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Flashback on.

4 anos atrás...

— Cubra os ombros estamos na igreja.

— Estão cobertos.

Ela puxou o zíper do vestido até meu pescoço me fazendo sufocar, as pessoas em volta nunca notavam o quão agressiva ela era comigo mas o novo padre da cidade parou a pregação e nos encarou ao ver que minha mãe estava sendo rude outra vez.

Ele era muito bonito, cabelo preto olhos escuros, e bem jovem... devia ter uns vinte e poucos anos, era uma grande diferença de idade mas ele me interessava. Infelizmente eu teria que apenas fantasiar com isso de novo.

Quando saímos da missa meu pai me levou até o estacionamento e me deu um tapa na cara, eu já nem chorava mais por isso já estava acostumada a apanhar sem saber o motivo.

— Se sua mãe te mandar fazer algo, faça.

— Não sei do que o senhor está falando.

— Seu zíper estava baixo, mostrando seu colo e seu ombro.

— Eu estava com calor.

— Claro que estava, você é um demônio e demônios queimam na igreja.- minha mãe disse jogando todo seu desprezo outra vez.

— Estou fazendo quinze anos hoje...porfavor eu queria que fossem amorosos comigo só hoje...porfavor..

— Você não merece, terá que pagar a vida toda por ter nos condenado ao inferno... Colocamos seu nome de Maria pra que a própria mãe de Cristo tivesse piedade de nós mas a julgar por sua aparência estamos perdidos...

— O que tem de errado com a minha aparência mãe? Eu sou bonita..

— Exatamente, você é linda...assim como Lilith era, todas as tentações mundanas são lindas e porisso são tão sujas.

Eu queria chorar, eu desejava ser horrenda porque dessa forma eles iriam me querer e teriam esperanças de que não iriam pro inferno por minha culpa. Segurei as lágrimas porque sabia que se chorasse ficaria ajoelhada no milho a noite toda outra vez.

— Senhores Collins..

O padre apareceu repentinamente e eu me esforcei em recobrar a postura, padres bispos ou outras entidades católica eram as únicas pessoas que meus pais respeitavam, eles se viraram ao padre sorrindo e minha mãe se apressou em cumprimentá-lo.

— Padre Nicolas, foi uma bela missa hoje.

— Obrigado, espero não ter atrapalhado a conversa de vocês..

— Ah não, estávamos apenas parabenizando nossa filha, está completando quinze anos hoje.

— Ah é sério? Que surpresa agradável..- ele se aproximou de mim me encarando fixo e tocou meu rosto.— Deus te abençoe pequena criatura.

— Amém padre, obrigada..

— Seria bom se ela participasse de alguma atividade na igreja, ela está crescendo devem querer que ela se aproxime de Deus.

— Claro.. o senhor recomenda alguma coisa? Faremos o que disser.

— Qual o seu nome mocinha?

— Maria Collins, senhor.

— Maria...que nome lindo, porque não vem a igreja amanhã? Teremos uma missa especial para os jovens mais devotos dessa cidade.

Olhei para os meus pais esperando uma permissão e eles assentiram animados.

— Claro será um prazer.

— Ótimo, te vejo amanhã então. Senhores Collins foi um prazer conversar com vocês, Deus os abençoe até em casa.

Eu estava animada, teria permissão para sair de casa sem ser vigiada e isso foi a melhor coisa que já me aconteceu. Planejava muitas coisas e com certeza nenhuma delas era ser a garotinha que meus pais queriam que eu fosse.

Flashback off

— Eu preciso ver ele!

— Está em cirurgia Maria, se acalme por favor está me deixando nervosa também..

Eu não conseguia conter o choro, estava desesperada não podia acontecer nada com ele eu não podia nem pensar na possibilidade de algum ruim acontecer..

— Dona Cristina eu....tenho medo de que...

— Não vai acontecer nada com ele, está tudo bem ele vai ficar bem..

Ela também repetia mais para ela mesma do que pra mim, tentei me conter ao máximo para não deixar ela pior mas minhas mãos tremiam, não conseguia pensar em nada além dele.

Quando a médica apareceu toda a ansiedade voltou, ela segurava vários papéis nas mãos quando se aproximou de nós.

— Como ele está?

— A costela quebrou e quase perfurou o pulmão, já fizemos a cirurgia e felizmente ele está bem...vai precisar repousar por pelo menos um mês mas no geral já podem entrar pra vê-lo, não deixem ele falar muito.

Era um alívio enorme saber que ele estava bem, mas eu ainda precisava vê-lo para confirmar isso. Talvez eu estivesse sendo indelicada já que a dona Cristina estava tão preocupada quanto eu mas eu precisei correr na sua frente e entrar primeiro.

Quando o vi na cama eu corri até ele e o abracei ele gemeu de dor e eu me afastei assustada por tê-lo machucado.

— Desculpa...

— Filho, como você está? Tudo bem? O que aconteceu?

Ele estava pálido e parecia bem fraco, provavelmente ainda estava anestesiado.

— Eu não sei o que aconteceu..eu estava na frente do escritório e precisei parar pra limpar as botas foi quando o carro apareceu..

— Estava desgovernado?

— Na verdade não parecia estar desgovernado...foi muito estranho porque o motorista olhou pra mim e acho que ele acelerou mais.

Meu coração estava palpitando, e aquela frase ecoava na minha mente "espere pelo próximo acidente", não podia ser coincidência..

— Eu nem estava na estrada, acho que foi de propósito..

—...como..como era o motorista?conseguiu ver?

— Consegui o rosto dele ficou na minha mente, tinha cabelo preto, olhos escuros...acho que tinha um crucifixo no pescoço, tipo um colar.

Eu estava tremendo, precisava controlar minha respiração porque não queria ter que dizer que o acidente foi culpa minha..Nicolas me avisou e se eu tivesse feito alguma coisa o John não estaria aqui.

— Querida você está bem? Está pálida..

— Desculpa...eu acho que estou passando mal, eu vou lá fora tomar um ar..

— Quer que eu vá com você?

— Não precisa, obrigada é só uma...uma falta de ar...

Sai do quarto o mais rápido que pude sentindo minha cabeça dar voltas, eu estava com tanta raiva que poderia matá-lo se estivesse na minha frente. Meu celular tocou com outro número desconhecido, segurei o nó na minha garganta e atendi prestes a gritar com ele tudo o que eu estava sentindo.

— Esses acidentes vão continuar acontecendo Maria e só você sabe como parar.

— Vai se foder! Eu não vou voltar com você.

— Você que sabe.. vou dar um tempo pro seu namorado se recuperar, um mês o que acha? Pra se despedir e tal..

— Me despedir?

— Sim...não deveria avisar mas o próximo acidente vai ser fatal.

— Você não vai..

— Um mês Maria, contando a partir de agora.

Ele desligou me deixando mais nervosa do que eu já estava, sentia minha respiração falhar e o sangue ferver eu estava a ponto de um colapso. Tentei voltar pro quarto mas no meio do caminho minha visão escureceu e eu não vi mais nada.

Desejo proibido Onde histórias criam vida. Descubra agora