008

398 30 16
                                    


LUANA 🎢

Saí daquela casa com a minha bolsa no ombro e fui andando pela favela enquanto chamava o meu uber.

Eu não estava acreditando naquilo não, eu sempre avisei Muito sobre o Richard, sempre disse que via um olhar de inveja vindo dele, mas o que eu escutava?

"Ah amor, não complica, se você não gosta dele, não fica criando suas paranóias na cabeça"

Então eu deixei tudo de lado, eu ainda aviso sobre as coisas que fico sabendo por aí, mas parece que ele tem uma venda nos olhos que não consegue enxergar nada além de um irmão do peito, um irmão que a vida deu.

Eu nunca disse pra ele que eu cairia na bala por ele, nunca disse que correria junto com ele, eu nunca disse isso para ele, mas no primeiro momento em que eu ver uma covardia com os meus próprios olhos, eu vou cair na bala junto com ele, se eu tiver na favela e começar uma invasão eu vou estar do lado dele, mesmo ele não me querendo no meio, se ele rodar, eu vou ser ele aqui dentro, vou cuidar dos dele e dele lá dentro.

Mas desse jeito não dá, se ele continuar duvidando de mim e acreditando nos parceiros dele, quem vai rodar vai ser eu, e eu estou pouco me fodendo se eu morrer, se eu morrer, vou morrer amando, vou morrer com o coração quente. Minha mente é limpa, eu nunca traí e nem penso em trair o Murilo, mas agora ele eu já não sei.

Mente de bandido é assim: droga, putas, dinheiro e traição, é isso que se passa na cabeça de um homem dessa vida.

??: Luana! - escuto meu nome ser gritado e eu olho para trás vendo um menino todo machucado - Me ajuda, por favor.

Olho assustada pelo jeito que estava e chego mais perto segurando ele pelo braço.

Na minha cabeça já começou a passar que ele estava sofrendo agressões dentro de casa, e se for isso, eu não vou tolerar não.

Luana: Que isso menino, quem fez isso com você? - pergunto vendo ele piscar os olhos devagar.

??: Não posso dizer... - ele engole em seco - Se eu disser, eu posso morrer, mas eu só quero dizer que eu não aguento mais...

Tirei ele ali do meio da rua e fui andando até a minha casa de volta, os moleques ali da segurança já me olharam estranho e eu só passei por eles entrando na minha casa.

Assim que eu entrei vi o Murilo ali jogado no sofá, assistindo um desenho que passava ali na televisão.

Pipa: Que isso? - pergunta me olhando assusto - Tá fazendo o que aqui moleque? Tá assim, por que?

O garoto só olhou pra cara dele e começou a chorar como um bebê, eu fiquei sem entender nada que estava acontecendo. Murilo desligou a televisão e veio até a gente pegando o moleque pelo braço e sacudindo ele com força.

Luana: Larga o moleque, Pipa - chamo ele pelo vulgo que me encara sério - Ele tá machucado, quase morrendo e você ai, se liga.

Pipa: Se liga o caralho - ele solta o moleque - Tu não ia trabalhar, tá fazendo o que aqui ainda?

Luana: Vai se foder - pego o menino dali e subo as escadas deixando ele no banheiro e indo procurar alguma roupa pequena para colocar nele.

...

Hoje eu decidi que não iria pro trabalho, então já mandei uma mensagem pra Amanda e avisei pra ela tomar conta de tudo lá pra mim, para a minha sorte ela aceitou e agora eu estou aqui fazendo almoço enquanto Murilo está aqui no meu ouvido metralhando sobre o menino estar aqui na casa.

Pipa: Quem é esse menino, Luana? - ele me pergunta pela milésima vez.

Luana: Não sei não, ele me parou na rua e pediu ajuda - digo olhando pra ele que ainda tinha seu semblante sério - E eu ajudei, menino tava pra morrer ali sozinho.

Pipa: Tu é muito burra...

Luana: Vai começar? - paro de cortar a carne e olho bem pra ele - Não tô com cabeça pra discutir com você não, desde de hoje de manhã, aliás, nem sei o que você tá fazendo aqui ainda, a boca precisa de você.

Pipa: Vai viu Luana, tô de olho em você - ele dá dois tapinhas nas minhas costas e eu viro o cabo da faca batendo nele.

Eu tenho uma vontade imensa de meter a faca nesse cara, não pra matar, só pra mostrar que eu não estou brincando com ele.

Continuo fazendo o almoço e escuto o barulho do vídeo game sendo ligado, nego com a cabeça e logo começo ouvir os dois brincando e gritando, provavelmente Murilo vai jogar papo fora com ele até o moleque abrir a boca do que aconteceu, eu conheço o homem que eu tenho, falo isso por que ele sempre fazia isso comigo, sempre conversava comigo, se abria e quando eu dava por mim já estava contando tudo pra ele.

Murilo sabe jogar.

Luana: Vem comer! - grito da cozinha e os dois demoram um pouco pra vim.

Murilo coloca a comida dele e eu coloco a do moleque, já que ele não é de casa e está com vergonha, coloco a minha também e me sento ali na mesa com eles. O silêncio estava me deixando maluca já, só se escutava o barulho dos pratos e a respiração pesada do menino que comia tudo rápido.

Luana: Qual seu nome? - pergunto vendo ele me olhar, com os olhos pretos fundos.

Ele tem uma expressão muito pesada, cansada e feia, feia no sentido de ser batalhador, eu tenho certeza que ele usa algum tipo de droga, conheço pertence, já fui uma.

??: Riquelme - diz com a voz baixa -  Luana, tu não vai fazer nada comigo, né?

Esse menino sofre algum tipo de agressão, não tem como.

Pipa: Como assim moleque? - ele pergunta dando um gole no suco - Que papo é esse de não fazer nada contigo?

Riquelme: É melhor eu falar a minha boca - ele volta a comer devagar - Não quero morrer, não posso, sou novo ainda.

E ele começa outra vez com esse papo de morte, do mesmo jeito que encontrei ele falando isso, ele está falando outra vez.

Pipa: Olha aqui moleque, abre a porra da boca vai - diz já sem paciência - Hoje eu não tô legal não, então já começa a falar logo.

Riquelme: É que...

Luana: Come, não precisa dizer nada agora não - digo fazendo ele voltar a comer - Pipa, sai daqui logo mano, come e vaza.

Murilo não entendeu legal não o que eu disse pra ele, então só me deu um beliscão por baixo da mesa, e como eu não sou de ficar calada, já meti o garfo na mão dele.

Luana: Vamo ali tomar um sorvete - levanto da mesa e o menino se levanta junto comigo - Fica aí otário.

Passo pelo Murilo que me dá um murro da bunda e eu nem dou bola, só pego a minha carteira e saio de casa com o menino indo direto pra sorveteria.

Eu vou tirar informações desse moleque.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora