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LUANA 🎢

Eu mal sinto o meu corpo, eu estou muito dolorida, meus braços doem e minha cabeça parece que vai explodir. Eu lembro de tudo o que aconteceu, lembro de cada detalhe até a hora onde eu apago dentro do carro. Eu nem penso em como o Murilo deve estar, tudo o que eu quero saber é de como a minha filha está, quero saber se ela ainda está dentro de mim, se tiveram que fazer um parto de emergência, quero saber se ela virou um bebê arco-íris...

Eu rezo e prezo muito para que minha filha esteja aqui comigo, a salvo, mas se ela tiver ido embora, eu vou conseguir lidar com a dor, mais uma vez.

Meus olhos não se abrem por completo, e se eu forçar muito uma dor ajuda começa e passa pra minha cabeça.

Eu só quero ir embora.

- Luana? - escuto uma voz masculina e alguns barulhos de equipamentos - Eu sou seu doutor, então tudo que você precisar, eu estou aqui e as meninas da enfermagem também estarão aqui para te ajudar - apenas balanço a minha cabeça.

Luana: Doutor... - minha voz é fraca e muito baixa, minha garganta está seca e ardendo muito, meus lábios estão secos - E a minha... Filha?

Eu não recebo uma resposta de imediato, ele fica calado por alguns segundos, eu posso muito bem escutar ele soltando uma respiração longa e pesada.

- Sua filha está bem - sinto o meu corpo relaxar - Por algum milagre, ela não foi afetada em nada, claro, a cirurgia foi complicada por conta da criança, mas nada interferiu, nada de errado ocorreu no centro cirúrgico - abro um breve sorriso - E pode ficar tranquila, ela ainda vai ficar mais um mês dentro do forninho.

Solto a respiração que eu estava prendendo por minutos e levo a minha mão esquerda até a minha barriga com alguma dificuldade, passo meus dedos por toda a área, lágrimas começam a descer pelo meu rosto de tanta felicidade e amor.

Já é a segunda vez que ela escapa da morte junto comigo.

...

Estou tomando banho de cadeira de rodas, faz vinte minutos que eu estou debaixo do chuveiro, era para eu ter saído a muito tempo, mas eu pedi para a enfermeira me deixar aqui mais um pouco, eu queria ficar sozinha por alguns minutos ou segundos, queria ficar na minha pensando sobre tudo.

Eu quero ficar sozinha na minha, quero ficar apenas com a minha filha, e mais ninguém!

Eu descobri que não estou no mesmo hospital que Murilo, e isso me deixa um pouco aliviada, até porque se eu estivesse no mesmo hospital que ele, iríamos ter que ficar em quartos separados, e ele iria fazer o inferno até me mudarem ou mudarem ele de quarto, só pra ficar do meu lado.

Então eu imagino que se ele acordou, deve estar maluco atrás de mim ou querendo saber o porquê me transferiram.

- Luana, você tem que sair - a enfermeira bate na porta e eu fecho o chuveiro - Posso entrar?

Luana: Pode sim - digo pegando a minha toalha e ela entra com um sorriso simpático no rosto.

Ela começa a me ajudar, ela seca o meu cabelo e me ajuda a colocar a roupa que era a de hospital, já que eu ainda não tenho minhas roupas aqui e ninguém veio me ver.

Depois de já estar vestida, ela me tira de dentro do banheiro e me coloca em cima da maca, me cobrindo com o lençol branco, fecho meus olhos relaxando e ela avisa que já estavam trazendo o meu almoço. Ela fez mais alguns procedimentos ali dentro do quarto e logo saiu deixando a porta um pouco aberta.

Encosto a minha cabeça no travesseiro e fecho os meus olhos deixando mais algumas lágrimas caírem dos meus olhos, começo a negar com a cabeça e me repreendo por deixá-las caírem sem que eu queira.

Eu não quero chorar, não quero me submeter a isso, pois eu sei muito bem pra quem essas lágrimas são, e ele não merece nada disso, ele não merece o meu amor, nunca mereceu. Mas como eu deixo de amar ele? Como eu arrumo as minhas coisas e jogo cinco anos para o alto? Como?

Não tem como eu fazer isso, não tem como eu deixar de amar alguém que me tirou do fundo do poço, não tem como eu deixar alguém que me prometeu o mundo, que me prometeu sempre estar ali ao meu lado, para o que der e vier.

Murilo mexe com a minha mente, Murilo me deixa maluca em questão de amar ele.

Amar é deixar ir?

Para todas as minhas perguntas, eu não encontrei nenhuma resposta concreta e que me faça refletir realmente.

Lábios pequenos e macios tocam a maçã do meu rosto, abro meus olhos aos poucos e vejo o Riquelme ali, com brilho nos olhos e com um sorriso banguela.

Riquelme: Eu sabia que vocês iriam sobreviver - levo a minha mão até o seu rosto e aliso sua pele macia - Posso deitar com você?

Amanda: Não pode - ela diz rindo - Lua ainda está muito machucada.

Riquelme concordou e não insistiu mais, apenas começou a falar sobre o dente que caiu, dizendo que quem arrancou foi o pressão, com a linha amarrada na porta.

Luana: Como vocês me acharam? - pergunto e ela senta na beira da maca, sorrindo cínica.

Amanda: Você sabe que tem os passos na mão dele - ela diz e eu reviro os olhos - Então não foi difícil achar você - ela deu de ombros.

Luana: Vocês foram ver ele? - pergunto e ela confirma com a cabeça.

Amanda: Ele não parava de pedrinhas sobre você - nego com a cabeça - É sério, Elias disse que quando ele ficou sabendo que você foi transferida, ele quis bater na enfermeira.

Eu sabia que ele ia dar a louca, que ele iria ficar atrás de mim.

Mas dessa vez, talvez quem não fique louca atrás dele sou eu.

Depois de ter pegado a calcinha no bolso da calça dele e ele ter quase matado a nossa filha, minhas mãos foram lavadas.

Mas como eu disse: Como eu jogo cinco anos para o alto?

Não jogo!

Mas se for pra amar desse jeito, eu prefiro ficar sozinha.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora