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LUANA 🎢

Eu levei um tiro de raspão, eu não sei como, mas tudo aconteceu tão rápido que eu nem vi o Peixe apertando o gatilho e a bala atravessando o braço do Murilo, eu só vi os dois no chão e o meu braço sangrando muito, Riquelme ficou agachado no chão chorando, olhando tudo aquilo assutado, com medo da cena.

Eu sei que errei em ter matado o Peixe daquele jeito na frente dele, sei que eu posso ter acabado com a infância dele e ter criado um pesadelo para o resto de sua vida, mas eu não pensei na hora, tudo o que queria fazer era matar ele e acabar com tudo isso que estávamos passando, e por incrível que pareça, depois que eu matei ele, um peso saiu das minhas costas e eu pude finalmente soltar toda a respiração que estava presa.

Minha casa está toda quebrada, ele fez questão de quebrar quadros, vasos e todos os móveis.

O corpo do Peixe já foi levado, agora nós estamos na outra casa, já que não temos condições de ficar na outra onde tudo está quebrado  e o clima lá está pesado.
Nessa segunda casa, tem somente um quarto, então vamos dormir todos juntos até resolver tudo.

Riquelme: Eu vou dormir no canto - se jogou na cama.

Luana: E quem disse que você vai dormir aqui? - cruzei os braços com uma certa dificuldade, rindo para ele.

Riquelme: Ninguém - ele começa a se cobrir - Murilo dorme na sala.

Nego rindo mais ainda e apago a luz indo até ele, Murilo não está em casa desde da hora em que os tiros pararam e levaram o peixe da outra casa, eu não sei o que fizeram com ele e nem me interessa, mas agora eu estou preocupada com o meu marido, que está ai pela favela sem saber se ainda tem algum cara que veio pra matar ele.

Riquelme: Amanhã eu não vou ir pra escola não - diz e eu me deito do seu lado.

Luana: Por que não? - me cubro - Pode ficar faltando não, tu tá em semana de prova.

Riquelme: Tô cansado - ele entra debaixo da coberta junto comigo me abraçando - E a professora é muito chata.

Luana: Ela é chata, mas a matéria que ela passa não - digo e ele estala a língua - Tu não pode abandonar os estudos não, me promete.

Ele ficou calado por um bom tempo, mas eu dei uma pequena balançada nele que riu.

Riquelme: Eu prometo - sua voz é manhosa - Eu disse que vou te deixar orgulhosa.

PIPA 🪁

Depois da invasão que teve, mandei virem buscar o corpo do Peixe que estava na minha casa, o filho da puta fez questão de quebrar tudo o que viu pela frente, ele acabou com a minha casa. Mas isso pra mim é de menos, eu já estava com planos de construir outra mesmo, já queria mudar pra uma maior.

Mas agora eu estou aqui na boca em reunião com os meus, e pelo o que eles se disseram, os caras não entraram pela frente, e sim pelas laterais e pela divisa da aliança. Fiquei pilhadão com isso, os caras não tiveram nem peito o suficiente pra invadir na nossa cara, mas o bom foi que nenhum dos meus morreram, no máximo três ou quarto ficaram feridos, mas fora isso, quem saiu ganhando foi a gente.

Pipa: Mais uma vez, eu peço perdão ai - saio do meu lugar e começo a fazer o toque geral - Deixei vocês na mão nessa parada.

Amarelo: Na paz patrão - ele diz fazendo jóia com o cigarro no canto da boca - A peça principal já foi embora, agora a favela fica em paz.

Pipa: Amém - digo e alguns deles dão risada - Pra comemorar a morte do verme, pagode sexta-feira na sete, bem na praça.

Todos ali na salinha comemoraram e eu piei dali com a minha arma nas costas, e girando a chave da minha moto nos dedos. Andei o beco todo escuro, apenas escutando os cachorros latindo e algumas crianças chorando, passei a mão no meu braço que estava enfaixado e fechei os olhos, essa porra vai infeccionar se eu não for no postinho, mas infelizmente não é 24hrs, então vou ter que esperar até amanhã.

Parei a moto na frente da casa vendo dois moleques na contenção e fiz o toque com eles, ninguém sabe dessa casa a não ser os cara do movimento, e quem sabia também era o Richard, o único e só.

Entro na casa que está toda escura e em silêncio, deixo a arma ali no sofá e vou para a cozinha acendendo a luz, abro a geladeira bebendo água e saio dali entrando no corredor e indo para o quarto, a casa é de um andar, com apenas um quarto, ela é pequena mas aconchegante, então até comprar uma nova casa ou construir outra, temos um lugar bom para ficar.

Acendo a luz mas já apagando rápido, vendo Luana e Riquelme dormindo juntos, sorriso com aquilo e tirei minha camiseta, indo até eles e deitando na ponta da cama, rodeando a barriga da Luana com meu braço.

Luana: Fiquei preocupada... - sua voz é baixa.

Coloco minha mão em cima da sua e fecho meus olhos sentindo seu cheiro entrar no meu nariz, Luana me passa um ar de conforto, ela trás paz, é um bagulho difícil de explicar, mas só de estar ao lado dela eu já me sinto bem, saca?

Isso deve ser o amor.

Pipa: Quem cuida não dorme - beijo seu ombro.

Luana não disse nada, apenas ficou alisando minha mão até pegar no sono outra vez, já eu não consegui dormir, mesmo com os olhos pesados eu passei o resto da noite em claro, com medo de acontecer mais alguma coisa.
Eu não tenho medo de morrer, jamais, eu tenho medo de machucar o meu povo e principalmente, a minha família, tenho medo de levarem Luana outra vez e eu nunca mais conseguir ver ela, tenho medo de alguém vim e machucar o Riquelme, mais do que ele já é machucado, os meus medos são esses, nada me inclui, mas tudo inclui as pessoas ao meu redor.

Meu medo é perder quem eu amo.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora