72

106 14 5
                                    

LUANA 🎢
10 anos depois

Hoje o dia está sendo corrido, nós não estamos na favela, e sim em Angra dos Reis, hoje é aniversário dos gêmeos, mas estamos comemorando o da Glenda junto já que eles tem meses de diferença.

Nesses anos tudo aconteceu, Murilo e eu casamos, Riquelme começou a jogar oficialmente, graça a Deus ele não aceitou trabalhar na boca, meu filho já está com seus vinte anos, pronto pra entrar no mundo adulto, se jogar no mundão. Ele ainda mora comigo, mas mesmo assim comprou uma casa de um cômodo na na penha pra poder passar uns dias sozinho.

Amanda e Pressão vão se casar e ela está esperando um neném, Juan, filho deles, é o melhor amigo de Glenda. Os dois não se desgrudam nem que ofereçam dinheiro, mas eu acho até bom isso, pois todos nós somos uma grande família, uma família do peito, sabe? É estranho poder explicar o que acontece ao nosso redor, dizer sobre como nossa conexão é única.

Eu amo viver isso, eu agradeço a cada dia por ter aceitado me entregar pro Murilo, fico com a cabeça mais leve só de pensar nisso, pois se eu não tivesse aceitado seu pedido, provavelmente eu já estaria morta ou me vendendo, como eu sempre fazia.

Então eu não reclamo de nada que tenho hoje em dia.

Três anos antes

Murilo é um pau no cu do caralho, eu fui trabalhar e pedi para ele levar as crianças pra escola. Como eles só tem sete anos de idade, não podem ficar faltando não, ainda mais agora que estão no começo da escola. Agora eu estou aqui, dentro do Uber puta da vida por que ninguém me atende, além do mais, me disseram que teve invasão na falava, e que três crianças morreram com essa operação.

E nisso o meu coração já fica como, apertado dentro do peito, eu já começo a pensar em várias coisas, ninguém de casa me atende.

Eu só posso ter jogado muita pedra na cruz.

Luana: Muito obrigada - saio do carro e vou andando até a principal, e ali eu já avisto três dos meninos com a cara fechada, todos me encarando entranho - O que aconteceu?

Ninguém me respondeu, e aquilo só foi me deixando maluca das idéias.

Comecei a andar pela favela até chegar na minha casa, mas no meio do caminho, eu tinha olhares de algumas pessoas, elas me encaravam estranho e com pena. E ali eu já tinha desistido de tudo, quando eu vi o carro da funerária ali na porta da minha casa, eu deixei minhas coisas no chão e fui correndo até lá pra saber o que estava acontecendo, e nessa altura eu já estava passando mal, minha pressão já estava alta e meu coração batendo na minha garganta.

Fui entrando na minha casa empurrando todos ali e dei de cara com os meus filhos ali no chão, com balas atravessando seus peitos, Riquelme estava ali do lado, chorando e abraçando os corpos molhinhos em suas mãos. Murilo estava deitado no chão perto deles.

Isso foi tramado.

Entraram na minha casa e tiraram a vida dos meus filhos!

Como que os três iriam morrer assim?

Luana: NÃO! - me jogo perto deles e abraço os três corpos - Meus bebês não... O que que fiz pra merecer isso?!

Eu estava com o coração na boca, minha vida estava acabada por ali mesmo, essa é a pior cena que eu posso estar precisando. Meus filhos mortos nos meus braços, caídos na minha sala.

Luana: Que fez isso?! - olho para todos ali a minha volta mas ninguém me responde - PORRA, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO!!

Eu senti a mão de Riquelme no meu braço, tentando me tirar de cima deles, mas eu não tinha forças nem de levantar. Mas por ele já ser forte, ele me levantou e afundou meu rosto em seu ombro.

Pipa: Oxalá está cuidando deles - ele sussurra no meu ouvido - Não chore, eles estão em um lugar melhor.

Eu não consegui dizer mais nada, apenas abracei ele ali e continuei chorando, essa é a pior dor que uma mãe pode sentir.

Pipa: Amor... - escuto sua voz atrás de mim e não olho para ele - Olha pra mim, vamos orar pra eles, antes deles serem levados para o necrotério.

Eu não tinha forças para fazer nada, mas saí do abraço e me virei pra trás, vendo ele ali ajoelhado com uma caixinha preta nas mãos e os meninos atrás dele, todos rindo.

Demorei um pouco pra raciocinar, mas quando minha fixa caiu, eu comecei a chorar mais ainda, e ali não foi só choro como outros vários xingamentos foram soltos.

Pipa: Não consegui fazer uma surpresa bonita não - ele começa a rir e eu continuo chorando - Mas quer casar comigo? Continuar juntos para o resto da vida?

Luana: Sim! - digo ainda chorando mas limpando o meu rosto - Eu poderia te matar agora, seu filho da puta!

Dias atuais

Riquelme: E o parabéns! - pela terceira vez ele puxa esse tal de parabéns - Cagados, cagados!

Glenda junto com o Ryan mostraram o dedo para ele, mas eu só dei um tapa na mão dos dois e todo mundo riu, até mesmo eles começaram a rir da situação.

O bolo foi cortado e logo a festa voltou a acontecer, Rayla, gêmea do Ryan já foi direto nos presentes que estavam com os nomes dela, e ali ela começou a abrir todos com as amigas. Já os outros dois foram brincar com as crianças por aí.

O som voltou e eu como sempre fui arrumar algumas coisas e servir as pessoas, Riquelme e o tal do Gordão juntamente com o cadeira foram pra um canto da casa, e ali eles começaram a rir. Murilo estava no meio dos irmãos dele (irmãos do crime). Mas não demorou muito pro capeta vim atentar quem estava quieto.

Pipa: Tava lembrando, daquele abraço apertadão... - ele me abraça por trás e me dá um beijo na nuca - O seu cheiro bom, grudou no meu moletom.

Luana: Deixa eu ir servir o povo - digo e ele nega com a cabeça - Vai Murilo.

Pipa: Me chama de marido - eu dou uma risada alta - Porra Luana, eu quero envelhecer contigo, papo dez mesmo - e ali ele começou com as juras dele - Eu te amo maluca, tu é minha Tiffany e eu sou o seu Chucky.

Luana: Que coisa feia, esse negócio de Tiffany e Chucky - ele começa a rir e eu acompanho ele - Mas eu também te amo, mesmo sofrendo com as suas palhaçadas, eu te amo muito!

Realmente, eu só tenho a agradecer por tudo que aconteceu na minha vida, se nada disso tivesse acontecido, eu não seria a pessoa que sou hoje, não seria a pessoa corajosa que eu sou.

Eu amo o que tenho, e não troco por nada nesse mundo.

FIM

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora