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Perigo 

O bagulho tá louco aqui dentro, os caras começaram uma rebelião tem uma semana, deu errado.

Os guardas e o direto do presídio estão caindo matando em cima da gente. 
Estamos todos sem visita e liberam apenas uma marmita por dia. 

Tamo comendo o pão que o diabo amassou aqui dentro. 
Bem que dizem, ser preso não é pra qualquer um não. 

Tem quer ter muito psicológico pra ficar aqui dentro muitos anos e também ter nome lá fora, assim ninguém se cresce pra cima de tu. 

Se aqui já era ruim antes, agora piorou. 
O bom é que tenho contato com o pessoal de fora pelo celular. 

Peguei o celular dentro do colchão e vi que a minha mãe tinha mandado um SMS. 
"Boa noite, filho. Falei com Íris hoje, pedi pra ela voltar a te ver, ela disse que não, mas acredito que ela irá pensar nessa possibilidade."

"Te amo, se cuida aí."

Já senti uma parada estranha no peito. 
Sei que bagulho é esse não, nunca senti na vida. 

Parada sinistra, parceiro. 

Aquela maluca sumiu e me deixou com muito bagulho na cabeça. 
De nenhuma forma eu queria me envolver com ela, não dessa forma. 

Era pra ser apenas sexo e mais nada. 
Mas eu vi que ela é uma mina correria, família, tem um bom coração e acabamos se envolvendo de mais. 

Ela faz falta pra caralho. 
Errei muito em ter colocado a mão nela e tenho certeza que já paguei por isso. 
Depois que ela saiu por aquela porta, três guardas entraram e quase me mataram na porrada. 

Fiquei internado um mês. 
Depois que voltei do hospital, fiquei mais um mês na solitária. 

Apanhava três vezes por semana, tomava banho gelado, me davam comida fria ou muita das vezes estragada, sem contato por muito tempo com qualquer pessoa. 

Quase enlouqueci. 

Tu entra aqui e sai dez vezes pior. 
Esse sistema é um lixo! 

....

Íris 

Acordei com o celular vibrando, procurei o mesmo na cama ainda com os olhos fechados. 
Achei e atendi. 

Íris: Alô? - falei com a voz rouca e ninguém respondeu - Quem me incomoda uma hora dessa? - deitei novamente ainda com o celular na orelha e os olhos fechados 

-: Bom dia, preta. - ouvi a voz dele e meu coração acelerou 

Sentei na cama com os olhos arregalados. 
Tirei o celular da orelha e vi o número, estava como privado. 

Íris: Porque você está me ligando? - perguntei confusa 

Perigo: Minha mãe me mandou mensagem e disse que conversou com tu. - passei a mão no rosto, estava suando - Fiquei a noite todinha pensando em tu...to com saudades, pô 

Íris: Tua mãe é foda. - suspirei - Não tinha nem necessidade de falar sobre isso. 

Perigo: Ela gosta de tu, preta...diz que a gente ainda vai casar. - ri - Não ri não, porque eu também acho. 

Íris: Continua sonhando, Pierre. - falei rindo 

Perigo: Me chamou do que? - me deitei na cama novamente 

Íris: Pierre. - gargalhei - Tua mãe que disse que esse era teu nome. 

Perigo: É meu nome, pô. - riu do outro lado - Minha mãe é foda mesmo. Só ela e meu irmão que sabe...agora tu né, minha futura esposa. 

Íris: Chega de lorota, Perigo. 

Perigo: Me chama de Pierre, pô. - revirei os olhos como se ele estivesse vendo - Meu nome é feião, mas tu pronunciando fica bonito, gostei. - sorri - Tá aonde? 

Íris: To na minha casa ué. 

Perigo: Foi pro baile não né? - ri alto - To falando sério, pô. Quero mulher minha em baile sozinha não. - bufou 

Íris: Primeiro que eu nunca fui tua mulher né, querido. - falei rindo - Segundo que faz muito tempo que eu nem sei o que é baile. 

Perigo: Gosto assim. 

Íris: Vou voltar a dormir, tchau. - me cobri 

Perigo: Demoro, Preta. - sorri - Mais tarde eu te ligo. 

Íris: E quem disse que eu quero falar com tu? - ouvi ele rindo 

Perigo: Mas eu quero falar com tu, pô...ouvir tua voz o dia todinho e sei que você vai me atender. 

Íris: Tchau, Perigo! - falei e desliguei na cara dele 

Estava sentindo um bagulho diferente no peito. 

Eu gosto dele, não tem pra que mentir pra mim mesma, pra ele eu posso. 
O problema é quando estamos perto, ele me faz mal. 

Ele tem uma explosão e acaba descontando em mim e eu não quero isso pra minha vida. 


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