Ela estava ali, sentada no banco frio fumando alguma coisa enquanto me esperava. Tentei me aproximar sem fazer barulho ainda estava decidindo se iria até ela ou não mas assim que me aproximei ela se virou pra trás como se percebesse minha presença.
— Demorou eu estava quase indo te buscar.
— O que você quer?
— Preciso comprar algumas coisas na loja de conveniência, vem comigo?
— Está tarde.
— Elas ficam abertas a noite toda não é um problema, mas se você não quiser vir comigo tudo bem eu vou sozinha.
Já passava das dez da noite e por mais que a cidade fosse pequena eu tinha medo do que podia acontecer com ela andando por aí sozinha, ela começou a andar pela rua e eu me senti obrigado a ir atrás dela. A neve começava a cair mais forte mas ela parecia não ligar, estava com uma blusa de frio fina e uma calça de moletom que não parecia tampar muito o vento gelado.
— Então...você gosta de espiar as pessoas?
Eu estava implorando mentalmente pra que ela não tocasse nesse assunto, estava tão envergonhado do que tinha visto e do que fiz depois que mal podia olhar pra ela.
— Porque essa cara?.- ela disse rindo alto já notando que eu não estava confortável com o assunto.— John não é um pecado ter curiosidade.
— Não foi minha intenção, eu...eu só...a porta tava aberta eu não queria...
— Ei tá tudo bem, é sério. Não foi pra tanto...
— Claro que foi.
Maria pareceu finalmente ver que para mim não era algo normal de se acontecer, seu sorriso se desfez dando lugar a uma expressão ilegível ela com certeza estava me julgando.
— Acho que você deveria ter vivido um pouco mais antes de se tornar padre.
— Porque diz isso?
— Porque você é jovem e não sabe metade dos prazeres mundanos que a vida pode te proporcionar.
— Essa é a intenção de me tornar padre. Entregar minha vida a Deus e o resto não importa.
— Se não importasse mesmo pra você não teria porque você se preocupar tanto com o que viu e com o que sentiu.
Como ela sabe o que eu senti? Estava tão óbvio? Ou será que ela me escutou no banheiro quando eu me toquei?
De qualquer forma ela estava certa tudo que eu perdi até hoje e tudo que ainda estou perdendo me importa, sempre quis beber, fumar ou ir à festas...fazer coisas ruins talvez, e até mesmo fazer sexo. Mas me esforcei a vida toda pra que essas vontades fossem reprimidas, porque se minha irmã não pôde continuar sua vida por minha culpa eu também não poderia.
Felizmente chegamos rápido a loja de conveniência, Maria pegou um cesto e entrou já procurando o que queria comprar, não sei como ela conseguiu dinheiro mas provavelmente meus pais deram a ela.
— Pega um absorvente pra mim no outro corredor?
— Qualquer um?
— É tanto faz..
Ela continuou olhando a prateleira com produtos de cabelo e eu fiquei feliz por finalmente me afastar dela um momento, não era uma tarefa difícil pegar o que ela tinha pedido costumava fazer isso pra mim mãe as vezes. Fui até o outro corredor olhando as embalagens tentando acertar o que parecia melhor pra ela, peguei dois pacotes de diferentes marcas olhando a composição de cada um quando me assustei ao ver a senhora Forbes me encarando um pouco distante.
— Boa noite senhora Forbes.
— Padre John, sua benção.- ela se aproximou me dando a mão e eu a apertei.
— Deus te abençoe.
Ela era considerada a vizinha fofoqueira do bairro, encarava os pacotes de absorventes na minha mão com certa desconfiança quase me perguntando o porquê eu segurava aquilo.
— Como vai seus pais? Soube que adotaram uma menina.
— Eles estão bem, na verdade nós a abrigamos.
— John? Você já...ah, olá.
Maria apareceu nos olhando confusa pela situação, aproveitei que ela estava ali pra colocar os absorventes no cesto que ela carregava e a senhora Forbes ergueu suas sobrancelhas surpresa.
— Senhora Forbes essa é a Maria.
— Não é mais um padre? Não me contou sobre isso, estão namorando a quanto tempo?
— Ah não, a senhora está errada. Eu estou morando na casa dele como abrigada.
— Ah então é você...não está muito grandinha pra ser adotada?
— Estou, da mesma forma que a senhora está velha demais pra isso.
Maria pegou do cesto da senhora Forbes algumas camisinhas que ela tentava esconder debaixo de uma lata de café e a mesma ficou desconcertada. Até onde eu sei o marido dela faleceu a cerca de uma semana então não teria porque ela estar comprando camisinhas.
Tentei segurar o riso o máximo que pude notando o constrangimento da mulher enquanto Maria e eu nos dirigiamos ao caixa, ela passou as compras sem nem ao menos olhar pra trás enquanto ria e quando saímos da loja eu já não consegui esconder minha risada.
— Ela nunca mais vai se meter na vida das pessoas.
— Como sabia que ela estava comprando camisinhas?
— Eu vi ela escolher no outro corredor e esconder debaixo da lata de café. Ela pegou o tamanho gg então com certeza está bem servida.
— Foi cruel da sua parte.
— E você gostou.
Parei de rir ao notar isso, a verdade é que a senhora Forbes já me fez passar por muitas situações constrangedoras e vê-la se constranger um pouco era quase como uma vingança pra mim e isso não era certo, eu não deveria estar feliz por isso.
— Olha, eu sei que você fez seus votos mas até mesmo os padre pecam. Me deixa te mostrar que mesmo com sua devoção você pode viver um pouco.
— Como vai fazer isso? Eu não posso gostar das coisas que você gosta Maria, minha vida é diferente.
— Não, você quer que sua vida seja diferente. Eu posso fazer você viver um pouco mais se você me permitir fazer isso.
Eu queria muito aquilo, mas isso era quase como fazer um acordo com o diabo. Maria queria me perverter e eu não podia permitir isso por mais vontade que eu tivesse, eu não posso me permitir viver.
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Desejo proibido
RomanceBaseado no filme "A órfã" e na mini série"hilda furacão", a história sobre um jovem padre que sofre pela morte da sua irmã e se vê entrando em um manto de perdições quando seus pais decidem adotar um jovem traumatizada com seu passado. ele não pode...