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PIPA 🪁

Estou no quarto há algum tempo já, eu também já estou podendo receber visitas, mas ninguém veio me ver ainda, mas isso nem está me importando já que eu quero ver a Luana, eu quero saber como ela está.

Pressão: O que você arrumou, patrão? - escuto a voz dele e levanto a cabeça, vendo ele, Amanda e Riquelme.

Neguei com a cabeça e ele veio até mim fazendo o toque comigo.

Pipa: O carro capotou - digo e ele só me encara desconfiado - Só isso, nada demais.

Amanda: E cadê a Luana? - sua voz ecoa pelo quarto - Vocês estão em quartos diferentes?

Pipa: Não, ela está em cirurgia ainda - respondo já pensando na possibilidade de ficar longe dela.

Luana não pode ficar em outro quarto não, eu não sei a maldade desse povo, não sei se eles vão ficar de olho nela o tempo inteiro, então eu quero que ela fique no mesmo quarto que eu, quero que ela fique ao meu lado.

Riquelme ficou calado o tempo inteiro, desde da hora em que chegou aqui ele ficou na dele, calado. Parecia até que ele sabia de algo, mas mesmo assim ele não falou ou me perguntou nada, apenas ficou ali sentado, jogando algum jogo qualquer no celular.

...

Já são nove e meia da noite, eu mandei Riquelme ir embora com a Amanda, pressão foi e voltou, agora está aqui comigo. Luana ainda não apareceu, e eu não recebi notícias dela, o coração dentro do peito já começa a ficar maluco.

- Boa noite, Murilo - a enfermeira entra ali no quarto e eu só balanço a cabeça - Como está se sentindo?

Pipa: Cadê a minha mulher? - pergunto sério, enquanto ela começa a medir minha pressão, mas ela não me respondeu nada - Cadê ela, porra!

A enfermeira me encarou feio e continuou calada, meu punho direito já estava no jeito pra meter o murro na cara dela.

- Ela foi transferida - ela diz furando o meu dedo, pra medir alguma coisa - O estado dela é grave, e o hospital não tem os equipamentos certos.

Porra!

Luana transferida?

Pipa: E porque ninguém me avisou?! - começo a me alterar e ela continua séria, ainda me encarando - Porra!

- Olha aqui, eu não sou obrigada a ficar ouvindo você me xingando, eu não sou obrigada a ficar aqui te dando informações - ela joga os algodão no lixo - Então para de ficar dando um de bravinho, eu hein.

Meu sangue já estava na cabeça, quando eu fui dar o murro nela, pressão segurou minha mão e negou com a cabeça. Eu olhava pra ela com sangue nos olhos, e olhava pra ele também, tentando entender o porquê dele ter me segurado.

- Boa noite, qualquer coisa útil, me chama - ela diz e sai do quarto.

Pressão me solta e eu começo a socar o colchão.

Eu estou puto, estou puto por ninguém ter me falado que ela foi transferida, estou puto por que eu não recebi nenhuma notícia além de que ela estava na sala de cirurgia e que era um processo complicado.

Pressão: Não adianta você descontar sua raiva nela - ele estala a língua negando com a cabeça - Eu vou tentar descobrir qual é o hospital que ela tá, mas se acalma ai irmão.

Eu nem respondi nada pra não ser mal educado, então eu só virei pro lado da parede e fechei os olhos, não demorou muito e eu peguei no sono.

....

Tô escutando barulho de choro de longe, vou abrindo meus olhos aos poucos e vejo Riquelme e Amanda chorando sentados no sofá de couro. Enrugo a testa e olho para o Pressão do meu lado, encarando tudo com atenção, ele estava aflito com alguma coisa.

Pipa: Que porra tá acontecendo? Por que eles estão chorando? - pergunto mas ele não me responde.

Começo a me mexer na maca mas não consigo muito, estico o meu braço pra tocar no pressão mas minha mão passa em vão no corpo dele. Arregalo os meus olhos já assustado com tudo isso.

Pipa: Pressão! - grito ele, mas não recebo nenhuma resposta - Olha pra mim, caralho!

Ninguém ali me respondia, minha garganta já estava doendo de tanto gritar, eu já estava ficando sem forças e desistindo de chamar eles.

Luana: Para de gritar - escuto a sua voz vindo de longe e já começo a procurar ela - Você não quer acordar a nossa filha, quer?

Começo a olhar ao redor mas não acho nada, não a vejo em lugar algum.

Pipa: Cadê vocês? - pergunto já com os olhos marejados - Deixa eu ver a minha filha.

Começo a escutar a risada dela, e meu coração começa a disparar.

Luana: Não, você não vai ver ela - sua voz agora está perto de mim - Você não vai tocar nela, você não vai me tocar - suas unhas passam pelo meu braço - Quando você jurou que iria me matar, você não pensou na nossa filha, prensou? - eu não consegui responder nada pra ela - Pois é, então não tem o porquê de você ver o rosto dela, não tem o porquê de você me ver.

Tem sim, eu tenho que ver vocês, eu tenho que te encarar nos olhos, te beijar, te amar. Pegar minha filha no colo, balançar ela, fazer ela dormir, eu preciso disso, eu preciso ver vocês!

Pipa: Por favor, Luana - as lágrimas já estão caindo pelo rosto - Deixa eu ver vocês, eu te amo!

Luana não me respondeu mais ainda, mas apenas apareceu na minha frente, toda de branco, com seu rosto todo deformado, com seus braços machucados carregando uma criança no colo, a mãozinha da bebê estava pendurada pingando sangue, a barriga de Luana tinha um buraco enorme, o umbigo umbilical estava pendurado entre suas pernas.

A cena que eu estava vendo era dos internos, Luana estava medonha assim como a minha filha estava, eu não podia ver seu rosto, apenas sua pequena mão banhada no sangue.

Luana: Já que você não fez, a vida fez - ela diz a frase do meu pai e eu me arrepio por completo - Nós estamos mortas, meu amor...

Ela abre um sorriso e eu começo a gritar, começo a tentar sair de cima dessa maca e ir até ela.

...

Pressão: Enfermeira! - o grito dele entra nos meus ouvidos - Ele está convulsionando!

Luana não pode ter morrido, Luana não pode ter me deixado sozinho nesse mundo, sem ela eu não sou nada.

- Para trás - escuto vozes falando isso e minha roupa é rasgada.

Luana não pode morrer.

- No três - dois pares de ferros são colocados no meu peito - Um, dois, três!

Antes eu do que ela!

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora