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PIPA 🪁

Riquelme tava me encarando assustado ainda, minha arma estava ali, destrava em cima da minha perna. Eu não vou atirar nele, isso também vai depender do que ele vai me falar, afinal, ninguém passa batido na minha mão.

Pipa: Bora Riquelme, abre a porra da boca - peço mais uma vez e ele se arruma ali no sofá, todo se tremendo - Vou na cozinha pega um copo de água, é tempo de você já preparar a língua pra começar a falar tudo - aponto meu dedo pra ele - E ó, nem pense em fugir, os cara do lado de fora então ciente do que fazer já.

Mentira, os cara de fora não sabem o que fazer, eu não disse nada, apenas entrei na minha casa e comecei a forçar o moleque.

Levanto do sofá e vou pra cozinha com a minha arma na mão, abro a geladeira e pego uma garrafa de água, bebendo no bico mesmo.

Riquelme: Eu fui enganado - ele entra ali na cozinha falando - Fiquei maluco quando minha mãe disse que tinha pedido dinheiro pro verme, fiquei cego, meu pai trabalhava como servente do seu Zé, mas não era muito, e minha mãe tá a indo a loucura com as conta de água atrasada e com a mesa vazia - olho para ele que olhava pro chão - Quando ele começou a cobrar ela, fiquei em pânico, meu pai começou  trabalhar em dobro mas o dinheiro não era muito, não era o suficiente, então pra quitar a dívida, ele me ofereceu um trabalho, disse que eu iria me dar bem e que nada iria acontecer com a minha família, mas era tudo mentira. O desgraçado matou meus pais só por que eu não quis fazer um corre pra ele, então pra me punir fez isso, moro?

Ele ainda não estava me encarando nos olhos, e isso tava me deixando maluco já.

Riquelme: E fora eu, tinha mais dois moleques trabalhando comigo - ele me encara - Quando comecei trabalhar com os dois moleques, fui mais esperto, quando era pra passar informações ou levar carga daqui pra aliança, eu mandava um deles, e pagava com a minha comida ou com o que eu recebia, mas não durou muito tempo já que eles não aguentavam a pressão de ir e vim correndo risco de ser pego, tá ligado? - passa a mão no rosto - Então pediram pra sair, mas o que receberam foi a morte, ele não mata na bala não, ele mata na faca, com a faca cega, só pra fazer a gente sofrer mais, eu vi meus pais morrendo assim, com uma faca de serra no pescoço, uma faca cega.

A voz do Riquelme tava ficando mole, mas ele tava com a postura, tava me contando cada bagulho sem gaguejar.

Riquelme: Eu ainda trabalho pra ele, quer dizer, ele acha que eu trabalho pra ele, já que eu mando gente no meu lugar, eu não sou burro, não quero quebrar a confiança de onde nasci, mas também não queria ficar sem dinheiro, podia muito bem começar a catar latinha ou vender papelão, mas o bolo de cem e cinquenta na mão dele me chamava atenção, e eu nem recebia metade do malote dele - diz  rindo, mas diz como um adulto na minha frente - Mas também quando eu cansei de tudo, pedi pra sair disso, mas ele riu da minha cara e me chamou de maluco e os caralho a quatro, me bateu pra caralho, mas eu também lutei, lutei apanhando, e foi aí eu vi a Luana e pedi ajuda pra ela, vim parar aqui e agora tô aqui, naquele dia, quando teve aquele negócio, eu ia contar tudo pra Luna. Mas ele escutou tudo e me chamou pra dar uma volta, eu senti que iria morrer, mas Luna me salvou entrando na frente, e foi ali que ele beijou ela a força e eu te gritei, naquele dia eu achei que iria morrer junto com ela, aqueles socos que ele me deu na sua frente, foi conta do negócio na cozinha.

Eu fiquei escutando tudo com atenção, meu sangue tava fervendo já, minhas mãos tava formigando pra dar o tiro em alguém, eu estava ficando cego, meu próprio irmão, peito do meu peito, da lama fez isso comigo.

Riquelme: Se você sair perguntando pro povo como ele é, todos vão te falar, vão pintar e bordar dele pra você - ele vem até mim - Eu não menti em nada, se você não quiser acreditar - ele começa a tirar a guia dele - Tiro até meu tranca, o que me segura vai passar a ser seu, e eu vou morrer aqui na sua frente, mas vou morrer falando a verdade, mas uma coisa é certa, o peixe sempre morre pela boca.

Riquelme tava com os olhos dentro dos meus, eu sentia verdade vindo dele, mas não podia confiar, mesmo todo mundo me falando do peixe, eu não...

Riquelme: Eu tô sendo sincero contigo, sempre fui e sempre vou ser - ele abre os braços deixando as lágrimas caírem- Sou muito grato por ter ficado aqui na sua casa, sou grato por você ter me ensinado jogar videogame e ter me dado comida.

Porra!

Esse moleque é foda, ele tá aqui na minha frente parado, pronto pra receber um tiro no meio da cara.

Pipa: Coloca sua proteção - digo passando a mão na cabeça dele - Se liga moleque, tu é da minha família agora, e pode ter certeza, o peixe vai morrer pela boca.

O pivete me abraçou forte, chorando e pedindo obrigado.

Eu vou pegar o peixe, mas vou pegar no sapatinho, quero deixar ele achar que eu não sei de nada, já vou marcar uma reunião com os moleque e vou avisar todos, quero todos de cara limpa, como se nada tá acontecendo, quero que eles fiquem de olho pra mim, quero agir na cautela, moro? Eu vou pegar esse filho da puta, se ele fez isso comigo, vai fazer com qualquer outro, mas eu tô pouco me fodendo, por que o pior nem é esse, é ele estar lá com a minha mulher, nem sei se é verdade ainda, não sei se consta que ele tá lá, mas eu vou pegar, vou maltratar e não vai ser pouco.

- Qualé patrão, minha irmã tem notícias - ouço a voz vindo da sala e saio do abraço indo até lá, vendo a menina toda de preto e o meu moleque com o fuzil nas costas - Fala ai, mostra tudo pra ele.

Mandei ela deixar as coisas ali na mesa de centro e me mostrar tudo, e ali eu vi o local, e não iria ser fácil chegar até lá, mas pela minha mulher eu vou.

Eu vou ir até o inferno por ela.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora