• 𝑁𝑜𝑒𝑙 𝑀𝑖𝑙𝑙𝑒𝑟 •

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𝙝𝙤𝙨𝙥𝙞𝙩𝙖𝙡 - 22:40𝙋𝙈

Era doloroso vê-la naquela situação, uma facada sem dúvidas doeria menos do que ver o amor da minha vida em uma cama de hospital.

Apoio a mão que eu segurava na cama e me levanto da poltrona em que estava sentado, me inclinando e beijando sua testa, fechando os meus olhos brevemente no processo.

__Eu te amo, meu amor. Eu te amo tanto... -as palavras saem em sussurro, com os meus lábios encostados em sua pele.

Afasto o meu corpo de perto da cama e dou a volta caminhando até a porta. Eu ainda precisava conversar com o John, mesmo que minha vontade fosse de não sair sequer um segundo do lado da Lea.

Me retiro de dentro do quarto, fechando a porta assim que meu corpo está do lado de fora.

Caminho pelo corredor extenso, várias portas uma do lado da outra. Não era um hospital com andares, mas com o comprimento enorme o que compensava a ausência de andares.

Passo pela recepção e adentro uma porta com o nome de porta-camarão, sua estrutura era de madeira e ela permitia ser dobrada ao meio, liberando acesso para o outro lado, o refeitório do hospital.

Meus olhos logo encontram a silhueta do meu pai sentado de costas para onde eu estava, segurando um copo descartável de capuccino fervente.

Me aproximo da mesa em que ele estava ocupando e puxo uma cadeira, ocupando o assento em seguida.

__Os médicos disseram que amanhã provavelmente ela já estará acordada. -seu olhar se ergue para mim.

__Isso é ótimo, preciso tê-la de olhos abertos novamente. É horrível olhar ela e a ver em uma cama de hospital. -solto um suspiro profundo, sem perceber que de certa forma expressava meus sentimentos para ele.

__Consigo imaginar o quão doloroso deve ser para você. -sua mão encontra o meu ombro, seguido de um leve aperto.

__Por que a ajudou? Como sabia a localização dela?

Sua mão se afasta do meu ombro para alcançar o copo descartável e remexer a borda com os dedos. Seu olhar agora parecia distante, como se divagasse.

__Eu sabia do sequestro.

Engulo a força minha vontade de tomar decisões precipitadas. Permaneço em silêncio, permitindo que ele proseguisse com sua fala.

__Não disse para você por que obviamente você não acreditaria em mim.

__Como você sabia que iriam sequestrar a Lea?

__Desde que os envolvidos descobriram que meu objetivo era retomar minha posse na máfia e que até então eu faria o possível para conseguir, vieram atrás de mim. Queriam minha participação já que eles querem a sua queda, seu sofrimento. Elijah está sedento por vingança e não vai parar, não até que você o faça.

Cruzo as minhas mãos acima da mesa, meu olhar preso em seus olhos acinzentados como os meus. John não exitava e nem parecia pensar em suas respostas, não era algo planejado de sua mente.

__De forma resumida, eu comecei a frequentar suas rotinas e passei a receber todas as informações, todos os caminhos que eles tomariam eu ficava sabendo. Até que soube do sequestro, porém chegou em mim tarde demais. Tarde o suficiente para que eu conseguisse esquematizar um plano.

__Mas porque decidiu ajudá-la? Eu não consigo achar qualquer motivo que o faça se dispor para ajudar a minha namorada, John! -uma parte de mim tentava acreditar que era uma ajuda genuína, mas a outra insistia em me relembrar do homem que ele era.

__Você já sofreu o suficiente para sentir o gosto da perda mais uma vez, Noel. Lea é uma garota boa, de qualquer forma não merecia ser alvo dos desgraçados. Eu tenho plena consciência que você não confia em mim e muito menos acredita que minhas atitudes são de plena genuinidade, com razão. Eu sei que jamais poderei apagar as cicatrizes que deixei marcadas em você, mas acredito que posso mudar o que sou no presente e o que serei no futuro.

Ele solto um suspiro alto e seu olhar se desvia de mim para se fixar em um ponto aleatório.

__Os últimos dias foram de pura reflexão para mim. Eu já estou velho e por mais que não pareça também sigo cansado. Não pense que estou me vitimizando ou vindo com papos tristes para que sinta algum tipo de pena por mim. Pelo contrário, sabemos que todos que são envolvidos com máfia, vivem com uma corrente no pescoço todos os dias, todos os momentos. Não dá para prever quando será o nosso último suspiro, quero fazer pelo menos uma coisa boa durante a minha vida. E eu fiz, salvei a sua namorada. O resto é com você, filho.

Eu não sabia o que sentir naquele momento. John me marcou durante a minha vida inteira e era claro que desconfiaria de suas atitudes, claro que ficaria com um pé atrás.

Era surpresa para qualquer um que conhecesse aquele homem ouvi-lo dizer aqueles tipos de coisas. Vê-lo com uma postura vulnerável era mais do que raro de se acontecer, todos que o conheciam jamais haviam visto alguma vez uma única demonstração de vulnerabilidade. Nem mesmo nos piores momentos, nem quando sua vida estava para ser tirada.

Era como se ele fosse uma grande casca dura e vazia, imune há qualquer tipo de sentimentos que pudessem afetar sua postura fria e cruel.

Mas agora eu via uma grande vulnerabilidade em sua postura, uma tensão em seus ombros e principalmente, sinceridade em seus olhos.

Não abaixaria minha guarda tão fácil perto dele, de qualquer forma eu nunca realmente conheci o homem que carrego o mesmo sangue nas veias. Nunca realmente saberia decifra-lo, mas estava agradecido por ter salvo um dos meus bens mais preciosos.

__Obrigado John! -o agradeço sem me especificar exatamente pelo o que.

Sua cabeleira grisalha balança quando sua cabeça se vira para mim, me dando um aceno de cabeça. Ele sabia o por que eu estava agradecendo.

__Vá ficar com ela, eu vou para a minha casa. Tome cuidado, rapaz. -ele se levanta e deposita três tapas leves em minha costa antes de se afastar e começar a caminhar para a saída do hospital.

Me levanto após alguns segundos e caminho de volta para o corredor extenso, adentrando o quarto que a minha namorada estava.

Vejo o médico trocando o curativo de um ferimento na cintura, o que parecia ter sido o mais grave entre todos os hematomas que percorria sua pele.

Me aproximo ocupando o lugar da poltrona novamente ao lado da cama.

__Como ela está? -pergunto ao médico enquanto meu olhar permanecia no rosto da minha garota, minha mão acariciando seus cabelos macios.

__Ela está melhor a cada minuto, Senhor Miller. Acredito que durante a madrugada ou amanhã ela já abrirá os olhos, não precisa se preocupar.

__Certo, muito obrigado.

O mais velho faz uma reverência assim que termina de fazer o curativo e se retira de dentro do quarto.

__Por favor, acorde logo. Acorde para que eu possa ver os seus olhinhos que brilham mais do que uma noite estrelada, para que eu possa escutar sua risada que alegra o meu dia, ver o seu sorriso. Ouvir sua voz, sentir seu amor que me faz sempre me esforçar para ser uma pessoa melhor para você, por nós.

Encosto a minha testa em sua bochecha enquanto sussurrava cada palavra. Eu nunca havia me sentido tão vulnerável quanto estava naquele momento.

Lea era o meu combustível, minha felicidade. Eu precisava dela tanto quanto precisava de oxigênio para respirar.

__Por favor, mi vida...

𝑆𝑒𝑗𝑎 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎, 𝑎𝑚𝑜𝑟!Onde histórias criam vida. Descubra agora