Punição

1.4K 106 7
                                    

— Oi mãe.

— Não vi a hora que chegou ontem, está tudo bem?

— Sim, cheguei um pouco tarde não queria acordar vocês.

— Sabe onde a Maria esta? Até agora ela não desceu pra tomar café e a procurei no quarto mas também não estava lá.

— Acho que ela saiu cedo não tenho certeza...eu estava terminando de tomar banho então...

— Ah sim me desculpa, eu vou esperar ela chegar o café está na mesa se apresse.

Quando eu fechei a porta senti que meu coração estava prestes a saltar do peito, soltei o ar que nem sabia que segurava e olhei pra Maria que estava no banheiro rindo da situação. Ela voltou a fazer aquilo e desta vez eu cai como um idiota.

— Pra um padre você mente muito bem.

— Eu não quero te ver no meu quarto de novo você entendeu?!

Ela ergueu os braços como se estivesse desistindo mas seu sorriso debochado indicava outra coisa, eu tinha me divertido por poucos momentos ela foi uma pessoa de verdade ao invés do demônio que eu via agora, eu sei que aquilo não era fingimento ela realmente é aquela garota mas sua falta de maturidade estava me enlouquecendo.

— Não preciso mais entrar no seu quarto pra saber como você realmente é.

Ela se aproximou de mim e eu me afastei no mesmo instante, eu não podia deixá-la me tocar porque quando ela faz isso eu perco o controle.

— Você tá com medo de mim? Ah qual é John, eu nunca te obriguei a fazer nada. Tudo o que você fez, aquilo era você.

— Você é um demônio e eu me deixei levar pelo seu poder de manipulação mas isso não vai mais acontecer.

— Segundos atrás você pensava diferente...mas tudo bem eu não tenho pressa, você vai me querer tanto algum dia que seu Deus vai ser pequeno perto de mim.

Ela saiu do quarto e eu finalmente pude respirar, não consigo acreditar no que fui capaz de fazer e no que teria feito se minha mãe não tivesse interrompido. Me ajoelhei diante do crucifixo estendido na parede perto da minha cama e comecei a orar buscando em Deus o perdão que eu não merecia.

Eu não conseguia mais segurar minhas lágrimas, porque eu me senti tão culpado por gostar daquilo e era um pecado enorme que eu não tinha como reparar. Fiz uma promessa a Marie e eu não estava cumprindo.

Flashback

10 anos atrás...

— Foi uma fatalidade horrível..

— Que Deus conforte o coração dos pais e daquele pobre menino...

— Sabe como foi?

Eu ouvia todos eles, os falsos lamentos de pessoas que estavam ali apenas por curiosidade. Encarava o corpo da minha gêmea no caixão a vendo tão pálida e sem vida, por minha culpa.

— Querido não olhe pra ela..- Minha mãe disse me afastando do caixão e me levando para perto do meu pai.

— Ele precisa olhar Cristina, foi ele quem causou isso.

— Jorge não diz isso. Foi apenas um acidente ele não teve culpa.

— O lago estava congelado o que ele pensou que ia acontecer?!

Eu tinha apenas doze anos e não conseguia chorar a morte da minha irmã, meu pai encontrou seu escape jogando a culpa em mim e ignorando o fato de que ele estava bêbado no sofá quando aconteceu. Minha mãe tentava não me deixar ainda mais traumatizado mas isso não aconteceu.

Quando o caixão foi levado eu não consegui conter meu desespero, saí correndo e agarrei o caixão querendo ser enterrado junto a Marie eu não queria viver sem ela.

— John porfavor, largue o caixão.

— Não eu vou com ela mãe!

— Filho...porfavor, essa situação já é péssima por muitos motivos..

— Eu não quero viver sem ela mãe eu não...eu não posso...não levem ela porfavor mãe, por Deus eu estou implorando...mãe porfavor..

Eles me tiraram de cima dela a força, foi a primeira vez que tive dificuldade para respirar e aquilo doía tanto que eu desmaiei, acordei no hospital com o diagnóstico de crise de pânico, depois disso eu prometi à Marie que eu nunca mais viveria sem ela, ela não pode sorrir e eu também não posso, ela não pode sentir e eu também não posso, ela não pode amar e eu também não posso.

Flashback off

Dia atual.

A dor não passava, a falta de ar estava começando outra vez, eu tinha quebrado uma promessa e a minha punição devia ser física. Encarei o cinto em cima da cama e o peguei, meu coração palpitava e minhas mãos tremiam pelo que eu estava prestes a fazer.

Já tinha me punido antes dessa mesma forma mas dessa vez devia machucar de verdade só assim eu me lembraria de não fazer de novo.

— Me perdoa Deus, pois eu pequei.

Acertei a fivela afiada do cinto nas minhas costas sentindo minha pele rasgar engoli a dor e voltei a me bater de novo e de novo com minha pele rasgando em diferentes lugares, ardia e doía o sangue começava a escorrer mas eu não parei.

Rezando o pai nosso sentindo a falta de ar persistir eu não conseguia respirar, continuei me batendo mais uma vez senti rasgar, outra vez e a fivela ficou agarrada nas minhas costa e eu gritei me calando rápido logo depois porque não queria preocupar ninguém.

Arranquei a fivela vendo uma parte da pele agarrada ao ferro, já estava sem forças a falta de ar e a dor estava forte demais e isso me fez cair no chão.

Tentava puxar o ar de todas as formas, minhas mãos estavam ensanguentadas mas eu queria continuar, ergui o cinto mais uma vez ainda no chão mas não consegui me bater eu estava perdendo a consciência, já não via nada a minha frente mas bem longe eu ouvi a voz dela desesperada.

— John! Droga, alguém chama a ambulância!

Foi a última coisa que ouvi antes de apagar.

Desejo proibido Onde histórias criam vida. Descubra agora