recebi uma mensagem da Bruna e visualizei apenas pela barra de notificação. 
"Se arruma, vamos sair." 

Nem respondi, coloquei um filme e me deitei. 
Maior frio hoje, não quero nem colocar o pé pra fora. 

Bruna é muito baladeira e eu gosto mais de ficar em casa tranquila. 
Até porque quando eu saio pra beber é só humilhação. 

Acordei com batidas na porta. 
Me sentei na cama e ouvi a Bruna me gritar. 

Revirei os olhos, calcei meu chinelo e fui até a porta de Baby Doll. 
Abri e ela estava toda arrumada. 

Bruna: Tu não viu a minha mensagem, vagabunda? - me empurrou e entrou em casa - Vai se arrumar, a gente vai sair - neguei - Bora, para de cú doce. - apontou o dedo para o meu quarto 

Íris: Amiga, eu não vou! - falei séria e a mesma continuou com o dedo indicado para o quarto - Eu sei muito bem que é a festa do perigo lá na CDD, eu não vou! 

Bruna: Poxa, amiga. - se aproximou com cara de cachorro sem dono - Por favorzinho. - fez bico e eu neguei - Vai ser um baile, ele nem vai te ver, cara. 

Íris: Bruna, eu não vou! - me afastei dela - Por favor, respeita a minha decisão. - ela bufou - Cara, entende o meu lado. - bati o pé - Eu não quero encontrar com ele, Bruna...poxa! 

Bruna: Eu não queria ir sozinha, amiga. - me olhou - Mas tudo bem, eu te entendo. - se aproximou da porta - Mas se tu mudar de ideia, me manda mensagem. - falou e saiu 

Eu gosto muito da Bruna, mas tem hora que ela passa dos limites. 
Por ser mulher do chefe, ela não está acostumada com um "não". 
Mas as coisas não tem que funcionar da forma que ela quer sempre! 

Ela sabe muito bem que eu não quero caçar assunto, quero ser esquecida. 
E é aquele ditado "quem não é visto, não é lembrado." 

Estou em paz agora, melhor deixar as coisas como estão. 

Voltei para o meu quarto e me deitei novamente. 

Visita íntimaOnde histórias criam vida. Descubra agora