Sobre ela

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Pensei que esse tempo todo ela sabia sobre minha irmã, meus pais quiseram "adotá-la" exatamente por causa da falta que sentiam de Marie e por sua história ser tão triste. Me surpreendeu ela me perguntar isso, eu deveria explicar? Não faria nenhuma diferença afinal mas eu não gosto de falar sobre e talvez eu não esteja pronto pra dizer a alguém a história sobre a minha perspectiva.

— Foi sua namorada?

— Isso não importa, porfavor só...vamos esquecer.

Na verdade não era tão estranho que ela não soubesse disso, a pedido dos meus pais todas as matérias que saíram sobre o acidente na cidade foram apagados, as fotos de Marie estão escondidas no sótão juntamente com as roupas. A única coisa que se mantém exatamente igual é o quarto dela que está trancado.

Minha mãe fez todo o possível para que eu esquecesse dela para não me sentir culpado, pelo visto não funcionou.

Maria não tocou mais no assunto, ela ficou quieta e não disse mais nenhuma palavra sobre nada. O médico fez mais alguns exames e depois de ter certeza que eu estava bem nós fomos pra casa, ainda sentia dor principalmente onde estavam os pontos a anestesia já tinha acabado e eu me sentia um lixo mas meu pai não quis saber disso.

— Sempre querendo atenção não é?

— Agora não porfavor.

— Agora não? Ficamos o dia todo no hospital ontem depois do seu show, sabe até pouco tempo atrás você estava me orgulhando estava sendo um bom garoto mas foi só a Maria chegar que você se transformou. Não gosta de dividir as atenções é isso? Porisso fez aquilo com a Marie?!

— Já chega! A culpa não foi minha! Você que foi o adulto irresponsável que não conseguiu parar de beber nem por um só dia!

Sua mão acertou meu rosto em um soco forte que me fez cair no chão, minha mãe entrou na frente mas como sempre não disse nada, Maria veio até mim e me ajudou a levantar minhas costas doíam pela queda mas naquele momento o que mais doía era minha dignidade.

Eu não devia ter dito isso, o alcoolismo era um problema pra ele e eu sabia disso não foi culpa dele beber aquele dia mas mesmo assim todas as vezes que ele me acusa dessa forma eu sou obrigado a responder a altura. Sem querer mais brigas eu subi para o quarto estava tão fora de controle que nem notei que Maria também veio atrás de mim.

— Você está bem?

— Me deixa em paz porfavor.

Eu não queria ficar sozinho, estava pensando em tantas coisas que tinha medo de me machucar de novo mas eu também não queria perder a cabeça com ela. O quarto ficou silencioso, ela ainda estava ali quando eu tomei coragem de encará-la e seus olhos me analisavam ternamente realmente preocupada comigo.

— Quem diria que a casa do padre não é um paraíso...- Tentei amenizar a situação com uma piada e ela sorriu fraco.— Assustada?

— Não, eu estava acostumada com coisa pior.

— Pior do que isso?

— Uhrum..

— Como você está viva?

— Eu não estou...eu quis vir pra cá porque o abrigo onde eu estava era horrível. Quando minha casa queimou eu perdi tudo, então qualquer coisa era melhor que nada. Seus pais foram os únicos a me oferecer um teto descente, comida e carinho...eu não negaria isso por nada.

— Disseram que você hesitou em aceitar.

— Não confiava em ninguém, queria ter certeza que não iam me machucar de novo.

— E como teve certeza?

— Quando eu vim pra cá no primeiro dia para "visitar" e encontrei o filho deles de cueca no quarto. Então eu desci as escadas e disse:-"Acho que eu vou ficar".

Depois de tudo que aconteceu lá em baixo ela ainda conseguia me fazer rir, esse era o motivo pelo qual eu gostava dela o senso de humor é questionável e nenhum assunto é sério demais.

— Eu tenho que te dizer que assim que você se recuperar eu vou voltar a provocar você.

— Porquê?

— Porque esse é o único jeito que eu conheço pra te fazer sair disso... eu sinto muito por ter sido o motivo do que você fez, mas se você não fosse tão devoto isso não teria acontecido e é porisso que eu vou continuar fazendo.

Pelo menos ela estava sendo sincera e me preparando pro que ela pretendia fazer, minha intenção é ignorá-la até fazê-la parar com isso, não sei se vai funcionar ou não mas que Deus me ajude para não tirar ela daqui porisso.

— Deixa eu ver suas costas?.- Virei de costas tirando minha camisa e ela se aproximou vendo os ferimentos.
— Um dos pontos está aberto, você tem mais curativos?

— Debaixo da pia do banheiro.

Ela pegou algumas gazes do kit de primeiros socorros e alguns curativos, não sei porque ela ainda estava aqui querendo cuidar de mim mas também não perguntei, enquanto limpava o ferimento foi cuidadosa e não dizia nada, me surpreendeu sua habilidade em fazer tudo isso do mesmo jeito que o médico fez antes de sair do hospital.

— Sua mão é tão leve..

— Fiz um curso de enfermagem no ano passado, eu queria ser médica.

— É sério?!

Minha voz saiu mais estridente que o normal pela minha surpresa ela parou o que fazia me olhando confusa

— Porque tanta surpresa? Eu sou intensa demais pra ser médica?

— Não, desculpa não foi minha intenção..é que você não parece ser o tipo...estudante.

— Você não sabe muita coisa sobre mim.

Ela tinha razão sobre isso, a cada dia eu descobria algo novo sobre ela e isso era fascinante, Maria conseguia ser várias versões dela mesma e um poço de mistérios ao mesmo tempo. Mas essa frase teve muitos sentidos quando ela disse, tinha algo que importante que eu deveria saber sobre ela e com certeza ela nunca me contaria, então eu teria que descobrir sozinho.

— Terminei, está doendo?

— Não eu tô bem..

— Tá bom eu vou deixar aqui se abrir de novo você me chama.

— Espera, pra onde você vai?

— vou pro quarto..

—...fica...

Eu sei, eu disse pra ela me deixar em paz mas se ficasse sozinho agora eu pensaria em tudo que aconteceu e eu não queria isso, eu precisava dela só por hoje.

Ela apenas assentiu sem dizer mais nada, fechou a porta do quarto e veio até mim me puxando pela mão até a cama.

— Vamos ver um filme..

Desejo proibido Onde histórias criam vida. Descubra agora