Retomando os planos

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E mais uma noite ela acordou suada e ofegante, tremendo e chorando como se tudo estivesse acontecendo outra vez.

— Tô aqui, eu tô aqui com você..

— Desculpa.

— Tudo bem amor.

— Me desculpa..

Hoje faz dois dias desde que ela teve alta do hospital e toda vez que dorme um pouco ela acorda assim assustada. Sei perfeitamente o que ela está sentindo, quando Marie morreu eu revivi meu trauma por meses até conseguir ter uma boa noite de sono.

A ninei em meus braços esperando ela se acalmar, minha mãe estava no outro quarto mas já se acostumou tanto com os pesadelos dela que não vem ver o que está acontecendo mesmo eu sabendo que ela também acorda.

— Precisa de terapia amor...pode ir com a minha mãe amanhã se quiser.

— Vai passar eu só preciso de um tempo.

— Tem certeza? Pode ser bom conversar sobre isso.

— Superei isso uma vez, posso superar de novo.

Ela é teimosa em todos os assuntos possíveis, eu sei que ela quer ter sua própria independência e ter sua própria opinião afinal ela não pôde ter isso a vida toda mas ela tinha que admitir que precisava de ajuda.

Quando ela se acalmou voltamos a deitar e ela se agarrou em mim como sempre, eu gostava da sensação que tinha de estar protegendo ela mesmo que não houvesse mais motivo para protegê-la.

..............................

Quando o dia amanheceu eu ainda estava com sono e cansado, Maria ainda dormia e não queria acordá-la já que noite passada ela demorou pra pegar no sono outra vez, tomei o banho e desci pra tomar café vendo minha mãe já a mesa.

— Suas olheiras estão fundas...ouvi noite passada, ela não quer mesmo ir fazer terapia comigo?

— Não, e eu não vou forçá-la a aceitar..

— Disse que iriam pra Califórnia, já sabem quando?

— Ainda não, já consegui trabalho lá no próximo mês mas se ela não quiser ir até lá eu vou recusar.

— Vocês precisam ir, ter novos ares, novas experiências, vai ser bom pra vocês dois.

— Porque eu sinto que está querendo se livrar de mim mãe?

Ela riu desacreditada no que eu havia falado mas eu estava apenas brincando com o fato de que apesar do que aconteceu nos últimos dias ela parecia bem mais feliz.

— Qual o motivo de você estar toda arrumada assim?

— Eu sou uma mulher John, gosto de me arrumar.

— Você sempre foi uma mulher mas nunca se arrumou assim, fala logo eu tô curioso.

Ela revirou os olhos em deboche tomando seu café, acho que já sei o porquê do seu ânimo mas estava esperando ela contar.

— Liam Smith, satisfeito?

— Deixa ver se eu entendi, você está em processo de divórcio com meu pai e está saindo com o mesmo advogado que está cuidando disso? Seu próprio advogado?

— Eu já perdi muito da minha vida John, e não me julgue..

— Eu nem poderia eu era um padre até semana passada..

— Eu já estava me acostumando com a ideia de não ter uma nora, afinal você ainda não me contou como isso aconteceu. Me conta os detalhes.

Não tinha a menor possibilidade de contar isso pra ela por mais que eu quisesse, a história já era absurda mas os detalhes eram piores, eu adorava a forma profana como Maria me arrancou da igreja mas aos olhos das pessoas nossos momentos soariam desrespeitosos, principalmente a forma como perdi minha virgindade.

Felizmente Maria desceu as escadas na hora certa tirando a atenção do assunto, ela tinha se arrumado um pouco e apesar de estar ainda um pouco abatida parecia bem disposta hoje.

— Bom dia..

Ela deu um beijo no rosto da minha mãe e depois me deu um selinho se sentando ao meu lado e pela primeira vez se servindo do café da manhã por conta própria, minha mãe me olhou com um sorriso grande vendo o mesmo avanço que eu via nela.

— Sobre o que estavam falando?

— Pedi pro John me contar como vocês começaram a ficar.

Maria olhou pra mim com os olhos arregalados com a mesma expressão de susto e começou a rir sem graça mudando de assunto.

— Está bonita dona Cristina, vai sair?

— Ela tá se arrumando mais pro advogado.

— John porfavor, não diz isso nesse tom..

— Que tom?

— Como se eu fosse uma adolescente tendo um primeiro encontro. Ele me chamou pra ver a exposição do Van Gogh não é nada demais.

— Hnn que romântico dona Cristina...quem diria que a senhora é rápida.

Maria e eu começamos a rir de sua expressão séria e envergonhada, suas bochechas estavam vermelhas nunca tinha visto minha mãe assim.

— Ah eu já vou, não consigo ter uma conversa madura com vocês dois...

Ela pegou a bolsa pronta pra sair enquanto Maria e eu continuamos a rir e quando ela abriu a porta Maria gritou:

— Não esquece a camisinha!

Ela nos olhou uma última vez com raiva e saiu sem dizer mais nada, Maria continuava rindo ao começar a comer o pão com ovos que ela mesma tinha se servido. Eu não conseguia parar de olhar pra ela, ficava tão linda quando sorria, eu estava hipnotizado.

— Que foi?

— Amo o seu sorriso sabia?

— Está parecendo um idiota apaixonado....eu adoro..

Desde o hospital eu estava me segurando para não deixá-la desconfortável com meu afeto, mas ao vê-la tão solta hoje eu me atrevi a me aproximar e a beijar de verdade como não fazíamos a muito tempo.
Puxei seu rosto afundando ainda mais minha língua em sua boca e ela retribuiu com tanta vontade que me fez suspirar.

— Ei...vai com calma..- ela disse rindo contra minha boca e só então notei o quão intenso aquilo estava.— Não é o momento pra transar, vamos ter muito tempo pra isso..

— Desculpa, senti saudade..

Ela voltou a me beijar deixando que eu me afundasse em sua boca, me afastei antes que as coisas ficassem ainda mais intensas porque sabia que ela não estava pronta pra isso ainda.

— Sabe John, eu estava pensando..

— Sobre o que?

— Fizemos planos, e eu quero começar a cumprir...quando vamos pra Califórnia?

Eu pensei que ela não quisesse retomar os planos agora mas ao que parece ela estava animada pra isso.

— Eu estava esperando você perguntar, podemos ir quando você quiser.

— O que acha do próximo mês?

— Acho perfeito...

Ela ainda tinha os olhos tristes mas estava mesmo se esforçando, talvez minha mãe tivesse mesmo razão, Maria gosta de novas experiências e isso pode ser ótimo pra ela. Se afastar de tudo e dos traumas pode deixá-la melhor.

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