Consequências físicas

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Eu estava tentando não surtar mas estava difícil, vivo com medo de que o Nicolas possa estar nos vigiando talvez com uma arma ou alguma coisa que pode nos machucar. Eu não sei o quanto ele conseguiu tirar de informações do senhor Jorge quando o fez beber daquele jeito então não podia arriscar contar a ninguém que ele estava me coagindo.

Estava tentando conseguir uma solução nesse um mês mas tudo que eu pensava podia dar errado. Faz uma semana que o John não fala comigo, e tudo bem, melhor ele se manter afastado não quero que mais coisas aconteçam com ele.

Mas eu sinto tanta saudade e isso está acabando comigo mais que qualquer outra coisa. Eu sinto que estou ficando doente, toda vez que tento comer meu estômago rejeita, já tinha acontecido antes quando eu era adolescente mas agora estava pior, eu não como bem a dias e sinto que estou fraca o tempo todo.

— Pra onde você vai?

— preciso comprar algumas coisas..

— Você não tem dinheiro.

Era o primeiro dia do ano, John estava na mesa tomando café da manhã e nem se quer deu ao trabalho de olhar pra mim, talvez ele tenha se cansado de mim..apesar de estar aliviada por ele ter se afastado por causa do Nicolas eu também não podia deixar de sentir.

Preferia ficar fora de casa do que aqui, preferia que o Nicolas me matasse logo de uma vez pra não ver que o nosso relacionamento ja não existia e que eu não era mais importante pra ele..

— Você não tem dinheiro Maria, pra onde você vai?

— Vou sair com o Mason.

John parou de comer e olhou pra mim finalmente depois de uma semana sem me encarar, eu estava mentindo porque não queria ter que dizer que estava sufocando com sua frieza, dona Cristina me encarou sabendo da minha mentira mas não me questionou mais.

—...volte antes de escurecer..

Olhei para o John uma última vez vendo que ele estava reparando em mim, especificamente no meu corpo, foi a primeira vez que me senti insegura com isso. Eu estava perdendo muito peso, eu sei..fechei a blusa de frio e sai o mais rápido que pude.

Comecei a andar sem rumo apenas tentando respirar, Nicolas não deu nenhum sinal desde o hospital e eu não tinha certeza se isso era uma boa coisa.

Eu pensei que viver com meus pais fosse a pior experiência que eu podia ter mas eu estava errada, ser ameaçada sem poder fazer nada era simplesmente o inferno na terra, eu estava tão feliz com o John, finalmente livre, dona Cristina tinha aceitado nosso relacionamento e nós íamos construir alguma coisa longe daqui..

Continuei andando pela rua notando que a neve já estava descendo, o tempo realmente estava passando e em poucos meses viria a primavera, eu não estava animada, não sabia se estaria aqui ou se estaria viva pra ver o nascer das flores, essa incerteza era o que mais estava me acoando Nicolas não deixou pistas do seu próximo movimento e se as coisas continuassem assim eu teria mesmo que voltar com ele.

Tive uma sensação estranha e olhei pra trás, tinha um carro me seguindo e eu me apressei em acelerar os passos mesmo não sabendo quem era. O carro começou a se aproximar e eu já estava quase correndo quando a janela se abriu ao meu lado e vi Mason lá dentro.

— Puta merda...você quase me matou de susto.

— O que tá fazendo andando nesse frio?

— Nada..tava indo ao mercado..

— Você não sabe mesmo mentir, você acabou de passar do mercado.

Olhei pra trás vendo o quão longe eu já estava de casa, eu estava com os pensamentos tão distantes que eu nem notei isso, talvez eu precise mesmo voltar e comer alguma coisa.

— Entra aí eu te dou uma carona até em casa.

— Não precisa, eu vou andando.

Minha cabeça começou a dar voltas e minha visão começou a falhar eu estava me contendo em pé não podia desmaiar.

— Maria tá tudo bem? Faz dias que não te vejo e você tá.....diferente...

— Feia você quis dizer...

— Não só...um pouco mais magra e pálida.

Tentava me concentrar no som da sua voz mas minhas mãos começaram a tremer, ouvia o Mason falar tão longe mesmo estando perto de mim e derrepente já não via mais nada.

.................................

Sentia minha cabeça pesar assim como meu corpo, o som dos aparelhos era conhecido eu não podia acreditar que estava nessa cama de hospital outra vez.

Abri os olhos com dificuldade, tinha um tubo de oxigênio no meu nariz que ardia e eu me apressei em tirar, minha visão ainda não estava focada mas ao ver aquela quantidade de agulhas no meu braço eu me desesperei e comecei a arrancar uma por uma. O sangue começou a escorrer pelo meu braço pela agressividade em que arranquei mas eu tenho pavor de agulhas.

Tentei me levantar da cama mas assim que fiquei de pé minhas pernas perderam a força e eu cai no chão gemendo pela dor no quadril.

— Maria....porque você levantou? O que pensa que tá fazendo?!

John me ajudou a levantar do chão e eu tentava não chorar pelo estado em que eu estava. Eu nunca tinha chegado tão baixo não sabia o que estava acontecendo. Voltei pra cama tentando respirar mas estava difícil talvez seja porisso que tinha um tubo de oxigênio no meu nariz.

John notou que eu tentava puxar o ar e me ajudou a colocar o tubo outra vez e aos poucos consegui respirar melhor.

— Não pode levantar da cama.

...porque?..

Eu já nem mesmo reconhecia minha voz..

— O médico disse que você está anoréxica...ficou tempo demais sem comer ficou desnutrida, precisou de uma transfusão de sangue ainda estava recebendo mas você tirou o tubo.

Eu...eu odeio...agulhas..

— Faz um esforço por favor, você está depressiva precisa de tratamento se continuar assim vai morrer em uma semana.

Talvez eu deva...

Ele olhou pra mim e finalmente pude enxergar nítido, John parecia preocupado e eu me sentia mal por estar sendo um peso pra ele depois de tudo que aconteceu, eu era quem devia estar cuidando dele e não o contrário.

— Nunca mais fala isso...você precisa ficar bem meu amor..

Olhei pra ele perto de mim depois de ter passado tanto tempo distante e parecia o paraíso, o efeito dos medicamentos ainda estavam aqui me deixando com sono. Me atrevi a tocar seu rosto e felizmente ele não recuou pelo contrário ele pegou minha mão e a beijou e isso me fez sorrir ainda que fraca.

Eu tinha essa sensação boa no meu coração quando o tocava e quando o encarava, queria dizer tantas coisas mas minha voz já não saía eu estava perdendo a consciência outra vez mas antes de desmaiar de novo eu sussurrei pra que ele pudesse me ouvir:

Eu sei que tá cedo pra dizer isso....mas...eu quero que saiba...que eu te amo...

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