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LUANA 🎢

Murilo acha que me engana, ele acha que se ficar inventando histórias só pra acobertar as palhaçadas dele, eu vou cair. Mas eu não caio não, conheço o homem que eu tenho dentro de casa, conheço a peça, dessa vida rasa dele, várias coisas atrai o olhar do homem. Droga, arma, ouro, putas e dinheiro.

Eu me envolvi com o Murilo já sabendo de tudo isso, me envolvi com ele já sabendo que ele era o dono de tudo e que a qualquer minuto chove uma piranha diferente na frente dele.

Na minha frente, ele não faz nada, mas pelas costas, eu já não sei. Eu odeio ter que ficar na desconfiança com ele, odeio ter que estragar minha tarde por conta de ciúmes bobo meu.

Mas porra, a mulher foi no meu salão, fez questão de mostrar a porra do cartão e da tatuagem na virilha dela. Ta, pra ele ela pode ser passado, mas pra ela não!

E isso já está me desgastando, papo dez mesmo.

O chá de bebê acabou faz tempo, agora estamos aqui queimando a bagunça, quer dizer, eu e Amanda estamos aqui arrumando tudo enquanto ele está na boca resolvendo coisas pendentes com os irmãos aliados, Riquelme eu mandei ir pra rua brincar, estou com a cabeça muito cheia e não quero descontar em alguém que nem merece isso, sabe?

Às vezes eu paro e penso:

"E se eu voltasse à minha vida antiga? E se eu não tivesse me envolvido com o Murilo?"

Amar alguém não é fácil não, ainda mais alguém que nasceu dentro do crime.

Quando você tem a mente fodida e encontra alguém mais fodido que você, tudo fica mais difícil, a confiança, o medo, o prazer. Tudo, amar alguém é um bicho de sete cabeça, talvez nem seja, mas para mim isso ainda é muito novo, é muito novo eu me ver grávida, é muito novo eu ter uma amiga, uma parceira de trabalho onde eu posso compartilhar coisas pessoais sem me preocupar com nada.

É muito difícil se acostumar com tudo isso depois de ter vivido um inferno a metade da minha vida.

Eu posso amanhecer morta amanhã, posso morrer hoje, posso ter uma recaída nas drogas, posso dar a louca e meter bala em todo mundo.

Eu ainda me sinto perdida, me sinto perdida dentro de mim mesma, no meio do meu povo.

Eu ainda não me sinto completa, ainda não me sinto inteira como deveria me sentir.

Eu amo o Murilo, mas amar ele é muito dolorido, amar alguém na base da desconfiança é um peso e tanto. Isso é horrível, tudo isso que passa na minha cabeça é horrível.

Amanda: Eu realmente acho que o nosso relacionamento vai pra frente - ela começa a falar, e eu começo a prestar atenção - Mas não sei, Elias é muito fechado, ele tem medo de se abrir e de se soltar comigo.

Elias?

Luana: Quem é Elias? - franzo o cenho - E o pressão? Desistiu dele?

Amanda: Lua, ele é o Elias - ela me olha e eu levanto as sobrancelhas surpresa - Pois é, também fiquei surpresa, mas isso é tudo o que eu sei fora a idade dele.

Eu realmente torço para os dois ficarem juntos, eu realmente acho os dois bonitos juntos. Mesmo tendo visto eles juntos somente duas ou três vezes, eu acho que eles combinam.

Luana: Vocês ainda estão se comendo - digo recolhendo o lixo na pá - Com o tempo ele começa a se abrir, eu ainda estou nessa, depois de cinco anos eu ainda não me abri por inteiro com o Murilo.

Amanda: Isso é maluco pra mim, em poucos encontros nossos eu já me abri por completo - ela passa a mão na barriga - Eu já deveria estar acostumada com esse jeito dele, todos os caras que eu me relacionei, principalmente o último era desse jeito - sua respiração é solta com um suspiro pesado - Mas com ele é diferente, eu sinto que preciso saber de algo, sinto que ele pode me ajudar e eu posso ajudar ele. Mas não tem como, já que a mente e o coração dele é fechado.

As palavras de Amanda continham decepção, medo, angústia e muita paixão. Ela realmente estava apaixonada.

Luana: E naquele dia do pagode? Que ele te tirou da quadra - ela solta uma risada sarcástica.

Amanda: Disse que eu estava muito bêbada, e que estava chamando muito atenção dos homens ali em volta - levanta dali voltando a trabalhar - Disse que eu estava passando vergonha.

Quando eu dei por mim, Amanda já estava com os olhos marejados, com algumas lágrimas caindo dos olhos, escorrendo pelas maçãs do rosto dela.

Luana: Não fica assim não - vou até ela que apenas me encara com os olhos vermelhos - Você não merece isso, não merece ter que ficar ouvindo desaforos de homem trancado - passo a mão no rosto dela, colocando um cacho atrás da orelha - Se ele quer se fechar, deixa ele fechado, mas se ele quer ser escroto, manda ele ser escroto em outro lugar - ela apenas balança a cabeça - Me entendeu?

Amanda: Eu tenho dedo podre pra homem - ela abre um pequeno sorriso - Todos são péssimos, todos me tratam como um lixo, e todos eles foram envolvidos - passa a mão no rosto - Talvez o homem da minha vida seja esse que eu estou carregando.

Amanda passa a mão na barriga outra vez e as lágrimas caem de seu rosto sem parar.

Sem ter reação alguma eu aconchego a mesma em um abraço de lado, deito sua cabeça no meu peito e coloco a minha em cima da dela, levo meu olhar até a escada da laje e vejo o pressão ali, com o fuzil nas costas e com um cigarro atrás da orelha.

Ele estava aqui a tempos.

Quando eu ia falar alguma coisa, ele descorou da parede e deu as costas descendo o resto de degrau que faltava, fechei meus olhos alisando a cabeça da Amanda e beijei a área.

O amor machuca, esse sentimento dentro do peito arranha as paredes de carne.

Amar é doloroso.

MalucosOnde histórias criam vida. Descubra agora