• 𝑁𝑜𝑒𝑙 𝑀𝑖𝑙𝑙𝑒𝑟 •

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8:00am|Canadá

Quando amanhece, acordo com a claridade da luz entrando pelas janelas sem as cortinas para cobrir. Suspiro sentindo o calor de Lea junto ao meu, a aperto levemente em meus braços abrindo finalmente os olhos.

Encontro ela já acordada, porém permanecia abraçada a mim acariciando meu peitoral, até levantar o olhar e me ver despertado.

__Bom dia, meu bebê! -exclama com um sorriso.

__Bom dia, querida! -retribuo a saudação e beijo sua testa- conseguiu dormir bem?

__Sim, graças a você que cuidou de mim.

Sorrio a olhando e dou beijinhos em sua bochecha.

__Meu amor?

__Sim? -sorri enquanto volta a me olhar, agora se sentando na cama encostada há cabeceira.

__Eu queria que você não fosse trabalhar até eu conseguir resolver tudo o que está acontecendo, depois do que ocorreu ontem eu acho que seria melhor pelo perigo que aparentemente você está correndo. E você precisa descansar.

Ela me olha por alguns segundos até finalmente me responder, pensei que ela brigaria comigo, porém sua voz permanece no mesmo tom que antes. Calma.

__Meu bebê, eu não vou parar de ir trabalhar. Sei que estou aparentemente na mira de alguém, porém eu tenho deveres e um desses deveres é manter a estabilidade mental dos pacientes que confiam e estão apostando alto em mim. Entende, amor?

__Entendo minha vida, mas...

__Bebê, eu sei que o momento ao qual estamos passando não é muito fácil, na verdade nem um pouco fácil. Mas fazemos assim para você não ficar tão preocupado, você pode me levar e me buscar no trabalho, eu só realmente não posso deixar de ir porque sinto que a melhora dos internados dependem do meu esforço.

__Tudo bem, querida. Mas eu levarei e buscarei você, também te ligarei durante o dia!

__Por mim tudo bem. -sorri beijando minha testa.

Levanto juntamente com a minha mulher, ambos fazemos nossas higienes e nos trocamos. Quando estávamos os dois prontos, tomamos café e levo Lea e Abby para o hospital.

Quando me certifico que estão em segurança e fazer um revistamento nos quarteirões e constatar que ninguém as observava como na noite anterior, vou para a minha organização.

Assim que me aproximo com minha Bugatti dos portões privativos da máfia e os olheiros reconhecem minha placa, abrem o portão e adentro com o veículo o estacionando em minha vaga.

Saio de dentro e arrumo minha jaqueta enquanto vários dos homens que trabalham para mim fazem reverência em sinal de respeito e resmungam um "bem vindo de volta, chefe!"

Aceno levemente com a minha cabeça e caminho para dentro da organização completa, David já estava a minha espera. Caminhamos lado à lado sem falar nada, entramos na sala de Setty onde o mesmo ficava supervisionando tudo. Desde a máfia inteira ao redor até os lados de fora.

Na sala estava diversos computadores com as telas ligadas em diferentes lugares, enquanto o garoto observava tudo atentamente e mudava vez ou outra para outro ângulo.

__Setty! -o chamo para o retirar de sua concentração.

O mesmo se vira na cadeira estilo gamer e me olha com um sorriso.

__Bom dia, Águia! Bom dia, lobo!

Ele nos saúda com os apelidos ridículos ao qual de acordo com o mesmo, combina comigo e David. Vejo meu amigo revirar os olhos como de costume

__Preciso que descubra a localização do meu pai, talvez os radares tenham pego o que aconteceu aquele dia quando eu e David fomos atacados, lembra?

__Lembro sim, porém não é certeza que eu vá conseguir a localização exata dele. Apesar das imagens, não é em todos os lugares que tem radar e eles não são burros, podem muito bem terem pego outro caminho para desviar das imagens a quem tentasse hackear.

__Faça o que conseguir e estará de bom tamanho, o resto eu cuido.

__Beleza, eu cuido disso. Assim que eu conseguir passo pra você.

Agradeço a Setty e me retiro junto com David, retornamos a caminhar enquanto ele fala:

__O que pretende fazer e porque quer a localização do seu pai?

__Quero saber se foi ele ou se ele sabe quem foi. -o respondo sem olha-lo.

__Acha mesmo que ele vai falar a verdade se tiver sido ele mesmo?

__É por isso que não vou ser gentil. -o olho, minha raiva da noite anterior novamente estava instalada dentro de mim.

__Então eu vou com você, você pode acabar saindo do controle e quando isso acontece você não raciocina.

__De fato. Quando Setty conseguir me avise por favor. -o vejo assentir com a cabeça e entro em minha sala, vou até o banheiro de dentro e suspiro retirando minha jaqueta.

A coloco encima da pia de mármore e em seguida retiro minha camisa, me viro de costa e olho minha costa por cima do meu ombro.

Eu jamais iria entender o fato de bater em um filho como lição, ou como ele mesmo dizia, para se tornar mais forte.

Sinto meu coração dar uma leve pontada enquanto observo as cicatrizes que marcavam com destreza meu passado traumatizante em minha pele.

Eram grandes marcas em linha desgovernada, fiz uma tatuagem por cima de uma delas que havia sido a mais funda. Porém não a cobria completamente.

Fecho meus olhos respirando fundo, eu conseguia lembrar de exatamente tudo de forma bem detalhada. Eu lembrava da minha mãe, eu lembrava do chicote rasgando a minha pele enquanto eu permanecia com os braços e pernas presos. Era como se eu ainda conseguisse sentir a ardência do chicote queimando a pele de uma criança na época.

Enquanto seus homens cumpriam ordens e castigavam minha costa, ele permanecia de pé encostado no batente da porta, absorvendo meus gritos e expressões de dor. Ele só mandava parar quando meu sangue estava escorrendo em uma pequena poça no chão.

Como pude ser tão ingênuo a ponto de realmente pensar que todos esses anos, ele poderia estar morto e queimando no inferno?

A verdade é que mesmo com todos os anos, parece que ainda continuo a mesma criança assustada e inocente em meu interior.

Solto o ar dos meus pulmões ao qual eu nem havia percebido que segurava e recoloco minha blusa tirando a exposição das minhas marcas.

Só percebo que fiquei tempo demais relembrando meu passado quando ouço batidas na porta, pego minha jaqueta e a abro vendo David.

__Acho que Setty conseguiu, porém não a localização exata. Mas acho que você vai saber onde ele está. -me olha nos olhos enquanto fala.

__Por que tem tanta certeza que eu saberei onde ele está?

__Porque...é a mesma estrada que dá caminho para o antigo galpão com sua antiga casa.

Não era possível!

Ou meu pai realmente sabia jogar esse jogo, ou ele simplesmente queria me fazer lembrar toda a merda que ele já fez comigo.

Contudo, não deixarei que as lembranças por mais que traumatizantes e dolorosas, possam interferir na minha busca por vingança. Não mais!

𝑆𝑒𝑗𝑎 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎, 𝑎𝑚𝑜𝑟!Onde histórias criam vida. Descubra agora