Tempestade

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O vento estava arrastando tudo, os fenos estavam correndo e algumas folhas e as árvores balançando sem parar. Estava escuro e só o caminho a minha frente estava iluminado pela luz da porta.

Senti os pingos gelados nas minhas pernas e mesmo que eu tivesse me coberto inteira que não era o caso eu teria água de chuva até no meu cofrinho de tão forte que estava.

Tentei correr o mais rápido que pude sem cair e me sujar inteira. Que ventania, meus pelos arrepiaram e eu soltei um grito quando um trovão me assustou.
Tudo por aquele recém fedorento.
Andei e andei já estava toda ensopada e desisti da toalha, a água escorri por todo meu corpo e meus cabelos então... nem se fala.
Alcancei o celeiro e abri a porta nem precisei empurrar o vento já fez isso por mim e bateu ela na outra parede de madeira.
—fedorento! fedorento!!
Eu tentei enxergar, mas só vi ele encolhido morrendo de medo no canto quando um raio iluminou o lugar.
—fedorento! Não precisa ter medo, vem.

Outro raio caiu e dessa vez vem próximo e fui eu quem soltei outro grito. Fiquei parada com ele nos braços na toalha molhada e olhando pro lado de fora tremendo, eu preferia dormir aqui ao colocar o pé fora dessas madeiras, o raio caiu tão perto que por um segundo achei que estava no mesmo lugar que eu.
—não precisa ter medo, o máximo que você vai virar é um torresmo e eu?
O porquinho ficou ainda pior.
—olha eu não vou sair daqui! Você precisa comer né! Aaaahh!!  O que a gente faz, e se cair outro raio. O vento trouxe quase que uma enxurrada, pois molhou toda minha cara e o fedorento.
—temos que entrar. Eu dei um passo e escutei o barulho do trovão soltei outro grito e meu coração... senti ele saindo pela minha boca.

—não quero sair!! Não quero!! Comecei a choramingar, mordi minha boca e dei pequenos passos pronta pra correr e meu corpo foi empurrado pra trás após trombar em outro. Abri os olhos imediatamente e James estav na minha frente todo molhado.
—O QUE CARALHO VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? EU ESTAVA PROCURANDO VOCÊ LÁ DENTRO! O QUE FAZ AQUI!
—eu precisava dar comida pro porquinho recém nascido e estava ficando presa aqui dentro com tanta chuva e raio.
—VOCÊ SÓ PODE SER MALUCA!
—to com medo... falei segurando o porquinho e também umas lágrimas insistentes. James passou as mãos no meus cabelos do rosto colocando pra trás e olhando nos meus olhos.
—vamos. Colocou sua mão nas minhas costas e seguimos para dentro de casa, quando coloquei o pé outro raio e eu gritei agarrando a camiseta dele toda molhada. James me deixou abraçá-lo colocando meus cabelos pra trás novamente e disse em um tom ameno.
—tá tudo bem... tá tudo bem... vai tomar um banho, vou fazer um café.

—ele precisa de leite.
— me dá ele, coloca um casaco.
—tá. Eu lhe entreguei o porquinho e fui tomar ganho o mais rápido a água também estava fria, mas rapidamente eu sai e fui colocar uma roupa, uma calça quentinha e o único casaco que tinha era um de pelinhos pink de cropped. Então coloquei uma camiseta por baixo e ele por cima.

Desci secando meu cabelo com uma toalha e James estava esfriando um pouco o leite com a água corrente da pia.
Ele olhou pra mim e nem se importou com minha roupa chamativa.
—me dá ele, vou secar também.
Peguei uma toalha de rosto e fui secar o fedorento sentada no sofá.
—até que você não é fedorento, depois de tanto banho tá parecendo uma realeza sabia? Que tal eu chamar você de rico?

—posso colocar um colar de pérolas em você depois...
—não se apegue a um porco. Ríspido
—eu não vou, só estou conversando com ele, tenho que admitir enquanto pequeno ele é uma fofura.
—aqui! Me entregou a mamadeira e ele começou a tomar daquele jeito desesperado.

Eu vi as luzes piscarem novamente e segundos depois elas apagaram de vez. O porquinho fez um barulho. Que medroso, mas quem eu estava querendo enganar? Ouvi James levantar e logo apareceu com duas velas e colocou nos pires em cima do móvel que segurada a tv.
Ficamos em silêncio só ouvindo ele mamar. James sentiu no sofá, jogou a cabeça pra trás e deu um longo suspiro.

Depois levantou e foi tomar banho. O guloso logo terminou e de bucho feio foi ficando com sono. A sala estava laranja e só se ouvia o barulho do telhado molhado.

James desceu. Pegou o café que eu já tinha esquecido e me deu.
Rico estava tentando dormir no ninho de toalha e eu subi para o sofá. Esquentando meus dedos com a xícara.
—como ele está?
—saberei amanhã.
— o que aconteceu?
—não quero falar sobre isso Hailey.
— o que deu na sua cabeça de sair em uma chuva dessa? Você tem problemas?
—eu ia deixar o Rico lá sozinho? Com fome?
—é melhor você ou ele?
—eu não pensei nisso James, ele só precisava comer!
—você é uma idiota!
— você só reclama de tudo que eu faço, eu respirar te incomoda.
—cala a boca.
—melhor eu subir. Levantei e me disse bem casual.
—vou fazer macarrão. Eu dei passos para trás e senti novamente. Maldita chantagem e fome.

Ele saiu e quando estava pronto me trouxe um prato.
Eu não sei se era a fome, mas estava cheirando tão mais tão bem que eu acabei com tudo em segundo. De barriga bem cheia ainda toquei um copão de água  não sei porquê  e saciada.

—que delícia...
Eu estava ficando com sono... com sono... quase fechando os olhos quando ele tocou em mim.
—vai pra cama.
—vou dormir aqui hoje.
—nem pensar, levante.
—que chato. Eu levantei e rico também, quase que eu pisei ele, mas James me puxou e eu sentei no seu colo.

Engoli seco e meu corpo mesmo frio se arrepiou.
Sua mão grande segurando meu braço com força.

Meu pior castigo Onde histórias criam vida. Descubra agora