Fedorento

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Quando ele voltou, pegou o porquinho, todo rosinha cheio de pelinhos arrepiados brancos.
—até que não é muito nojento...
—segura ele.
—como segura esse bicho?
—como se fosse um bebê.
—eu nunca segurei um bebê.
—sempre tem as primeiras vezes.

Eu peguei o porquinho e ele ficou... perfeito sem meus braços, nem eu acreditei.
—pegue. Ele me deu a mamadeira e eu coloquei na boca dele e ele foi mamando com um desespero sem tamanho.
—a mãe dele está rejeitando ele.
—QUEM É ESSA PORCA MALDITA?
O homem arregalou os olhos e eu sentei na grama verde com o porquinho.

—não fique por muito tempo, coloque ele no celeiro, fiz uma caminha e à noite pode dar outra mamadeira pra ele?
—posso.
—eu vou terminar as coisas e vamos embora, precisa de algo?
—tá tudo bem.
—já tem notícia do estado dele?
—ainda não.
—se souber algo nos avise por favor.
—ta.

Por que empregados iria querer saber a situação do patrão? Geralmente eles nem gostam do trabalho.
—nossa você come muito em... tenho que esperar você arrotar também? O que eu faço agora? Porco arrota? O que diabos to fazendo, sujando minha roupa cara. Olha fica aí no teu ninho volto depois!

O porquinho ficou todo aberto de papo pra cima cheio de leite e Hailey saiu.
Pensando se era somente isso que poderia fazer, a preocupação ainda não havia saído do seu pensamento as palavras de James ecoavam sem parar. Hailey as vezes via seu tio sentado na cadeira de balanço em frente a janela, achava a coisa mais fútil da vida, uma tremenda perca de tempo. Mas ao olhar à vista que o seu desenhava ficou parada. Depois pensou em fazer algo para comer, a ansiedade lhe tirava a fome e decidiu fazer apenas algo para beber, mas tampouco sabia fazer um café.

Mordeu os lábios e foi até o telefone fixo em cima de um criado de madeira olhou pra ele e começou a discar. Segundos depois a voz de sua mãe soou.
—James tudo bem? Aconteceu algo com a Hailey?
—oi mãe sou eu.  A voz saiu cansada e um tom triste ecoou.
—oi minha filha, decidiu me ligar? O que aconteceu?
—pode me ensinar como faço um chá?
Minha mãe ficou sem reação mesmo sem eu ver o rosto dela, escutei ela pedindo licença a alguém e dando alguns passos, tenho certeza que estava em uma reunião.
—bom, já colocou a água para ferver?
Ela sem questionar muito só foi me dando os passos.
—coloquei.
—de que quer fazer?
—camomila ou canela tanto faz...
—seu tio com certeza deve ter camomila por aí procure nas gavetas.

Ela ficou esperando e Hailey seguindo cada passo.
Até que só faltava coar e colocar na xícara.
—ligo depois.
—precisa de mais alguma coisa?
—não. Desliguei o telefone e fui sentar em frente a janela.

Enquanto pensava, tentei entender meu sentimentos e finalmente percebi que estava com empatia, de fato era estranho para mim. Não serei hipocrita comigo mesmo, eu estava por mais medo por James do que por meu tio,  senti medo que por uma ocultação minha ele estivesse em perigo e morresse. James ficaria sozinho e jamais me perdoaria.
Depois que sentir seu carinho eu não conseguia desejar o mal pra ele, não conseguia ver ele triste.

Nesse momento parecia que escutava a melodia da música Home -Gabrielle Aplin o vento começou a ficar mais forte fazendo barulho nas flores a nuvem escura foi tampando o sol dourado que estava encostando no meu rosto.

Eu olhei tanto para fora imaginando tanta coisa que só me dei conta de ter anoitecido quando o vento frio me abraçava e a xícara já não tinha mais chá. Levantei com minha bunda doendo, dei uma alongada e fechei as janelas. Ainda estava com fome, mas detestaria colocar fogo na casa.
O céu ficou totalmente escuro e os trovões começaram com o barulho chato.

As luzes piscaram algumas vezes e eu logo olhei para o teto.
—sem internet eu até to sobrevivendo, mas sem energia já é demais! Pode sustentar aí!

Fui tomar banho e quando voltei peguei uns cobertores e coloquei no sofá, liguei a pequena tv que só passava um canal de coisas sobre animais e savana. Já que não havia nada pra fazer mesmo.

A noite foi caindo e os raios também.

JAMES ATIVO

—Como ele tá?
—James poderia se acalmar?
—Porra! Já é a terceira vez que pergunto... desculpe.
—precisamos do resultado dos exames ele ficará bem, mas terá que passar a noite aqui em avaliação, vá para casa ele não vai acordar tão cedo.
—vou dormir aqui.

Ela já sabendo da teimosia de quem se tratava nem insistiu em mandá-lo ir embora.
James andava inquieto de um lado para o outro de braços cruzados. James se deu conta da chuva que estava caindo, olhou o céu da janela e ficou ainda mais inquieto até falar:
— Lorenzo, precisa ir ver a maluca.
—ce fala a loirinha?
—se ela não já acabou com a minha casa.
—beleza, eu te ligo, relaxa o velho vai ficar bem. Disse batendo em seu ombro e pegou as chaves.
—não quer mesmo ir pra casa? Ela disse que ele não vai acordar agora.
—mas se acordar é melhor que ele me veja aqui.
—to ligado, mas vamos.
—to de boa.
—beleza, qualquer coisa me liga.
—valeu.
—ah se a Hailey estiver dormindo no sofá mande ela ir pra cama ou irá escutar o dia inteiro que ela tá com dor e é insuportável.
—haha beleza.

Lorenzo saiu e James ficou olhando pra janela, cobriu o Velho e deu passos apressados até a saída, Lorenzo já estava ligando o carro quando viu James e o amigo entrou.
Sem falar nada eles seguiram caminho de volta para a fazenda.

***

—MEU DEUS O FEDORENTINHO! 
Levantei do sofá em um pulo. Eu tinha que dar leite pro renegado.
Mas estava caindo o mundo lá fora, eu procurei por uma sombrinha, mas não encontrei. Será que ele não poderia esperar até amanhã? Ele é só um bebê Hailey!
Eu precisava ir, se esse porquinho morresse por culpa minha James iria me matar também.

Peguei uma toalha como se fosse resolver, coloquei na cabeça e abri a porta.

Meu pior castigo Onde histórias criam vida. Descubra agora