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LUANA 🎢

Faz uma semana que tudo aconteceu, eu ainda estou no hospital por conta da cirurgia e tudo mais, Amanda já recebeu alta e não tem mais ninguém comigo no quarto, e nem pode, já que o Murilo aparece aqui junto com os meninos. Eu estou me sentindo bem, digo isso todos os dias para as enfermeiras, mas elas apenas anotam nas folhas delas e dão aqueles sorrisos leves, eu quero ir embora daqui logo, quero a minha casa, minha cama, meu sofá, meu banheiro, minha comida, quero todo, menos ficar aqui nesse hospital.

- Boa tarde, Luana - o doutor entra ali na sala com a sua assistente - Como está se sentindo?

Eu já estou cansada de responder a mesma pergunta todos os dias, já estou cansada de furar meu dedo pra medir minha glicose, não aguento mais.

Luana: Eu estou bem, muito bem - digo simpática e ele vem até mim começando a medir minha pressão, tá fazendo o que tem que fazer.

- Bom, tenho uma boa notícia para você - ele diz com um sorriso largo - Você já pode descobrir o sexo do bebê, nosso médico está ai hoje, quer descobrir?

Eu queria fazer isso com o Murilo, mas como eu estou sozinha hoje e eu estou muito ansiosa, irei fazer sozinha, e quando ele vier aqui eu digo.

...

Meus dedos estão inquietos, não paro de encarar o monitor que não tinha nada ali ainda, eu estava ficando maluca já.

Eu não tenho preferência de menino para menina, o que vier está bom, sendo gentil, bonito, calmo e que não chora muito, já está de bom tamanho.

- Bom, eu irei passar um gel na sua barriga, tudo bem? - o doutor pergunta e eu confirmo com a cabeça - Você vai sentir uma leve pressão na sua barriga, pouca coisa, e aqui nessa telinha irá aparecer o seu bebê.

Ele começou a manusear o aparelho na minha barriga, e logo pude ver a pequena criança ali dentro de mim, meus olhos embaraçam na hora, eu estava sentindo algo que nunca havia sentido antes, era algo inexplicável.

- Mamãe, é uma menina! - ele exclama e eu fecho os olhos deixando as lágrimas caírem, era algo bom de se sentir, algo bom, muito bom mesmo - Parabéns.

Eu não estava conseguindo formar uma frase, eu estava muito surpresa ainda, mas agradeci balançando a cabeça, minha ficha ainda não caiu, talvez caia assim que eu começar a sentir ela se mexendo dentro de mim.

....

Estou tensa, memórias vieram na minha mente com tudo, já são onze e quarenta da noite, e depois da ultrassom eu voltei para o quarto e dormi até acordar agora com vontade de vomitar.

Tudo o que eu já passei na minha vida, veio à tona, o jeito como minha mãe me tratava, eu nunca recebi um amor materno ou paterno, então talvez essa criança que eu irei colocar no mundo, não seja feliz, talvez ela sofra o que eu sofri ou pior. Não quero encher a minha cabeça com isso, eu quero ter a criança e quero dar o amor que eu não recebi, quero educar e dizer o quanto eu amo, mesmo essa palavra sendo difícil de sair da minha boca, eu quero fazer acontecer.

Eu pensei pra caralho, chorei até meu nariz entupir, mas depois de ter me acalmado acabei pegando no sono e dormi com a cabeça pesada e com o coração também.

Eu tenho que ser uma boa mãe pra essa criança, querendo ou não.

Acordei com um cheiro de perfume forte de homem, ferrari. Já abri meus olhos junto com um sorriso largo, Murilo estava ali no quarto comigo, dormindo no sofá igual um menino pequeno, sorri com aquilo e me levantei da maca com cuidado indo até o banheiro escovar os meus dentes e o meu rosto, minha perna ainda está feia, eu nem podia estar andando, mas não quero ficar deitada na cama com bafo e fendendo até eu sair daqui.

Volto para o quarto e vejo a enfermeira deixando o café ali na mesinha de canto, desejei um bom dia pra ela e voltei para a maca começado a comer minha comida. Eu precisava daquilo, tava ficando maluca já.

Pipa: Trouxe um salgado pra tu - me assustei com a voz dele que deu risada - Conta pra ninguém não.

Ele levanta do sofá e abre a mochila pegando o pacote marrom com o salgado dentro, e assim que eu abri vi que era uma coxinha e um kibe, minha boca encheu de água na hora eu já dei uma mordida bem generosa na cozinha, ofereci pro bonito que só negou e ficou me encarando comer, sem dizer uma palavra se quer.

Luana: Descobri o sexo do bebê - digo dando um gole no meu café com leite - Quer saber?

Pipa: Ta maluca, fala logo - se ajeita e eu limpo a boca me preparando pra falar.

Eu demorei alguns segundos, quis fazer um suspense mas ele já estava ficando puto comigo, então soltei logo de uma vez:

Luana: É menina - ele coloca a mão na cabeça negando, fingindo choro - Qual foi cara, uma menina, pra ser o terror dentro de casa.

Pipa: Tu tá maluca - ele começa a limpar as lágrimas invisíveis - Filha mulher dá trabalho demais, mas esse aí vai ser minha parceira, vai rodar a favela comigo.

E ali eu gargalhei alto, muito alto mesmo.

Murilo começou a falar sobre ela ser dona da favela, sobre ela andar com ele em todos os lugares, já quer decorar o quarto da Mine, quer fazer tudo logo, e eu fiquei feliz em escutar isso tudo vindo dele, mas ao mesmo tempo fiquei assustada sobre ela realmente querer comandar tudo futuramente, e eu não quero isso, acho que nenhuma mãe quer isso para seus filhos, mas quando ela já estiver de maior, a decisão não vai ser minha, e sim dela, então não vou ter muito o que fazer a não ser aconselhar como toda mãe faz.

Luana: Tu sabe, né? - ele naga com a cabeça e eu jogo o meu cabelo me gabando - Ela vai vim a minha cara, anota ai.

Pipa: Ela sim, mas os outros filhos que eu vou meter em você, não - fecho a cara na hora.

Eu nem pari e o cara já está pensando em ter outros? Tô muito maluca mesmo.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora