O cheiro do hospital, eu nunca esqueceria.
Os sons dos aparelhos e a dor no braço por causa das agulhas. O lado bom, eu não tenho ansiedade aqui.
— Oi, não pensei que fosse acordar agora. Está com dor?
Ainda estava confuso meu cérebro não estava pensando direito, eu estava tonto por causa dos medicamentos.
—...minha mãe...
— Ah, ela está no quarto ao lado dormindo. Sua irmã está bem ali.
Ela apontou para a poltrona onde Maria estava dormindo... minha irmã...não chegava nem perto disso.
— Ela ficou acordada o dia e a noite toda esperando você reagir mesmo eu dizendo que você estava sedado.
— Ficou acordada?
— É ela chorou bastante, estava bem preocupada...pode voltar a dormir se quiser ainda está bem cedo.
A enfermeira saiu do quarto e eu continuei olhando Maria dormir desconfortável, apesar de não querer admitir eu gosto dela mas tudo isso todos esses novos problemas em mim é ela quem está causando, mas eu nunca jogaria essa responsabilidade pra cima dela.
Acho que exagerei um pouco eu não queria parar no hospital mas não me arrependo do que fiz, eu mereci.
Tecnicamente agora eu estava puro de novo o que significa que não devo mais me deixar levar.
O relógio na parede marcava as 6 da manhã, Maria começou a acordar e quando notou que eu estava consciente veio até mim parecendo desesperada e me abraçou enquanto chorava, gemi pela dor nas costas e ela se afastou assustada e preocupada.
— Me desculpa...você..você está bem? Precisa de alguma coisa? Um médico? Ou...ou...
Ela mal conseguia terminar a frase sem chorar e eu estava com pena, ela é uma pessoa cheia de traumas e sensível apesar de tudo que faz, segurei sua mão esperando ela se acalmar mas ela estava fria e tremendo.
— Nunca mais faz isso. Você ouviu?! Seu...imbecil...
— Foi necessário...
Ela me deu um tapa na cara e depois voltou a me abraçar delicadamente, aquele era o jeito dela de demonstrar afeto porisso eu não questionei. Esperei seu choro acabar e quando ela conseguiu se conter começou a falar.
— Minha mãe fazia a mesma coisa...- ela se afastou olhando pra mim e confessando.— Ela dizia que era o único jeito de Deus perdoar ela por me odiar...porfavor John nunca mais faça isso.
Tinham muitas coisas que eu ainda não sabia sobre ela, eu nunca imaginaria isso. Talvez seja esse o motivo dela querer me arrancar de vez da igreja, ela se mudou para a casa de um padre pouco tempo depois de seus pais fanáticos morrerem e cá estava eu revivendo seus maiores traumas.
— Olha só quem acordou, como se sente padre?
— Bem doutor..
Maria se afastou enxugando as lágrimas e o médico veio até mim me examinar, minha mãe estava logo atrás com um semblante sério demais com certeza me daria um bronca por isso.
— Tivemos que fazer alguns pontos nas suas costas, pode nos dizer o que aconteceu?.- ele estava perguntando mas já sabia a resposta com certeza minha mãe contou a ele.
— Precisei pular uma cerca, muitos arames você sabe..
— Sei...bom você não pode se movimentar muito por uma semana e sobre a questão das suas crises de pânico você já sabe.
— Eu não quero um psicólogo, estou bem.
— Deus não pode te curar sozinho, você precisa se ajudar também.
— Eu disse que estou bem doutor, obrigado.
Faz muitos anos desde a última vez mas a sensação parecia piorar sempre que acontecia, já fui ao psicólogo várias vezes e isso ainda não funcionou e eu não iria de novo.
— Tudo bem, vou pedir mais alguns exames e depois disso você pode ir pra casa.
Ele saiu do quarto e no mesmo instante minha mãe veio até mim e assim como Maria fez segundos atrás ela também me deu um tapa na cara, bem mais forte desta vez.
— Conversamos sobre esta merda que você faz da última vez que aconteceu, porque fez de novo?
Eu não queria dizer que a culpada estava bem ali do lado, não queria que ela se sentisse responsável por isso principalmente depois do que me disse sobre sua mãe.
— Tive muitos pensamentos..
— E porisso você se flagela?! John existe um jeito muito fácil de resolver seus pensamentos, é conversando. Você tem uma mãe pra isso, não precisa se bater até sangrar.
— Você não entende.
— Eu entendo sim...entendo que sente falta da Marie mas filho ela se foi...você sempre diz que eu preciso superar que seu pai e eu precisamos de um psicólogo mas olha só pra você! Eu sei que dói, mas não pode viver a vida toda pensando nela.
Meus pais costumam chorar em nossos aniversários, e na data de morte dela. Sempre disse que eles precisavam de ajuda porque não a esquecem mas eu também preciso. Marie era uma menina cheia de vida, a favorita da família, a minha favorita...me pego pensando em como seria tê-la aqui agora. Será que eu seria diferente? Será que eu seria tão complexado?
— Maria querida me desculpe pela cena...eu vou até a recepção assinar uns papéis e já volto.
O quarto ficou silencioso quando ela saiu, estava envergonhado por Maria ter presenciado tudo isso mas de todas as coisas que ela podia dizer agora ela perguntou o que eu menos esperava.
— Quem é Marie?
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Desejo proibido
RomanceBaseado no filme "A órfã" e na mini série"hilda furacão", a história sobre um jovem padre que sofre pela morte da sua irmã e se vê entrando em um manto de perdições quando seus pais decidem adotar um jovem traumatizada com seu passado. ele não pode...