"Acidente"

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Eram oito da manhã e dia havia começado caótico, minha mãe fez as malas do meu pai e o esperou acordar para mandá-lo embora, eu pensei que depois de ontem ela o aceitaria de volta como sempre fez mas ela estava decidida a se divorciar.

— Não pode estar falando sério.

— Eu estou, procure um lugar pra você, eu paguei pela casa sozinha então por direito ela é minha.

— Cristina são 30 anos de casamento, não pode jogar tudo no lixo por um erro...me desculpa eu prometo que não vai mais acontecer.

— Você prometeu dez anos atrás exatamente o mesmo e eu disse que se voltasse a acontecer não teria volta. Sua filha morreu da última vez eu não vou esperar você matar o John também.

Era a primeira vez que a via me defender assim sem me acusar, eu estava sentado no topo da escada observando os dois discutindo na sala quando Maria apareceu e se sentou ao meu lado me abraçando.

— Eu nunca pensei que ela faria isso...realmente ela tá tentando mudar as coisas.

— Como se sente?

— Aliviado...meu pai sempre foi um peso pra ela mas tenho medo dela sofrer por isso, eles estão casados a 30 anos..acha que depois que ele for embora as coisas pra gente vão melhorar?

Maria me encarou com uma expressão que eu não sabia o que queria dizer, eu precisava da opinião dela sobre isso já que ela era a única que via a situação de fora, precisava que ela me dissesse que ficaria tudo bem e que meu pai era o problema mas não...ela não disse nada, e pra piorar se afastou de mim voltando pro quarto.

O que tinha de errado com ela?

Não esperei pra ver como meus pais terminariam, fui atrás da Maria em seu quarto e antes que ela visse que eu estava atrás dela a peguei respirando fundo e suas mãos tremiam. Ela se virou pra mim assustada fingindo um meio sorriso mas parecia acoada.

— Não pode entrar aqui se sua mãe ver ela pode...

— Eu não tô nem aí, o que tá acontecendo?

— Como assim?

— Você tá nervosa, parece que tá com medo o que houve?

— Nada...é que meus pais costumavam brigar eu fico nervosa nesse tipo de situação.

Ela estava mentindo eu sabia, mesmo assim eu não disse nada. Talvez eu precisasse dar um voto de confiança a ela, mas eu não podia permitir que ela mentisse pra mim de novo. Eu posso não ser devoto o suficiente pra ser um padre mas eu tenho princípios e mentira está no topo da lista de coisas que eu não perdoo.

Ela veio até mim e me abraçou eu ainda sentia seu corpo tremer, o que afetava ela com certeza era algo grande Maria não costuma ter medo das coisas isso eu já tinha aprendido a notar.

— Eu queria muito transar com você agora..

— Não podemos..

— Eu sei, fiz votos de castidade com a sua mãe.

Até em situações sérias ela me fazia rir, ela se afastou um pouco ficando na ponta dos pés e me beijou, era impressionante como ela me fazia esquecer de todos os problemas apenas com isso.
Escutamos minha mãe pegarrear na porta e nos afastamos, diferente de ontem a noite ela não parecia chateada por ver a gente se beijar pelo contrário ela estava contendo um sorriso.

— Eu disse pra ficar fora do quarto dela enquanto não desfaz os votos.

— A intenção era evitar o sexo e não estamos transando.

— Maria!

Eu estava constrangido mas minha mãe riu em um humor que eu não esperava depois do que aconteceu. Achei que ela ficaria deprimida por um tempo mas ao julgar pela sua cara ela não estava sofrendo.

— A senhora está bem?

— Eu estou querida...não decidi mandá-lo embora só por ontem a noite, o casamento já não funcionava a anos..

— Pensei que estivesse feliz com meu pai..

— Eu sei fingir bem...bom, Maria vou precisar roubar seu namorado um pouco tudo bem pra você?

— Na verdade não esta tudo bem, mas se eu não tenho alternativa..

Eu gostava de como soava o termo namorado e gostava ainda mais da Maria não ter negado que eu realmente sou. Me despedi dela com um beijo já sabendo que minha mãe me pediria algo que levaria talvez o dia todo, fomos até a sala e lá estava vários documentos sobre a mesa.

— Eu mesma faria isso mas eu começo a terapia hoje.

— Eu não sabia, isso é muito bom.

— É eu estou me esforçando acho que finalmente vamos ter paz nessa casa...

— Do que você precisa?

— Falei com o advogado ontem a noite e esses são os documentos do meu casamento, pode levar até ele pra dar entrada no divórcio?

— Tudo bem...vou aproveitar pra falar com o antigo padre e pedir a remissão dos votos.

— Que bom, quanto antes fizer isso melhor pra você e pra Maria...a propósito eu gosto de vocês dois juntos, melhor tratar ela com respeito, como um homem de verdade entendeu?

— Sim senhora..

Ela me deu um beijo no rosto e saiu em seguida, não estava acostumado a receber tanto carinho e atenção dela pensei que ela nem notaria que Maria e eu estávamos juntos mas ela já sabia quando "descobriu", e isso significava que ela sempre estava nos observando.

Peguei todos os papéis e saí em direção ao advogado, não ficava tão perto de casa mas eu precisava andar um pouco, estava pensando sobre o que Maria podia estar escondendo de mim e tentando entender o porquê ela não me contava.

Afinal, já somos bem íntimos e eu não tenho nenhum segredo com ela porque confio na sua pessoa e no seu caráter. Eu nunca tive um relacionamento mas acho que isso não é certo.

Quando cheguei ao escritório do advogado ele já me esperava, entreguei a ele os papéis e expliquei a situação dos meus pais, conversamos por umas duas horas sobre o assunto até estar tudo explicado.

— Em três meses o processo de divórcio vai ser concluído, diga a ela pra me procurar assim que puder ainda temos algumas coisas pra tratar.

— Tudo bem, obrigado pela ajuda senhor Smith.

— Sem problemas padre, vá com Deus.

Eu já tinha desacostumado com as pessoas me chamando de padre e esse termo agora parecia muito errado. Eu precisava resolver essa situação o mais rápido possível, saí de lá decidido a ir na casa do antigo padre.

O dia estava bem frio e a neve da estrada estava densa, assim que pisei do lado de fora perto do acostamento do escritório precisei parar para limpar as botas, eu mal podia andar pelo gelo grudado nelas.

Estava distraído fazendo isso quando ouvi um motor forte de um carro vindo correndo em minha direção, ele não parecia estar desgovernado então não me preocupei em sair dali mas quando vi que o motorista não ia desviar eu tentei correr mas já era tarde.

O carro bateu em mim com toda força me jogando para o ar e me fazendo cair com agressividade no chão, senti uma dor absurda e mal conseguia respirar, minha visão estava embaçada tentava puxar o ar mas era impossível, o gosto do sangue na minha boca era forte e a última coisa que eu vi antes de apagar foi o carro voltando pra estrada e seguindo na outra direção.

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