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LUANA 🎢

Eu estou trabalhando de cabeça quente, eu me segurei o dia inteiro pra não chorar e responder as pessoas com má vontade, algumas meninas repararam isso, principalmente Amanda que ficou me encarando o dia todo, ela não perguntou nada além do "tudo bem", mas dava pra ver na cara dela que ela desconfiava de algo.

O dia passou rápido, e eu queria que passasse o mais lento possível, mas infelizmente passou rápido e já são quase dez da noite. O salão está fechado a horas, eu ainda não fui embora, Amanda já deve estar em casa a muito tempo. Meu celular está cheio de ligações do Riquelme e do Murilo, principalmente dele querendo saber onde eu estou, mas eu não respondi nenhum dos dois, se eu pegasse no celular pra mandar alguma mensagem eu iria ser grossa e iria mandar todo mundo ir tomar no cu e ir pra casa do caralho, mesmo um deles não tendo culpa, ele iria sofrer do mesmo jeito, então eu prefiro não responder mensagem nenhuma.

- Vai querer mais alguma coisa? - a senhora da banca do milho me pergunta e eu nego com a cabeça.

Luana: Não, muito obrigada - abro um sorriso muito falso - Vai ser no débito, aproximação.

Eu estou na orla da praia comprando um milho, a praia está bastante movimentada, vários turistas nos barzinhos de frente ao mar, alguns quiosques ainda estão abertos, mesmo sendo quase onze da noite.

Faço o pagamento e começo a andar comendo o meu milho, no caminho eu encontrava vários casais de senhores, pessoas passeando com seus cachorros, crianças brincando na rua.

Uma coisa que sempre falam, a energia do asfalto nunca vai ser igual a energia da favela, isso nem se compara. O sorriso no rosto das crianças do asfalto é totalmente diferente das crianças da favela, as que nascem sem celular, vivem na rua soltando pipa e ralando a tampa do dedo no futebol, é bom de se ver, é bom ver que além de todas as dificuldades da vida, o sorriso está sempre ali, estampado para todos verem.

- Opa, foi mal - um homem que estava correndo sem camisa esbarra em mim, deixando meu milho cair no chão - Eu te compro outro.

Ainda olhando para o milho todo espalhado no chão, respiro fundo fechando os olhos e contando até três. Volto a abrir meus olhos e encaro o homem na minha frente, vendo ele todo suado, com seus fones no ouvido, o suporte de celular no braço, também me encarando ainda esperando uma resposta minha.

Luana: Não, de boa - nego com a cabeça e começou a andar, desviando o meu caminho do dele, mas o homem pegou no meu braço ficando na minha frente outra vez.

- Sério mesmo? - sua voz agora é suave, seu toque em meu braço é suave - Eu posso pagar em espécie, eu vi como você ficou triste em ver o milho no chão - solto uma risada abafada negando com a cabeça.

Eu realmente fiquei triste pelo milho, pô, tava comendo com vontade, tinha acabado de comprar e o homem vem e esbarra derrubando tudo? Fiquei puta pra caralho.

Luana: Moço, tá tudo bem mesmo - saio do agarre dele e ele só balança a cabeça.

Volto a seguir o meu caminho cruzando os braços acima da barriga e solto uma respiração pesada, já querendo ir embora, já querendo chegar em casa e não encontrar o Murilo na minha frente.

- Desculpa, mas eu não vou conseguir aceitar que você não ficou brava - mais uma vez o homem de antes chega do meu lado acompanhando minha caminhada - Lucas, e você?

Sério mesmo?

Luana: Gisele - minto na cara dura, eu não sou maluca de dar o meu nome assim pra um desconhecido.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora