Confissões

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Peguei minha jaqueta já que minha batina estava suja para me cobrir do frio que estava lá fora, já começava a nevar embora ainda estivesse sol mas Maria com sua calça de cintura baixa e sua camiseta fina parecia não estar com frio...apenas parecia porque seus braços estavam arrepiados e seus seios estavam marcados através do fino tecido.

Eu não reparo nas pessoas principalmente nas mulheres, nem mesmo quando eu não era padre costumava fazer isso mas sua aparência me intrigava bastante, ela parecia ter saído de um vídeo clipe de rock dos anos 2000 mas era tão linda que não parecia uma pessoa comum.

— Porque fica me olhando?

— Desculpa.

— Eu pensei que você fosse um tarado quando sua mãe nos apresentou.

Ela ria com certo deboche mas aquele tipo de concepção sobre mim nunca foi dito, porque ela pensou isso?

— Desculpa não foi minha intenção.

— Relaxa padre eu tô acostumada com os olhares...pode parecer arrogância minha mas eu sei que eu sou bonita, minha mãe costumava me dizer isso todo dia.

Ela disse como se fosse algo ruim, era como se estivesse ressentida porisso mas eu não consigo imaginar o motivo.

— Você não veio comigo pra se confessa não é? O que você quer comigo afinal?

— Uau...- ela riu alto.— Para um padre você é bem rude.

— Não estou sendo rude, estou apenas querendo saber a verdade. Você é uma completa estranha que foi morar na minha casa.

— É você tem razão. Estava curiosa sobre você, o que faz uma pessoa tão jovem ser padre?

— A fé obviamente.

— Não, você não é tão devoto quanto tenta parecer.

— Como sabe disso?

— Porque meu pai era pastor. E eu posso afirmar com todas as letras que conheço a fé das pessoas e você...não é tão devoto.

— Sou mais devoto que você.

— Ah com certeza, mas isso não te torna mais especial que eu, padre.

Ela é inteligente e bem humorada apesar de tudo que aconteceu, não consigo me imaginar como eu seria se minha irmã nunca tivesse morrido.

Eu era diferente, Marie sofreu o acidente quando tínhamos doze anos e eu era uma criança comum. Tinha senso de humor, corria, brincava, estava começando minha adolescência então era um pouco rebelde e foi exatamente porisso que tudo aquilo aconteceu.

Eu fui o responsável pela morte dela e eu tenho consciência disso, talvez esse seja o motivo pelo qual me sinto tão fechado. Já Maria apesar do incêndio que sobreviveu parece uma garota de dezenove anos normal.

— Chegamos, quer se confessar agora?.- Estava sendo irônico e ela sabia mesmo assim ela sorriu e se afastou de mim.

— Talvez mais tarde padre, tenho algumas coisas pra fazer. Te vejo as cinco.

Eu já esperava que ela não iria se confessar de verdade mas não sabia que ela planejava escapar de mim dessa forma, ela continuou andando pela rua e eu não me dei ao trabalho de saber pra onde ela iria, Maria é uma mulher adulta e eu não vou tratá-la como uma criança que não sabe o que faz assim como meus pais estão fazendo.

Entrei na igreja notando que Paul e Mason já tinham terminado tudo que deveria ser feito e já nem estavam mais aqui, então tudo o que me restava era ouvir a confissão dos fiéis e rezar a última missa do dia.

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Eu estava exausto e estressado, ser padre não deveria ser cansativo a esse ponto mas é, sempre os mesmos pecados sempre os mesmos lamentos para ouvir na verdade eu não dava a mínima até ouvir aquela voz.

— Me perdoe padre, pois eu pequei.

Suspirei mais alto do que deveria bufando uma risada genuína por notar que ela realmente estava fazendo isso, o pano do confessionário que nos separava era fino o suficiente pra me fazer notar que ela também estava rindo e que aquilo não significava nada pra ela, era apenas diversão.

— A quanto tempo não se confessa?

— Hnn...acho que tem uns dezenove anos padre.

— Pra tudo existe uma primeira vez, me diga quais são os seus pecados?

— Não sou pura padre, muitos me chamam de demônio mas acho que só querem ser como eu.

— Ser como você? Como?

— Livre..- Olhei para ela através do pano notando que havia acendido um cigarro.— Eu gosto de todas as coisas mundanas que existem e não tenho nenhuma intenção de me purificar por isso.

— Não acha que Deus pode se zangar com você?

— Ele não existe no meu mundo mas acho que se ele existir realmente a culpa dos meus pecados vão ser única e exclusivamente dele.

— Por que?

— Porque eu nunca quis o livre arbitrio. É um poder grande demais pra uma pobre mortal e pecadora, não acha?

— Acho que está colocando empecilhos para ser uma boa garota.

Ela riu alto e se aproximou do pano que nos separava, podia sentir sua respiração forte e só porisso eu fiquei arrepiado isso nunca tinha acontecido comigo.

— E quem disse que eu quero ser uma boa garota?

— Se não é o que quer então o que você quer?

Ela ficou calada e quando encarei o pano notei que ela estava me olhando, o pano atrapalhava um pouco minha visão mas podia ver bem que ela estava ofegante, mordia os lábios enquanto seus olhos iam de cima para baixo como se me analisasse.

— Eu quero tudo que é promíscuo, padre. Luxúria principalmente, quero ser amada e fodida na mesma intensidade, mas sempre que eu digo isso as pessoas me tratam como um demônio. É errado uma mulher querer isso padre?

Aquilo era uma confissão, eu não esperava por isso.

Eu não tive resposta pra sua pergunta e quando ela notou que eu não responderia apenas se levantou e saiu do confessionário. Eu estava arrepiado, e cada momento que suas palavras atingiam minha mente eu ficava ainda mais arrepiado. Porque eu sei exatamente o que ela está sentindo, eu nunca tive a coragem de admitir que isso é tudo que eu mais quero também.

Infelizmente pra mim agora isso é apenas um sonho distante.

Desejo proibido Onde histórias criam vida. Descubra agora