Dez anos desde o acidente. Eles ainda não superaram e não são os mesmos desde então, tento me convencer de que algum dia meus pais vão voltar a ser como eram mas é só uma ilusão do meu próprio cérebro para tentar me manter firme.
Deus os ajude porfavor.
— Santo John, a que devemos a honra de sua presença?
— Não começa pai, eu só atrasei meia hora.
— Uma você quis dizer, já passa das dez.
— O que?!
Olhei o relógio no meu pulso vendo que ele estava certo, fiquei tão entretido ajudando os adolescentes na igreja que mal notei a hora passar.
— Me desculpa é que o final do ano tá chegando e tem muita coisa pra fazer na igreja.
— Filho eu estou orgulhoso de você, sua mãe também mas já faz muito tempo que notamos...não pode viver lá pra ignorar a realidade, sua irmã se foi cedo mas...
— Não. Porfavor não fala dela agora.
— Temos que falar...hoje faz dez anos, e sua mãe está lá em cima desolada.
— Ela sempre está.
— Por Deus John! Você é um padre agora não acha que deveria ter mais compaixão? Ela perdeu a filha.
— E eu perdi minha irmã, e nenhum de vocês se preocupou em como eu estava me sentindo porisso, então me desculpe se eu passo mais tempo na igreja tentando ajudar a quem realmente precisa pai.
Fiz meus votos um ano atrás quando decidi que queria ajudar as pessoas, eu acredito em Deus mas ele não foi o principal motivo pelo qual eu quis entregar minha vida a ele. Eu perdi minha metade, minha gêmea e a culpa por viver sem ela me consumiu, afinal nascemos juntos e deveríamos ir embora juntos.
Subi as escadas depois de deixar meu pai na sala sem saber mais o que eu poderia fazer, assim que cheguei ao segundo andar pude ouvir o choro alto da minha mãe vindo de seu quarto. Meu pai tem razão eu deveria ter mais compaixão por ela.
— Posso entrar mãe?
— John meu amor eu não te vi aí, venha aqui..
Ela ergueu sua mão me chamando e eu fui de encontro a ela sentando em sua cama e a abraçando, ela estava quente com certeza estava com febre já que a casa estava gelada pelo tempo de inverno lá fora.
— Feliz aniversário meu filho.
— Não é feliz..mas obrigado..
Ela se afastou de mim segurando meu rosto e me observando, sei que toda vez que faz isso é pra voltar a ver o rosto da minha irmã no meu, apesar dela ter sido uma menina nós éramos idênticos e minha mãe não esquece disso nem por um minuto já que faz questão de me comparar a ela todas as vezes.
— Você esqueceu não foi? Se esforça pra esquecer.
— É eu me esforço. Não tem motivos pra comemoração e eu já disse que não gosto de festas.
— Eu também não gosto mas Marie gostaria disso.
— Ela não está aqui.
— Você é padre, não acredita que alma dela ainda está entre nós?
— Não, eu não acredito mãe..acho que você e o papai deveriam buscar ajuda psicológica, você está tremendo.
A cobri com a manta enquanto ela me observava sem dizer nada, eles sabem que eu estou certo mas não farão isso, meus pais tem seus próprios modos de se curarem das feridas mas essa ferida em específico eles não vão conseguir sozinhos.
— Seu pai ainda não te falou..
— Falou o que?
—...tem uma garota na cidade está em um abrigo..
— Ouvi dizer, arrecadamos comida e roupas pra ela, sobreviveu a um incêndio.
— Sim ela mesma. Já a viu? Sabe como é?
— Não, na verdade eu só ouvi sobre sua história. Mas o que tem haver com o papai?
A poucos dias uma garota chegou a cidade e causou um alvoroço, moramos em uma cidade no Arizona a população é muito pequena então a fofoca se espalha facilmente. Ela veio de outra cidade depois que sua casa pegou fogo e ela foi a única sobrevivente, ela estava no principal abrigo da cidade e eu me comovi com sua história, pedi aos fiéis da igreja para que conseguissem roupas e comida para ela apesar de não saber seu nome ou sua aparência nem mesmo se era uma boa pessoa ou não, decidi ajudá-la porque ela deveria estar sem nada.
— Seu pai e eu investigamos um pouco sobre ela, acabou de fazer dezenove anos e dois dias atrás nós fomos conhecê-la.
— Que bom que estão interessados em ajudar, o que pretendem fazer?
— Queremos adotá-la.
— O que?!
— John ela é uma criança sozinha neste mundo, imagina o quão assustada ela deve estar. Ela precisa de um lar.
Eu sabia o que estava acontecendo aqui, eles queriam substituir minha irmã por uma outra pessoa qualquer simplesmente porque não conseguem aceitar o fato de que ela morreu.
— Ela não é uma criança mãe, ela tem dezenove anos.
— Pra nós ela é uma criança, e queremos trazê-la pra casa.
— Isso é loucura. Ajudá-la tudo bem mas trazer uma completa estranha pra debaixo do nosso teto? Eu não estou de acordo com isso.
— Eu sinto muito John mas isso já não está em discussão. Seu pai e eu já falamos com ela sobre isso e estamos apenas esperando uma resposta da Maria pra....
— Maria? O nome dela também é Maria? É claro...
— Os nomes são parecidos o que tem isso? Não estamos querendo substituir a Marie.
— Estão querendo tampar o buraco no coração de vocês adotando uma mulher com o mesmo nome e com quase a mesma idade.
— Você está sendo egoísta, seu pai e eu merecemos compartilhar esse amor que tínhamos por sua irmã e dar a alguém que realmente merece.
Ela me olhava com súplica, desde que fiz meus votos ela tem me olhado diferente como se eu fosse a reencarnação de Deus ou algum santo. Ela precisa de um psicólogo mas não admite isso.
— Tudo bem, querem trazer uma estranha pra cá então tragam. Mas se ela for uma psicopata não diz que eu não avisei.
A casa é deles e eu não sou ninguém para impedi-los, tenho vinte e dois anos e só estou aqui ainda porque não quero deixá-los sozinhos. Mas tenho que admitir a situação está ficando cada dia mais preocupante e eu temo pela saúde mental dos dois principalmente agora que estão decididos a trazer uma completa desconhecida pra cá.
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Desejo proibido
RomanceBaseado no filme "A órfã" e na mini série"hilda furacão", a história sobre um jovem padre que sofre pela morte da sua irmã e se vê entrando em um manto de perdições quando seus pais decidem adotar um jovem traumatizada com seu passado. ele não pode...