Ela sabe

810 83 3
                                    

Ele tropeçou até entrar dentro de casa e minha mãe correu pra ajudar, ele não bebe dessa forma a anos e hoje passou o dia todo fora porque ele bebeu outra vez?

Eu não preciso de ajuda!

— Você está caindo Jorge, claro que precisa.

Sai daqui!

Ele empurrou minha mãe que caiu sentada no chão, Maria e eu fomos até ela a ajudando a levantar e ela já começava a chorar. Meu pai ficava agressivo quando bebia e costumava descontar em mim eu não podia permitir que dessa vez ele descontasse na minha mãe.

— Maria leva ela lá pra cima porfavor e se tranca no quarto com ela.

— O que você vai fazer?

— Só vai porfavor.

Ela me olhava com medo mas aquilo era o certo a se fazer no momento eu não era mais um menino e dessa vez podia lidar com a situação. Maria subiu pro quarto com a minha mãe e quando elas desapareceram no topo da escada eu agarrei meu pai pelo colarinho da blusa e o joguei para fora de casa.

Ele cambaleou quase caindo mas ainda conseguiu se manter de pé e veio até mim agressivo como sempre fez acertando um soco no meu rosto que me deixou desnorteado, eu não queria brigar com ele mas daquele jeito eu não teria outra opção.

— Vai embora daqui e não volta até estar sóbrio.

Ele riu debochando da minha cara e veio de novo pra cima de mim, consegui desviar de sua mão acertando um soco em seu estômago e ele caiu no chão vomitando toda a bebida. Estava desprezível, se ele amasse mesmo a minha mãe ele não voltaria a beber.

— Eu disse pra ir embora! Você não ouviu?

vai se foder! Seu padre de merda! É isso que você é um padre de merda!

Apoiando suas mãos no chão ele conseguiu se erguer, pensei que ele iria embora mas novamente veio pra cima de mim me agarrando pelas pernas me fazendo cair no chão, bati a cabeça no degrau da pequena escada sentindo minha visão falhar por uns segundo e logo senti a força de seu punho acertando meu rosto várias vezes seguidas.

Com o pouco de força que me restava o empurrei de cima de mim ficando sobre ele, o acertei no rosto várias vezes do mesmo jeito como ele fez comigo mas por algum motivo eu estava chorando eu não queria fazer isso. A raiva tinha tomado meu corpo e eu não parei de bater nele até vê-lo desmaiado.

Sentia o sangue por todo meu rosto e minha cabeça doía pela queda que levei, eu estava devastado por dentro. Olhava pro meu pai desacordado e não conseguia parar de chorar imaginando o porquê ele estava fazendo isso com a gente, Marie não gostaria de ver nossa família destruída então porque ele só não pegava o exemplo da minha mãe e tentava mudar de vida?

Isso não deveria estar acontecendo..

Vi Maria aparecer na porta e só sua expressão me dizia que eu estava péssimo, ela veio até mim e eu corri pra abraçá-la, ela tem sido meu porto seguro em tudo isso e eu precisava desse abraço agora.

— Não podemos deixar ele aqui fora está congelando..

Eu apenas assenti sem conseguir dizer nada minhas mãos ainda tremiam mas meu sangue estava tão quente que eu não conseguia sentir a dor dos socos que ele me deu.

Maria o pegou pelos pés e eu o peguei pelos braços arrastando seu corpo até o sofá da sala. Apesar de ser magro ele era pesado e precisamos parar várias vezes no caminho porque Maria não tinha força o suficiente, quando o colocamos no sofá ele começou a acordar murmurando alguma coisa sem sentido mas felizmente continuou dormindo.

Maria veio até mim analisando os machucados no meu rosto, não sei ao certo o quão ruim estava mas quando ela tocou na minha sobrancelha precisei me afastar pela dor que senti.

— Quer ir pro hospital? Acho que vai precisar de pontos nesse aqui..

— Não eu tô bem..

— Você não tá..

— Eu tô só tá doendo um pouco.

— Eu não tô falando dos machucados...pode chorar se quiser John eu tô aqui pra você.

— Eu já chorei mais do que eu deveria por ele, pra mim acabou...não quero ter mais vínculos com uma pessoa que nunca aprende.

Eu estava quebrado por dentro mas ainda me restava o consolo de saber que Maria estava aqui comigo e que ela é só minha..

A puxei pra mais perto de mim e a beijei tentando esconder o fato de que ela era a única pessoa que ainda me mantia de pé, não deveria depositar tantas expectativas em uma pessoa só mas com Maria era inevitável. Sua língua em minha boca me acalmava de um jeito inexplicável, era uma sensação maravilhosa e ela sabia exatamente como me agradar nisso.

— Eu sabia..

A voz da minha mãe na sala me fez afastar de Maria rápido mas já era tarde ela já tinha visto tudo que não deveria. Ela tinha seus olhos inchados pelo choro mas parecia muito mais chateada comigo do que com meu pai, meu coração estava acelerado e ainda segurava a mão de Maria que já estava tremendo.

— Dona Cristina eu...

— Sobe pro seu quarto, eu quero falar com o meu filho.

Maria olhou pra mim nervosa e subiu correndo me deixando sozinho com ela. Minha mãe veio até mim e me deu um tapa forte no rosto e me encarou novamente, pensei que ela fosse jogar na minha cara o quão decepcionada estava comigo mas ela apenas me abraçou me consolando.

— O tapa foi por ter quebrado seu voto..

— Me desculpa..

— Tudo bem, eu já imaginava a muito tempo...acha que eu não via ela sair do seu quarto todas as manhãs? Por Deus John eu já tive vinte anos..

— Não tá chateada?.- ela me afastou segurando meu rosto enquanto me acariciava.

— Eu não poderia estar mais orgulhosa de você meu filho...me protegeu hoje apesar de tudo que eu disse ontem, obrigada.

Essa era a minha mãe, a mulher que existia antes da morte de Marie e a mulher que realmente me amava. Ela estava de volta e era indescritível a sensação de estar protegido outra vez.

Desejo proibido Onde histórias criam vida. Descubra agora