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Íris 

Passei a noite todinha acordada, preocupada com a minha irmã.

Deu quatro e meia da manhã e o Gordo já começou a me ligar, me acelerando, expliquei toda a situação pra ele e sabe o que ele disse? "Problema teu, se arruma logo pra tu ir ver o meu irmão."

Esse cara não tem um pingo de empatia!
Como ele pode ser tão ruim como pessoa?

Fui pra casa no ódio e chorando muito.
Cheguei em casa, tomei banho e me troquei, ainda na força do ódio.

Eu odeio ser obrigada a fazer as coisas.

Peguei meus documentos, guardei meu celular em meu quarto e sai de casa.

Hoje o J2 estava me esperando na porta de casa.

Íris: Bom dia de muito ódio. -entrei no banco do motorista, bati a porta do carro e ele me encarou com raiva - Foi mal!

J2: Foi péssimo, gatona! Tu não tá bem problema teu, certo? Vem descontar no meu carro não, porra! - falou e deu partida

Íris: Grosso. - revirei os olhos

J2: E grande. - encarei ele com cara de nojo - Até parece que não gosta, sonsa do caralho. - respirei fundo

Íris: Por quê será que todos os envolvidos são uns babacas e sem noção? ódio de cara assim, papo reto.

J2: Falei na brincadeira fia.

Íris: Nem na brincadeira isso fica legal, cara!

J2: Foi mal, mais não é culpa minha se tu levou para o coração. - cruzei os braços

Íris: Foi péssimo, como tu mesmo diz!

...

Peguei a sacolas com as comidas e sai do carro sem olhar na cara dele.
Entrei na fila e fiquei esperando.

Hoje os procedimentos foram mais rígidos, as mulheres na fila disseram que uma mulher conseguiu entrar com arma, e tentaram fazer uma rebelião.

Mas logo tudo se conteve.

Tive que tirar o chinelo, dobrar ele, jogar o cabelo pra frente, passar pelo bagulho pra detectar o metal e mais uns bagulhos pra conseguir entrar.

Passamos pelas outras portas de ferro e chegamos no pátio.

Ainda não tinha nenhum presidiário lá, me sentei em uma mesa bem afastada.

Uns minutos depois os presos foram liberados. Logo o Perigo me avistou e veio até mim.

Perigo: Bom dia! - sentou no banco ao meu lado

Íris; Só dia, porque não tem nada de bom nele.

Perigo; Colfoi?- ergue a sobrancelha 

Íris: Coisas pessoais! - dei um meio sorriso

Ele começou a comer e as vezes a gente trocava algumas palavras.

Perigo: Tem algo que está te preocupando? - olhei pra ele - Fala ai mina, se eu puder, até ajudo.

Íris: Ajudar? - sorri debochada - Vocês envolvidos só pensam no próprio umbigo e ainda são uns babacas! - falei nervosa

Perigo: Tiro essas conclusões de onde, mina? Te fiz algum bagulho? Tu tá aqui porque quer, certo? Não obriguei ninguém não, fia! - respirei fundo e passei a mão no rosto

Íris: Minha irmã teve uma overdose, está no hospital ainda desacordada...pedi pro Gordo deixar eu ficar com ela, porque eu não sei se daqui cinco minutos ela vai estar viva. - meus olhos se encheram de lágrimas - Ela está quase morrendo, Perigo...se continuar usando drogas ela vai morrer em menos de um ano.

Perigo: Nossa mo b.o, mina. - assenti limpando as lágrimas - Tu não tá recebendo uma grana pra vim até aqui? Pelo que eu sei num é pouco não.

Íris: Não recebo não. É mais complicado do que você pensa. - limpei as lágrimas

Perigo: Fala aí mina, quero te ajudar, pô! - falou sério

Íris: Não perigo, não quero o comando mais uma vez se metendo na minha vida, to tranquila.

Perigo: Comando se metendo na tua vida? Conta esse bagulho direito aí. To nem entendendo nada, papo reto! -neguei- Porque a ordem que eu passei era pra uma mina vim me visitar e ia ser pago 10 mil por mês, agora tu diz que não tá recebendo nada? Como assim mina? Vou trocar um papo direto com o Gordo referente a essa fita aí, num tá certo isso não.

Íris: Não, Perigo. Tá tudo certo, assunto meu e do Gordo, deixa que eu resolvo sozinha, como eu sempre fiz!- suspirei e limpei as minhas lágrimas.

Perigo: To querendo te ajudar pô, só isso. Quero nada em troca não. - começou a comer

Íris: Não é nem a questão de ter que te devolver alguma coisa, algum dia, a questão é que eu sempre dei um jeito e tá tudo bem! - sorri de leve

Olhei pra ele desconfiada, não é possível que ele é tão bonzinho assim.
Um lobo em pele de cordeiro.
Confio nem na minha própria sombra, imagina em bandido.

Eu sempre me virei sem depender de ninguém pra nada e agora não vai ser diferente.

Tudo bem que agora é mais complexo, a vida da minha irmã está em jogo, mas eu sempre do um jeito.

Pelo que ele falou, o combinado era pagar 10 mil pra mina vim em um mês, sendo assim, só mais uma visita e isso aqui acaba e eu posso pensar no que eu vou fazer para deixar a minha vida nos eixos.

Perigo: Tá pensando em que? Ta viajando aí. - falou deixando o pote de lado

Íris: Muita coisa na mente...- suspirei - A vida é difícil, ainda mais quando tu é pobre sofredor. 

Perigo: Mandou o papo direitinho. - assentiu - Pra nós que é preto e favelado, a vida é dez vezes pior, o sistema falta te esmagar. - assenti - Mas não pode desanimar não, pô. Olha pra minha vida, olha como eu to e sigo firme, sei que Deus tá cuidando de tudo e isso me deixa tranquilão. 

Visita íntimaOnde histórias criam vida. Descubra agora