O trauma dela

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Eu a agarrei pelos braços pronto pra perder a cabeça em uma discussão até notar que era isso que ela queria, eu nunca pensei sentir essa raiva outra vez, lembro da última vez que senti isso e foi quando me dei conta de que eu era culpado da morte de Marie. Eu fiquei com raiva de mim mesmo e me bati até que meu rosto estivesse cheio de sangue.

E agora eu estava assim de novo mas não por mim, eu queria poder bater nela ou fazê-la perceber o que sua falta de escrúpulos estava me causando. Eu não queria sentir e ela estava me fazendo sentir.

— Que tipo de demônio é você?!

A soltei bruscamente sentindo minhas veias arderem de raiva, ela me olhava superior e não entendo o que ela estava pensando.

— Minha mãe dizia que eu era Lilith, sabe superior e rebelde. Sempre levei como um elogio.

— Porfavor eu tô implorando...me deixa em paz.

— Acha que eu estou sendo cruel com você? Não John, estou tentando te fazer perceber como é do outro lado...

Ela se aproximou de mim desta vez mais gentil mas eu não queria que ela chegasse perto então me afastei andando pra trás até encostar na porta, eu estava encurralado e ela sabia. Maria tocou meu rosto aproximando seu corpo ainda mais me fazendo fechar os olhos, nem notei quando um suspiro me escapou e ela sorriu porisso.

— Deve ter sido torturante ser assim a vida toda não é John? Escondendo o que você quer, reprimindo suas vontades...acredite eu entendo.

Sua voz doce e suave me fez abrir os olhos, ela me olhava tão terna, com os olhos cheios de lágrimas como se realmente sentisse minha dor. Eu queria tanto poder dizer a ela o que eu sinto e meus motivos para não querer mudar mas eu não conseguia.

Ela é uma completa estranha que esta tentando me tirar do meu propósito de vida e eu não podia deixar isso acontecer.

— Eu juro por Deus, que se você não parar o que está tentando fazer comigo eu vou dar um jeito de tirar você da minha casa.

Ela se afastou de mim mas não parecia assustada com minha ameaça pelo contrário, seu olhar era de pena e eu odiei ver aquilo. Abri a porta pronto pra sair mas ela se apressou e passou na minha frente saindo primeiro, será que ela finalmente iria me deixar em paz?

Respirei fundo tentando me recompor e segui para o carro, meus pais já me esperavam lá e pareciam impacientes.

— Dona Cristina eu posso ir na frente? Acho que enjoei um pouco mais cedo.

A ouvi falar com minha mãe enquanto me aproximava do carro, ela olhou pra mim e baixou a cabeça como se não quisesse me encarar, bom pelo menos ela entendeu e não iria mais mexer comigo. Eu deveria estar feliz não é?

Quando entramos todos no carro ela nem parecia estar ali, durante o caminho até em casa também ficou quieta e quando chegamos ela não quis comer e se trancou no quarto. Não entendo o que eu posso ter dito de tão ruim que a fez reagir desta forma.

Eu já tinha pedido para ela me deixar em paz antes então porque só agora ela me ouviu? O que estava acontecendo com ela?

— Sabe o que houve com a Maria?.- perguntei casualmente enquanto ajudava minha mãe a retirar a mesa do jantar.

— Eu sabia que não seria uma boa ideia ela ir a missa hoje...

— Porque? O que isso tem haver?

Minha mãe parecia hesitar em me dizer, ela é meu pai sabem a história completa de Maria mas até agora nenhum deles me contaram, acho que estão tentando preservar a história dela mas moramos na mesma casa eu tenho direito de saber.

— O pai dela era pastor mas ele era...bem..fanático.

— Como meu pai?

— Não querido, ele era realmente assustador. Maria não queria ser a menina perfeita, ela sempre teve o jeito dela mas o pai dela juntamente com a mãe não a deixavam sair de casa a não ser para a missa.

— Ela não parece ser o tipo que obedecia.

— E não é, porisso mesmo o pai dela enlouqueceu e jogou gasolina na casa e nela e depois ateou fogo. Eu não sei mais nada além disso mas imagine como seria viver sobre essas condições, literalmente fingindo ser quem não é, e morrendo de medo da própria sombra. A igreja hoje deve ter sido um gatilho enorme.

Agora eu consigo entender o porquê ela estava agindo desta forma, a igreja não foi o gatilho pra ela mas eu fui.

Terminei de arrumar a mesa e subi direto ao quarto dela, tive medo de bater na porta e ela me mandar ir embora afinal eu que disse pra ela me deixar em paz. Mesmo assim eu toquei a maçaneta notando que a porta estava destrancada e abri devagar olhando lá dentro.

Ela já estava na cama, as luzes estavam apagadas mas eu entrei mesmo assim. Fechei a porta atrás de mim me aproximando de sua cama, queria acordá-la para pedir desculpas, eu revivi o trauma dela e não era minha intenção. Estava prestes a tocá-la quando ela começou a ter um pesadelo, murmurava alguma coisa e se mexia como se estivesse sofrendo, ela parecia estar com medo.

hnnn..não faz isso....pai porfavor não faz isso...

Meu coração doeu ao ouvi-la implorar, sua voz ainda era arrastada mas podia ouvi-la claramente e bem consigo imaginar o que ela deve ter passado. Toquei seu rosto tentando acordá-la delicadamente mas seu sono estava tão profundo que precisei sacudi-la.

Maria acordou assustada e ofegante, estava completamente suada e confusa e quando me viu começou a chorar no mesmo instante e eu a abracei sentindo seu corpo tremer.

— Calma, tá tudo bem já passou..

Ela chorava de um jeito tão sentindo que me dava pena, seu corpo estava quente e temi que estivesse passando mal por seus tremores.

— Ele....ele quis..q..quis me matar..

— Já acabou, você tá segura agora..

Seu choro ainda continuava forte, Maria não parecia ser o tipo de garota que se assustava fácil e eu com certeza a julguei errado quando pensei que ela não estava sofrendo.

Aquilo era mais do que sofrimento era pura dor, eu provavelmente nunca vou saber o que ela sente porque ela estava aqui agora tentando conter seu choro agarrada a mim como uma criança e tudo que eu quero é segurá-la e fazê-la esquecer de tudo que passou.

— Vai ficar tudo bem, eu vou cuidar de você eu prometo.

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