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PIPA 🪁

Luana é maluca, dá abrigo pra gente que nem conhece, e pior ainda, trás pra minha casa.

Termino de comer minha comida com a mão sangrando por conta da garfada e levanto dali indo lavar os pratos, termino e me jogo no sofá cansado de tudo. Comandar uma favela não é fácil não, tem que ter cabeça, ainda mais quando você tem confronto com facções rivais e com os verme.

"Salve maluco, tu nem sabe onde eu tô"

Recebi uma mensagem do peixe e cerrei os olhos vendo a foto que ele tinha me mandado uma foto na praia, já mandei um áudio pra ele bravo pra caralho, cheio de trabalho aqui e o filho da puta curtindo em angra, esse quer foder com a minha vida mesmo.

Passei raiva com ele por minutos, mas larguei de mão mandando o papo que iria mandar os caras ir atrás dele e trazer ele à força, bagulho não é o creme não, tem trabalho pra fazer, mesmo ele sendo o meu braço direito, ele não pode ficar largadão não, se eu não fico ninguém fica.

...

A favela tá bem movimentada, as crianças tudo saiu pra fora e tão jogando bola, algumas estão soltando pipa e as tias tudo tá na praça fofocando e falando mal do povo, e eu estou aqui na boca principal, com os moleque ajudando na lojinha que tá bem movimentada.

Amira: Qual foi Pipa? - ela chega ali na lojinha com um sorriso no rosto - Lembra de mim?

Como não lembrar? Maluca era minha puta a seis anos atrás, muito antes de conhecer a Luana, ela sempre correu atrás de mim, sempre ficou na minha cola mas eu nunca dei mais bola já que agora estou casado, acho feio demais esses bagulho de trair, mesmo já passando pela minha mente, acho feio.

Amira: Virou pai, foi? - ela pergunta e eu cerro os olhos - Vi tua mulher com uma criança lá na praça.

Pipa: Não te interessa não - digo seco - Diz logo o que você quer.

Amira: Eu queria você, mas nem rende - ela dá de ombros - Então quero um pino.

Abri a gaveta e dei pra ela pegando os cinco reais da mão dela.

Eu nem sabia que ela tinha voltado a morar aqui na vila, nunca mais tinha ouvido falar dela aqui, nem as amiguinhas tocavam no nome, e agora ela vem do nada? Minha mente paranóica já começa a trabalhar.

K10: Caralho mano, as mulher dessa porra é tudo maluca - chega fazendo o toque com todo mundo - Meu maior erro foi me envolver com maluca, com surtada.

Pressão: O que, que pega? - pergunta brincando com um pacotinho de cocaína.

K10: Mulher jogou a faca na minha direção, tá maluco - ele se senta ali na cadeira dele - Se eu não desviasse, estaria com Deus agora.

Pressão: Deus nada, com o capeta - ele diz rindo e K10 mete o dedo pra ele - E esse machucado aí na sua mão chefe?

Pipa: Tomei uma garfada da mulher - os dois começam a rir - Tô na mesma que você, K10.

Fiquei ali de marola com os dois e logo parti pra ajeitar algumas coisas, o dia passou normal, agora eu estou aqui, pagando os moleques que foram pra um assalto e vendo se a casinha de armamentos tá tudo em ordem.

Luana: Sabe ler? - entro em casa escutando ela falando com alguém da cozinha - Tem que saber cara, como vai levar a gata pra sair? Vai pedir as coisas do cardápio como?

Riquelme: Preciso saber ler não, vou nos números tia - escuto a risada dela - E outra, só vou namorar com ela mesmo, então não adianta de nada.

Luana: Adianta sim, se for arrumar um emprego tem que saber ler.

Riquelme: Emprego? - ele pergunta irônico - Já trabalho, eu faço... Nada, é melhor eu aprender a ler mesmo.

Entro ali na cozinha já abrindo a geladeira e beijo a cabeça da Luana que desvia, faço o toque com o moleque e abro o forno pegando um pedaço de bolo.

Pipa: Moleque, tu tem quantos anos mesmo? - pergunto e ele abre um sorriso de orelha a orelha.

Riquelme: Menor de nove anos, as gatinhas pira em mim - ele diz e Luana cai na gargalhada e ele começa a rir também - É sério tia, sou o pegador da rua sete.

Luana: Tu tem que estudar cara - dá um leve tapa na cabeça dele - Deixa teus pais ficar sabendo disso.

Na hora o clima mudou, Riquelme baixou o olhar e tirou o sorriso do rosto, olhei pra Luana que eu encarou com os olhos arregalados e eu só dei de ombros.

Ai tem coisa.

Riquelme: Sou sozinho, tia - ele diz limpando o rosto - Minha família é eu e meus orixás.

Arrepiei na hora, moleque mostrou as guias no pescoço e beijou elas, ali eu senti firmeza nele, senti que ele deve sofrer pra caralho mas deve deixar tudo de lado, tentando achar uma válvula de escape.

Riquelme: Clima pesadão que ficou - ele começa a rir tentando tirar o clima - Bora jogar? Tu não disse que ia me amassar no mortal kombat?

Luana levantou dali e saiu da cozinha, escutei os passos dela subindo as escadas e eu me sentei ali com ele na mesa, olhei bem pra cara dele e pude ver que os machucados que ele estava ainda não estavam bom, e nem tem como, já que ele tava esfolado hoje mesmo.

Pipa: Se você ganhar, tu fica aqui por um tempo - estendo a minha mão pra ele - Mas se eu ganhar, tu rala, moro?

Riquelme: Jae - ele aperta a minha mão e a gente sai dali indo pra sala.

Antes, eu subi pra ver se Luana estava bem, e quando eu cheguei lá ela estava chorando baixinho, olhando a vista da janela. Cheguei mais perto dela que tentou se afastar, mas eu me sentei do lado dela e puxei ela pra um abraço.

Pipa: Quer que ele fique? - pergunto e sinto ela balançar a cabeça confirmando.

Eu iria aceitar esse pedido dela, sei como ela fica em ver os menor assim, toca no coração dela pra caralho, e só hoje por alguns minutos pude ver ela sorrindo de verdade, com brilhos nos olhos.

Luana me disse raras vezes que sentia uma pequena vontade de ser mãe, mas não queria por conta do jeito dela e por conta do passado.

É um bagulho nada a ver pra mim, mas pra ela é algo que machuca, então eu nem faço questão de tocar no assunto pra não machucar ela.

Pipa: Vamo lá jogar, moleque tá esperando - solto ela que limpa os olhos antes de me encarar nos olhos - Te amo, maluca.

Luana não me responde em palavras, mas sim com um beijo.

Eu sei que ela me ama, e que essa é só uma forma de demonstrar seu amor por mim.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora