CAPÍTULO 16

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MARIANA

Ontem à noite novamente eu estava conversando com o Calleri, e fiquei surpresa quando ele me chamou para tomar um sorvete. A princípio eu achei que era só o Pietro, mas ele deixou bem claro: "nós três".

Fiquei tão sem reação que antes de respondê-lo, mandei mensagem para Tereza pedindo socorro. Não sei porquê, se eu já sabia que a resposta dela seria sim. Ela diria para eu aceitar, e de fato foi o que aconteceu.

Estava tudo combinado para sábado à tarde, mas eu só ia dizer ao Pietro no próprio sábado, pois ele estava empolgado com um evento que ia ter na escola na sexta. Inclusive me perguntando que prato ele ia levar, tinha que ser um prato que representasse uma região.

Eu escolhi levar vatapá, era mais prático e simples de fazer e representava a terra onde a gente nasceu e cresceu. Era uma forma de matar a saudade dos meus pais, minha mãe sempre faz vatapá, e eu aprendi com ela.

DIAS DEPOIS...

Hoje é o dia do evento na escola do Pietro, eu tinha pedido uma folga a Tereza pra poder acompanhá-lo. Ele ficaria muito triste se eu não fosse, pois ele só tem a mim e a Luiza, mas, hoje o mais correto seria eu acompanhar.

De manhã cedo eu o arrumei, peguei a vasilha do vatapá e tudo que eu tinha comprado para a degustação, e coloquei no banco de trás do carro.
Coloquei o Pietro na cadeirinha e a gente foi para a escola.

- Mamãe, você acha que eles vão gostar? - ele faz a primeira pergunta das várias que faria durante o dia.

- Sim, meu amor. Eles vão amar. - eu respondo.

Depois de alguns minutos no trânsito, chegamos na escola dele.

Cumprimentei o porteiro e a gente entrou. Tinha uma movimentação muito grande de pais e alunos nos corredores.

Encontrei com a professora dele e ela estava orientando os pais sobre onde colocar as comidas típicas. Aproveitei o tempo para conversar com a mãe dos coleguinhas.

Quase todas as crianças estavam acompanhadas do pai e da mãe e isso mexeu comigo. Pietro nunca vai saber o que é ter os pais presentes em um momento importante da vida dele.

Tentei não pensar nisso puxando assunto com a mãe de um coleguinha dele.

- O Lipe fala muito no Pietro lá em casa. - a mãe do coleguinha diz.

- Pietro também. Sempre chega contando histórias. - eu falo.

- Acho que os dois se dão bem. - ela diz com um sorriso singelo.

- Sim, dá pra ver a felicidade deles dois juntos. - eu falo apontando na direção deles dois.

A diretora da escola faz a abertura do evento, explicando qual é a intenção e pede que os familiares prestigiem as crianças, foi um trabalho que eles se dedicaram bastante e por isso merecem reconhecimento.

O evento é um sucesso, todos os pais se empenharam bastante. Tinham várias exposições, comidas típicas, danças, música, era praticamente um festival da cultura brasileira.

Aproveitei e tirei várias fotos dele. A empolgação era tanta, ele só falava nesse evento durante a semana.

Quando já estava quase no fim, enquanto eu arrumava tudo para irmos embora, Pietro chega chorando.

- O que foi, meu amor? Você caiu? - pergunto, pegando ele no colo.

- Não, mamãe. - ele fala soluçando.

- E o que aconteceu? Alguém fez alguma coisa com você? - pergunto.

- Estou triste. - ele diz secando as lágrimas.

- Por quê? - pergunto.

- A gente estava brincando e um colega disse que eu só venho com você e que só a minha tia vem me buscar. Eu não tenho pai, porque meu pai nunca vem na escola. - ele fala.

Nesse momento é difícil dizer alguma coisa porque o Pietro é só uma criança. Mesmo eu sabendo que pra ele é melhor não ter o genitor dele como pai, não posso querer que uma criança de três anos entenda isso. Ele está começando a sentir essa falta da presença paterna por conta da escola.

- Meu amor, mas o importante é que sempre tem eu e sua tia pra te buscar. Não seria pior se não tivesse? - tento fazer com que ele veja o lado positivo das coisas.

- Mas eu queria que outra pessoa viesse me buscar algum dia. Pra meus amiguinhos verem que eu também tenho família. - ele diz.

Eu queria muito chorar, mas me segurei. Ia chamar muita atenção nós dois chorando na escola.

- Quando o vovô vier, ele vem te buscar todos os dias. - eu falo.

- Agora vamos pra casa?! - falo colocando-o no chão.

Entramos no carro, ele estava bem triste. Pensei em dizer que amanhã íamos tomar sorvete com o Calleri, mas não quero usar o jogador para fazer meu filho se sentir melhor, pois não vai ser sempre que eu terei essa válvula de escape, digamos assim.

De tanto chorar ele acabou dormindo na cadeirinha, eu como mãe, queria tirar toda a dor que ele estava sentindo, tudo que eu fiz nesses três anos foi evitar que ele sofresse com essa ausência, mas mesmo me esforçando muito, o fato de ver acontecer com outros garotinhos, está mexendo com ele.

Quando chegamos em casa, eu tirei ele da cadeirinha e subir com ele no colo para não acordá-lo. Coloquei ele na cama com farda e tudo, tirei só os sapatos. Naquele momento estava dando graças a Deus por ele ter dormido e rezando para que, quando ele acordasse, esquecesse tudo que passou.

Resolvi postar uma foto das milhares que tinha tirado dele.

"Meu pequeno representando a culinária do nosso estado. Viva a Bahia."

Mandei as fotos também para os meus pais. Eles são avós muito presentes, apesar da distância, todos os dias perguntam como estamos, nós sentimos muitas falta deles, principalmente em momentos como esse.

De tardezinha, quando ele acordou, dei banho nele e fiz um lanche para ele comer.

Percebi que ele ainda estava triste, pois mostrei a mensagem do vovô e ele não deu muita ousadia. Ele e meu pai são apegados, para ele reagir assim é porque ainda estava pensando no acontecido da escola.

O Calleri tinha respondido ao meu stories com a foto dele, dizendo: "menino lindo".

O "menino lindo" hoje estava muito triste, tão triste que eu não sei nem se soubesse que ia sair com o Calleri mudaria alguma coisa.

Como ainda não tinha anoitecido, eu o chamei para andar de bicicleta e ele topou. Desci com a bicicleta e os itens de segurança.

- Deixa mamãe colocar o capacete. - falo assim que a gente chega na rua.

- Meu amor, não fique triste. - falo notando a permanência da tristeza.

- Tá bom, mamãe. - ele diz saindo com a bicicleta.

Hoje nada estava dando jeito na tristeza do meu filho. A bicicleta que ele tanto gosta logo ficou esquecida.

- Não quero mais andar. - ele diz.

- Tudo bem, vamos pra casa. - eu falo.

Ele não quis saber de TV, nem dos joguinhos e também não me pediu para contar histórias pra ele. Pensei em ter uma conversa com ele, mas ele queria dormir e eu respeitei.

Como mãe, fiquei arrasada em ver meu filho tão triste. Ele é um garoto tão alegre, tão extrovertido, esse desânimo não combina com ele.
Me doeu tanto que eu chorei, mas eu precisava fazer alguma coisa pelo meu filho, talvez esteja na hora dele ter um acompanhamento psicológico, para aprender a lidar com essas coisas.

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Gracias por lerem até aqui!

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UM CERTO ALGUÉM - Jonathan Calleri Onde histórias criam vida. Descubra agora