Uma estranha em casa

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Depois da minha primeira oração do dia decidi finalmente descer para o café da manhã, eu já estava esperando os balões pela casa a cantoria de parabéns e o bolo que eu não cheguei a tempo ontem pra comer. Mas quando desci as escadas não havia nada disso, era estranho eles faziam todos os anos mesmo eu dizendo que não gosto disso.

— Ah oi filho, já acordou? Desculpa eu não tive tempo pra decorar a casa.

Eles estavam tirando o pó de duas malas grandes e limpando a casa ao mesmo tempo, era estranho que esse ano não decidiram comemorar meu aniversário contra minha vontade mas eu estava agradecido porisso e não iria questionar.

— O que estão fazendo?

— Vamos buscar a Maria hoje mesmo, o colaborador do abrigo nos ligou hoje cedo e disse que ela aceitou morar com a gente por um tempo.

Ah é claro, eles não desistiram da ideia...

— Mãe...isso não vai dar certo, porfavor deixa essa garota onde ela está.

— Está vendo Jorge? Seu filho não tem o mínimo de compaixão.

— É claro que eu tenho, o problema é com vocês. Quando vão entender que a Marie não pode ser substituída? São dez anos! Superem!

Não era minha intenção me descontrolar mas eles estavam me deixando louco, eu sei que a morte da minha irmã foi derrepente e que ainda dói mesmo depois de tanto tempo mas adotar uma pessoa adulta é loucura. Entenderia se essa tal Maria fosse uma criança mas ela já tem mais de dezoito anos e pode muito bem se virar sozinha.

Infelizmente eu tinha gritado com eles o maior trauma que eles já sofreram e minha mãe estava com os olhos cheios de lágrimas e meu pai me olhava incrédulo.

— Me desculpa, não era minha intenção gritar com vocês.

— Esse é seu problema John nunca é sua intenção, esteja em casa para o almoço para conhecê-la. Isso não é um pedido.

Meu pai não costumava me dar ordens afinal já sou adulto mas quando fazia eu não podia desobedecer e já que me sentia culpado pelo que acabei de fazer não teria outra alternativa a não ser conhecer a nossa nova inquilina.

Nem ao menos consegui tomar café, fui direto para a igreja ajudar no que fosse necessário, está quase no final do ano e por aqui costuma nevar muito, pessoas em situação de rua morrem congeladas literalmente então esse ano já que sou o novo padre da cidade decidi deixá-los dormir na igreja principal. Estava entretido contando os cobertores das doações quando os dois coroinhas, Paul e Mason chegaram.

— Hoje não é domingo porque estão aqui?

— Até parece que não conhece nossas mães.

Os dois eram melhores amigos desde crianças e nunca esconderam sua falta de fé, mas desde que suas mães incrivelmente devotas descobriram que eles estavam fumando maconha ao invés de participar das aulas na igreja os obrigaram a ser coroinhas como um castigo embora eu não concorde.

Eles tem dezessete anos e deveriam tomar as próprias decisões, eles não acreditam em Deus e daí? Eles querem fumar maconha e daí? Mas usar a igreja contra eles como forma de punição era um absurdo.

— Já que estão aqui, vou precisar pedir um favor. Na hora do almoço eu vou ter que passar em casa podem continuar a contagem dos cobertores? Precisa ter 150.

— Não temos opção.- Mason parecia mais entediado que nunca.— Mas já que tocou no assunto soubemos o que seus pais estão aprontando dessa vez.

É claro que souberam, a cidade parecia um grão de areia os vizinhos poderiam ouvir até as minhas respirações.

— Então está de acordo? Vai perder seu cargo de filho favorito.

— Se bem que a garota vai ter que se esforçar muito pra tomar seu lugar afinal você é um padre, não tem como superar isso.

— Claro que tem, ela sobreviveu a um incêndio que os pais dela causaram.

Comecei a prestar atenção quando Paul disse sobre o incêndio, eu não fazia ideia de que tinha sido proposital o incêndio e o pior foram os pais dela que causaram isso?

— Espera, me explica isso melhor.

— Ouvi dizer pelo coordenador do abrigo. Os pais dela odiavam ela, eles eram bem devotos e chamavam ela de bruxa porque ela não acredita em Deus.

— Então eles jogaram fogo na casa?

— Na casa não, a intenção era jogar nela mas felizmente ela conseguiu fugir antes e eles ficaram lá dentro.

— Ela pode estar traumatizada mas mesmo assim quando a vimos ela parecia perfeita, eu juro. Ela até sorriu quando falou com seus pais.

Talvez não seja mesmo uma má ideia trazê-la pra casa, não consigo imaginar alguém passando por tudo isso e mesmo assim ainda sorrir. Meus pais estão certos essa garota precisa de um lar e mesmo sabendo que eles estão fazendo isso pra cobrir a falta da minha irmã não posso deixar de concordar.

Esperei ansioso pelo almoço, queria correr pra casa e conhecer a garota. Ajudá-la no que precisar, esse era meu objetivo de vida, ajudar as pessoas e talvez ela seja o primeiro caso especial.

Pelo restante da manhã fingi que não estava ansioso para chegar logo em casa, Mason e Paul me ajudaram com o restante das coisas e quando terminei saí da igreja quase correndo, o vendo frio estava me congelando mas saí tão rápido da igreja que nem me dei conta que ainda estava com a batina que apesar de cobrir todo o meu corpo tinha um tecido tão fino que o frio me atingia por completo.

Quando cheguei em casa ainda não era meio dia, então aproveitei que não havia ninguém e subi para o quarto para me trocar, meus pais costumavam comer meio dia e trinta em ponto e com certeza desta vez não seria diferente por causa da garota. Assim que cheguei no quarto notei a movimentação que se fez no andar de baixo eles com certeza chegaram.

Tirei os sapatos sujos de terra e neve notando que minha batina também estava suja, eu teria que voltar para a igreja depois do almoço mas daquele jeito eu não poderia.

Assim que retirei todas as roupas ficando apenas de cueca eu me virei para jogar tudo aquilo no cesto mas me surpreendi quando a porta se abriu derrepente, tentei me cobrir com as roupas que ainda estava nas minhas mãos mas a pessoa parada na porta continuava me olhando e pelo rosto desconhecido suponho que seja ela.

— Ah...desculpa, você deve ser o John.

Ela me estendeu a mão mas eu obviamente não podia apertar, será que ela não notou que eu estou sem roupas ou realmente não se importa?

— Pode sair porfavor?

Ela parecia querer rir do meu desconforto mas mesmo assim apenas fechou a porta novamente me deixando ali extremamente envergonhado, ela não deveria me conhecer desta forma.

Porque essas coisas só acontecem comigo?

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