Analisando a situação

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— O que tá fazendo aqui?

— Pensou o que Maria? Que ia acabar com a minha vida e ia seguir a sua como se nada tivesse acontecido?

— Seguir a minha? Você tem noção do que fez Nicolas?! Meus pais estão mortos e por pouco eu também estaria.

— Devia me agradecer, com tudo o que eles faziam com você..mas eu entendo, você amava eles apesar de tudo, tem um nome pra isso não é? Como é mesmo? Ah sim, dependência emocional..

— Vai embora, eu tô tentando reconstruir o pouco que restou da minha vida e eu não preciso de você aqui.

— Ah eu vi...você não tem jeito mesmo Maria, outro padre? Você realmente tem um tipo.

— Ele não é nada como você, ele me respeita.

— Deu pra notar...mas tudo bem eu não tô aqui pra discutir suas imoralidades, só vim te alertar que eu estou de olho em você. Pode não ser hoje ou amanhã mas você vai voltar comigo em algum momento..agora pode ir pra sua festa, seus novos papais devem estar te procurando.

Ele disse que está de olho em mim? Me vigiando esse tempo todo quando eu pensei estar livre dele e do meu passado...

Eu me sentia coagida de novo, eu pensei que estava seguindo em frente e que daqui em diante eu seria feliz ou pelo menos tentaria. Meus pais me tiraram dezenove anos da minha vida e Nicolas estava tentando tirar meu futuro e eu não ia permitir isso. Assim que ele foi embora eu corri de volta a festa, precisava ficar cercada de pessoas porque assim ele não tentaria nada aqui.

— Você está bem? Está pálida.

— Mason você tem um minuto? Eu preciso conversar com alguém sobre isso.

— Isso o que?

— Só vem comigo porfavor.

Eu tinha que deixar alguém ciente do que estava acontecendo caso Nicolas fizesse algo comigo, pensei que ele seria apenas um ex frustrado que tentou se vingar de mim mas ao vê-lo hoje percebi que ele estava louco e ele realmente queria me fazer alguma coisa. Precisava ter a segurança de que pelo menos uma pessoa saberia.

.................

— E ele te seguiu até aqui?

— Sim, eu não sei o que fazer eu não quero contar ao John e deixar ele preocupado.

— Você precisa pedir uma ordem de restrição desse jeito ele não vai poder chegar perto de você.

— Eu vou fazer amanhã...mas não conta pro John o que está acontecendo, eu não quero que ele saiba que não foi o primeiro padre que eu me envolvi.

— Maria você tem que contar pra ele, John é um cara tranquilo ele não vai te julgar por isso.

— Eu não quero que ele saiba Mason, eu gosto dele...muito mais do que eu deveria..quero conhecer ele primeiro e tentar alguma coisa séria.

— Tá você que sabe, mas se ele descobrir que você tá escondendo alguma coisa dele isso não vai acabar bem.

— Você acha que ele pode querer sair da igreja por mim? Tipo, me assumir?

— Eu acho que vocês precisam conversar sobre isso, mas enquanto não faz isso tenta se manter segura. Esse tal Nicolas pode estar te vigiando então não fica sozinha.

Minhas mãos tremiam só pela possibilidade de me afastar pra sempre do John eu não dava a mínima se o Nicolas queria me fazer mal contanto que ele não me afastasse do John. Nunca pensei em dizer isso mas ele se tornou indispensável pra mim, antes de conhecer ele eu não sabia o que era estar feliz e eu não quero perder isso.

Me sentia tão mal que quando voltamos pra festa eu não consegui mais socializar, John me encarou entre as pessoas e no mesmo instante veio até mim, eu precisava disfarçar eu não queria deixar ele preocupado atoa.

— Porque está com essa cara?

— Dor de cabeça... acho que você meteu forte demais.

— Shii, não fala isso tão alto.

Não pude segurar minha risada ao ver ele olhando para os lados tentando notar se alguém escutou, como eu disse John mudou muito nos últimos dias mas ele continua com esse medo de que as pessoas saibam e acho que com isso eu já tenho minha resposta, ele não deixaria a igreja por mim.

— John você ainda se considera um padre?

— Que pergunta é essa?

— Só me responde, se considera?

Ele baixou a cabeça envergonhado hesitando em me responder, eu sei que o torturei muitas vezes dizendo que ele já não era mais devoto mas dessa vez eu queria realmente saber se ele ainda era tão religioso e tão dedicado a Deus como sempre me disse.

— Eu não sei mais o que eu sou, até o começo da semana eu era virgem e puro mas você.... Maria você tem me sujado de tantas formas que é difícil saber o que eu sou.

— Me desculpa..

— É, você foi a responsável pelas maiores barbaridades que eu já disse e pelos atos mais sujos que eu já cometi...

— Me desculpa..

— Você me fez quebrar os votos e me manipulou pra conseguir o que queria de mim, e eu admito que nunca quis ser padre e que você me fez quebrar uma promessa de dez anos mas....eu estou eternamente agradecido a você porisso, eu não sou mais devoto a Deus Maria, eu sou devoto a você agora.

Pensei que ele estivesse chateado comigo porisso, o jeito como ele me acusou de tudo que eu fiz ele fazer estava doendo meu coração mas ele gostou disso...ele sorriu pra mim e segurou minha mão, estávamos no meio das pessoas mas eu tinha tanta vontade de beijar ele que precisei me afastar um pouco pra não correr esse risco.

— Então....gosta mesmo de mim?...você..sairia da igreja por mim John?

Antes que ele pudesse responder dona Cristina apareceu e nos afastamos, eu não consegui ler em seus olhos uma resposta então eu não tinha certeza se ele deixaria tudo isso.

— O que estão achando da festa? Este ano está menos animada..

Ela estava com cheiro de bebida, até onde eu saiba quem tem problemas ao beber é o pai dele, porque ela estava bêbada afinal?

— Você bebeu...

— É uma festa John, e eu não sou uma freira eu posso beber. Tenho que me manter anestesiada pra não pensar, Maria meu amor está gostando da festa?

— Estou sim..

— Que bom, Marie adorava...lembro dela correndo por toda a praça com as outras crianças da cidade, tão feliz e tão cheia de vida..

— Mãe isso não é assunto pra falar agora.

— E se não for agora então quando John? Vai me culpar por querer me lembrar da minha filha morta? Da minha filha que você matou?

Congelei ao ouvi-la dizer tamanha barbaridade, eu não sei exatamente o que houve anos atrás mas seja o que for John era uma criança, e só o fato dele se culpar até hoje mostra que ele não teve culpa mas os pais continuam jogando a responsabilidade pra cima dele e isso não é certo.

John estava paralisado ao olhar a mãe dizer aquilo, seus olhos estavam cheios de lágrimas mas ele não chorou, seu rosto começava a ficar vermelho e notei suas mãos tremendo.

— A culpa não foi dele, John era uma criança e a responsabilidade de tudo que acontecia não era dele era dos pais, então se quer culpar alguém culpe a si mesma.

Eu disse tudo sem pensar mas foi sincero, Cristina me olhava sem dizer nada mas podia ver um certo arrependimento ao me encarar, John saiu dali quase correndo em direção a estrada, ele estava indo pra casa.

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